Disco: “In The Grace Of Your Love”, The Rapture

/ Por: Cleber Facchi 20/08/2011

The Rapture
Indie/Electronic/Dance
http://therapturemusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Quão profundo é o seu amor? Foi ao fazer esta pergunta em junho de 2011 que o The Rapture encerrava um silêncio de cinco anos desde que Pieces of the People We Love, último disco da banda fora lançado em setembro de 2006. Pianos enlouquecidos, saxofones tocados de maneira a hipnotizar o ouvinte, batidas típicas da House Music dos anos 90, um toque de dance punk que a banda traz desde seu primeiro álbum e a voz de peculiar de Luke Jenner perguntando desesperadamente “quão profundo é o seu amor?”. Com todos estes elementos os nova-iorquinos marcavam não apenas seu retorno, como anunciavam que algo no mínimo surpreendente estava por chegar.

Enquanto hoje se fala sobre a retomada da Acid House e de todos os aspectos da música eletrônica que permearam a década de 1990, em idos de 2003 o The Rapture – quando ainda era formado pelo quarteto Luke Jenner, Vito Roccoforte, Gabriel Andruzzi e Matt Safer (que deixou o grupo 2009) – foi um dos primeiros a trazer de volta as mesmas tendências musicais que hoje estranhamente soam como novas, quebrando os limites de outras bandas que pareciam encontrar todas suas referências no clássico Entertainment! Do Gang of Four. Enquanto o mundo esperava por alguma novidade vinda de território britânico eram os nova-iorquinos e seu Echoes que tinham todas as respostas, e inclusive algumas previsões.

A forma anárquica e incrivelmente dançante como a banda arremessava músicas do porte de The Coming Of Spring e I Need Your Love, agradavam em mesmo nível tanto os interessados pelas temáticas eletrônicas como por aqueles em busca de um som cravejado de guitarras, isso sem contar naquele que é um dos maiores clássicos recentes das pistas de dança, o arrasa-quarteirões House Of Jealous Lovers. Com pouco mais de cinco minutos de duração, a faixa parece convergir um sem número de referências dentro de suas texturas instrumentais, se transformando em uma composição caótica, anfetaminada, suja e ao mesmo tempo festiva.

Veio, porém, em 2006 o brando segundo álbum da banda, trabalho que posicionava o The Rapture em contornos mais límpidos, comerciais e agradáveis ao grande público, reflexo da troca de gravadora – a banda deixou a DFA para trabalhar com a Motown. Um álbum conciso, mas que em nada se assemelhava ao registro que o precede. Estranhamente In The Grace Of Your Love (2011,DFA/Modular) terceiro registro da banda parece continuar exatamente de onde o grupo parou em 2006, como se os segundos finais de Live In Sunshine se conectassem de forma precisa com Sail Away, faixa que abre o novo trabalho dos nova-iorquinos, e canção que materializava a seguinte pergunta: estaria o The Rapture pronto para repetir os mesmos erros de seu anterior álbum?

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Como a banda já havia revelado em seu primeiro single a resposta era obvia, um sonoro “não”. Em seu terceiro disco o grupo retorna não apenas à antiga casa, a DFA Records, como traz de volta o mesmo espírito, doses de anarquia e a intensidade que inundou seu primeiro álbum, completando todas suas lacunas com a polidez instrumental de Pieces of the People We Love (o que obviamente havia de mais satisfatório no razoável disco). Como resultado temos um trabalho que segue límpido, dançante e muito próximo da perfeição em todas as 11 canções que se abrigam em seu interior, um álbum que flui dinâmico desde seus primeiros minutos aos últimos segundos.

Por mais que How Deep Is Your Love? ainda se mantenha como a melhor e mais completa composição do disco (sem dúvidas a “Blind” de 2011), por todos os lados brotam faixas capazes de manter o mesmo nível da poderosa criação do The Rapture. Há desde faixas essencialmente comerciais e pop como Children (que deve sair do álbum diretamente para as pistas), canções que se voltam integralmente ao primeiro disco (Roller Coaster e Sail Away), até faixas aos moldes de Come Back To Me e In The Grace Of Your Love (uma das melhores do álbum), que jogam o trio diretamente no atual panorama da Nu-Disco. Até mesmo a baladinha It Takes Time To Be A Man, no fecho do álbum se mantém coerente com o registro, lembrando muito Open Up Your Heart do debut do grupo.

Apesar de que muito do que se manifeste dentro do disco pareça vir diretamente dos dois primeiros álbuns da banda – o que obviamente traz de volta a influência de grupos como Gang Of Four e toda a cena eletrônica de Chicago dos anos 80 e 90 -, uma nova carga de inspiração, principalmente vinda de território britânico se instala no decorrer do álbum. Torna-se inevitável ouvir a faixa que dá nome ao disco ou músicas como Come Back To Me sem de alguma forma recordar os memoráveis Pills ‘n’ Thrills and Bellyaches do Happy Mondays ou Screamadelica do Primal Scream, dois registros que parecem ecoar em cada segundo do recente trabalho do grupo.

Embora surja de um esforço conjunto dos três integrantes que assumem a banda, In The Grace Of Your Love se destaca pela produção mais do que coerente da dupla de produtores Philippe Zdar e Boom Bass, que juntos atuam à frente do projeto de eletrônica Cassius. O Duo que trabalhou na produção de discos como Bright Like Neon Love do Cut Copy e o insuperável Wolfgang Amadeus Phoenix do Phoenix surge para amarrar todas as pontas do novo registro dos nova-iorquinos, resultando em um dos discos mais maduros e completos do ano. Defintivamente, os cinco anos de “férias” fizeram mais do que bem ao The Rapture.

 

In The Grace Of Your Love (2011, DFA/Modular)

 

Nota: 9.5
Para quem gosta de: LCD Soundsystem, Hercules and Love Affair e Friendly Fires
Ouça: Children e How Deep Is Your Love?

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.