Disco: “Indicud”, Kid Cudi

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2013

Kid Cudi
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.kidcudi.com/

 

Por: Cleber Facchi

Kid Cudi

Desde o começo de carreira Kid Cudi foi encarado como uma promessa automática dentro do rap norte-americano. Discípulo confesso de Kanye West e interessado na relação amigável entre o Hip-Hop e o Pop, o rapper fez dos dois primeiros álbuns uma manifestação autobigráfica sobre abusos com as drogas, festas, melancolias e principalmente aspectos dolorosos da solidão. Faixas imersas em um contexto noturno e diluídas em instantes dicotômicos de calma e exaltação constante, proposta que naturalmente dividiu as opiniões em torno do trabalho do artista. Talvez por isso, ao alcançar o terceiro registro em estúdio, Indicud (2013, Republic), o rapper traga novamente na expectativa o principal instrumento de sustento e erro para a obra.

Intervalo antes do bloco final que conclui a trilogia Man on the Moon (prevista para ser encerrada em 2014), o novo disco até se projeta de forma a romper com a atmosfera chapada dos projetos anteriores, entretanto, parece longe de alcançar tal feito. Com base nas rimas e na forma como as batidas se sustentam no decorrer da obra, Cudi parece seguir exatamente de onde parou há três anos, antecipando o que pode concluir em breve com o aguardado ponto final de sua epopeia. Apenas reciclagem de sons e temas que diferente do trabalho passado, não se aproximam em nenhum instante de qualquer teor de novidade.

Como já tornava evidente durante a execução do último álbum, o rapper parece se sustentar dentro de um propósito engessado, cada vez mais distante das canções épicas e comerciais que o apresentaram em início de carreira. O egocentrismo exagerado e faixas monótonas que discorrem textos autobiográficos sufocam Cudi e o ouvinte em uma atmosfera penosa. Cada música parece se conectar de forma irrelevante na canção seguinte, resultando em um exercício de difícil superação e que faz do trabalho um álbum praticamente intransponível. São sintetizadores acinzentados em paralelo a rimas quase cantadas, um propósito distante das melodias plásticas que ainda hoje brilham em Soundtrack 2 My Life e outros grandes inventos do artista.


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Se existe um “culpado” pela obra, Kid Cudi assume toda essa responsabilidade. Contrário ao exercício firmado desde o primeiro álbum, o rapper acaba assumindo por completo a figura de produtor do registro. De fato, das 18 composições que recheiam Indicud, apenas Red Eye é dividida com o produtor Hit Boy, que surge de forma irrelevante e pouco se distancia da temática inicial que sustenta o registro do princípio ao fim. Tudo é pensado dentro de um exercício arrastado e monocromático, completo oposto dos caminhos diversos que aproximavam o rapper tanto do rock (vide as colaborações com o Ratatat) como de outros elementos não convencionais para o Rap.

Talvez ciente das limitações que atrasam o disco, Cudi tenta preencher o trabalho com um número ainda maior de convidados do que nos registros anteriores. Enquanto os badalados Kendrick Lamar e A$ap Rocky assumem parte dos versos em Solo Dolo Pt. II e Brothers respectivamente, o sempre requisitado RZA aparece em uma curta passagem na quase descartável Beez. Sobra a presença de Father John Misty (Young Lady) e das garotas do Haim (Red Eye) nos instantes mais coloridos do disco, faixas que mesmo motivadas não conseguem botar o álbum nos eixos. Quem espera por qualquer canção aos moldes de Erase Me (parceria com Kanye West) ou Pursuit of Happiness (encontro entre MGMT e Ratatat) terá com Indicud um trabalho em que todas as colaborações parecem na verdade vazias.

Mesmo que em poucos instantes Kid Cudi consiga estabelecer um ponto de equilíbrio para o trabalho, a avalanche de composições tomadas pela redundância tratam de soterrar isso. É um trabalho desprovido de carisma e propósito, apenas rimas sendo despejadas em um plano confuso e aleatório. Último trabalho do rapper pelo selo GOOD Music (de Kanye West), Indicud se manifesta como um ponto de ruptura na carreira do norte-americano, que ao menos por enquanto transita por um percurso incerto e nada convincente.

Incud

Indicud (2013, Republic/Good Music)


Nota: 4.0
Para quem gosta de: Wiz Khalifa e Kanye West
Ouça: Young Lady

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.