Disco: “Instrumental Mixtape 2”, Clams Casino

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2012

Clams Casino
Hip-Hop/Experimental/Instrumental
https://www.facebook.com/clammyclams

Por: Cleber Facchi 

Não, eu não estou estressado/ Eu sou Deus/ Eu sou o melhor”, disse o rapper Lil B no decorrer da mais imponente faixa lançada por ele ao longo deste ano, I’m God. Entretanto, se o norte-americano se auto define como Deus, ele só chegou ao ponto em que está e conquistou uma geração de recentes adoradores por conta não apenas dos versos sóbrios que o cercam, mas pela instrumentação densa e batidas nunca convencionais projetadas por Mike Volpe, o Clams Casino. Antigo parceiro do rapper, o produtor de Nutley, New Jersey concentra agora mais uma coleção de formas instrumentais compostas por ele ao longo do último ano, bases que mais do arquitetar o terreno para os versos dos parceiros assumem uma força individual e por vezes maior do que as próprias palavras em si.

Assim como já havia tornado evidente no decorrer do primeiro trabalho de inéditas lançado em 2011 – o EP Rainforest -, Casino dá ao hip-hop contemporâneo uma nova e, em diversas vezes, ruidosa sonoridade. O caráter obscuro de sua obra mergulha fundo no que há de mais assertivo dentro da famigerada Witch House, referência que ele traz como principal contribuição dentro de Instrumental Mixtape 2 (2012, Independente), uma coleção de 14 faixas que rompem com qualquer redundância ou forma sonora tomada pelo toque característico do rap comercial. Mais uma vez, Volpe não apenas instiga os artistas próximos a ele à mudar como estimula a si próprio a provar do experimento.

Oposto do que havia caracterizado dentro da mixtape anterior, com o recente álbum o produtor não apenas prende as composições de maneira a fazer com que pareçam fruto de um registro individual, como parece ter feito o álbum todo dentro de uma lógica fechada, proporcionando a condução de uma métrica própria e banhada pela similaridade das formas instrumentais. Mesmo coletadas ao longo de um ano e vindas dos mais opostos lançamentos, as canções partilham de um forte senso de proximidade, resultado que se manifesta de forma natural tamanha a conexão gerada com a “marca própria” de Clams Casino. Até quando resolve brincar com os remixes – como em Amor Fati do Washed Out ou Born To Die de Lana Del Rey -, a aproximação se mantém constante e intima das demais canções que costuram o disco.

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Passada uma audição inicial, em que os versos de algumas composições – principalmente os apresentados por A$ap Rocky – parecem ainda borbulhar em nossa mente, Volpe transforma a mixtape em um trabalho de novos significados. É como se livre das palavras, rimas, versos e qualquer outra manifestação que não a instrumental finalmente fossemos apresentados ao real universo que parece se formar na mente do produtor. Um plano obscuro onde ruídos de todas as formas revelam texturas densas e por vezes sufocantes, lembrando muito aquilo que Balam Acab montou ao longo do álbum Wander / Wonder em 2011, mas de forma menos etérea e, logicamente, muito mais experimental e complexa.

Embora busque durante toda a execução do trabalho alcançar um registro primoroso e conceitual, em alguns momentos a escolha de Casino parece simplesmente não alcançar essa proposta. Em The Fall, por exemplo, a simplicidade da canção parece destoar do restante da obra, sendo muito melhor aproveitada quando dentro do último disco do The Weeknd, Echoes Of Silence do que na versão atual. De fato Mike Volpe teria feito uma escolha muito mais coerente com a proposta do álbum se tivesse incorporado ao registro o brilhante remix montado para Moon & Stars de Big K.R.I.T., faixa lançada no final do último ano e que parece entregar um som renovado em relação aos anteriores e atuais experimentos do produtor.

Mais do que um mero condensado de antigas e recentes criações do produtor, Instrumental Mixtape 2 surge com um forte caráter de contestação e alternativa ao sempre mutável cenário voltado ao hip-hop. É como se Volpe, ao reunir importantes composições construídas (ou mesmo reformuladas) por ele no decorrer dos últimos meses mostrasse que outros rumos e possibilidades podem ser agregados ao rap estadunidense ou mundial, gênero que ganha uma exposição particular e sempre inventiva nas mão do norte-americano.

Instrumental Mixtape 2 (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Balam Acab, Evian Christ e Shlohmo
Ouça: I’m God,

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.