Disco: “Instrumental Tourist”, Tim Hecker & Daniel Lopatin

/ Por: Cleber Facchi 26/11/2012

Tim Hecker & Daniel Lopatin
Experimental/Ambient/Drone
http://www.sunblind.net/
http://www.pointnever.com/

Por: Fernanda Blammer

Tim Hecker e Daniel Lopatin talvez sejam os dois maiores nomes da música experimental/ambient atual. Se o primeiro vem desde a década passada se revezando na construção de álbuns essencialmente climáticos e tomados pelo uso simétrico dos ruídos, o segundo vai além dessa proposta, quebrando cada partícula instrumental em uma centena de novas possibilidades desconcertantes. Dois grandes gênios que se encontram dentro do mesmo campo musical para entregar Instrumental Tourist (2012, Software Studios), projeto construído em parceria e uma espécie de interpretação do que cada músico encontra no trabalho do outro.

Antes de se aventurar pelo estranho ambiente pavimentado pela dupla no decorrer do disco, é preciso notar que os dois alcançaram recentemente os melhores trabalhos de suas respectivas carreiras. Enquanto Lopatin (sob o nome de Oneohtrix Point Never) apresentou ao público a esquizofrenia em formato de música com a entrega de Replica (2011), Hecker condensou tudo que havia desenvolvido em mais e uma década de atuação para apresentar Ravedeath, 1972, um imenso catálogo de ruídos densos que vez ou outra esbarram na eletrônica e na música clássica.

Dentro desse cenário recente de acertos e incorporações instrumentais particulares, Hecker e Lopatin passam as 12 faixas do presente trabalho se revezando em uma sequência de formas ora delicadas, ora marcadas pelo mais puro exagero instrumental. Como se um tentasse ser o outro, tudo se dissolve em uma sonoridade essencialmente sombria, com pianos se sobrepondo em meio a batidas desconexas, bases atmosféricas explodindo em meio a ruídos altíssimos, vozes ambientais trabalhadas em cima do mais puro minimalismo. Caos, desordem e consequentemente criação.

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Uptown Psychedelia, faixa que inaugura o disco deixa claro muito do que será encontrado no restante dele. Enquanto os teclados desconexos aproximam a canção (e naturalmente o álbum como um todo) da proposta sempre vasta e curiosa que se expande na obra de Lopatin, o fundo delicado que se esconde no decorrer da música pende inevitavelmente para outra proposta, lembrando a obra de Hecker nos instantes menos homogêneos de sua carreira. Sempre lidando com os opostos, a dupla encontra no impacto entre as referências a massa de ruídos que serve como base para delinear e solucionar a execução de todo o trabalho.

Mesmo lidando com a constante exposição de sons duplicados e acertos que se enaltecem pelo cruzamento das variantes instrumentais de cada músico, não é difícil encontrar em determinados pontos do trabalho uma maior valorização da sonoridade de um ou outro. Em Vaccination (For Thomas Mann), por exemplo, o que temos é um mergulho obscuro no trabalho de Hecker, que amplia de forma clara essa estrutura, valorizando uma temática mais psicodélica da canção – talvez por conta da presença do parceiro. Já Intrusions é uma completa quebra dessa mesma proposta, sendo uma composição do desempenho (quase) individual de Lopatin.

Raivoso e calmo na mesma medida, Instrumental Tourist cumpre com a proposta apresentada no título do trabalho, fazendo com que a dupla se oriente em meio a uma estrutura sempre passageira, como se cada faixa fosse o princípio de um novo resultado. Como se fosse uma visita, os dois turistas passeiam pelo que há de mais complexo no trabalho do outro, convertendo esse encontro suave e anárquico em um ponto de profunda transformação que pode ser aprimorado em suas próprias e individuais obras.

Instrumental Tourist (2012, Software Studios)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Andy Stott, Oneohtrix Point Never e Tim Hecker
Ouça: Vaccination (For Thomas Mann) e Whole Earth Tascam

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.