Disco: “Interiors”, Glasser

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2013

Glasser
Experimental/Electronic/Indie
http://glassermusic.com/

Por: Fernanda Blammer

Glasser

Instável, Cameron Mesirow nunca esteve interessada em brincar com um bloco específico de referências musicais. Desde a estreia do Glasser em 2009, com Apply EP, e posteriormente com a chegada do álbum Ring (2010), décadas de interferências sonoras parecem alinhadas em um ambiente torto e estranhamente convidativo. Ora atenta aos princípios da eletrônica, ora capaz de brincar com o que há de mais excêntrico na música recente, a cantora/produtora norte-americana faz de cada registro um passeio por um universo de formas flutuantes, marca para o que se expande na chegada do místico Interiors (2013, True Panther).

Sequência quase imediata ao trabalho entregue há três anos, o presente disco novamente fragmenta a identidade de Mesirow, muito mais do que uma voz derramada pelos sons, um instrumento fundamental para a construção do álbum. Menos orgânico que o cenário proposto previamente, o álbum inverte o posicionamente dos arranjos, agora centrados em um ambiente à frente das próprias vozes. Como resultado, a artista assume uma obra que brinca com as experiências do ouvinte, indo de um cenário essencialmente tímido e intimista, a instantes de visível exaltação.

Posicionada em algum lugar entre o fim dos anos 1990 e o começo da nova década, Glasser faz nascer uma obra que ecoa traços de vários artistas estabelecidos durante o período. Logo de cara, Björk talvez seja o principal ponto de referência para a obra, afinal, o que são músicas como Forge, Dissect se não um atento resgate das mesmas experiências deixadas pela cantora islandesa em Homogenic (1997)? Mais do que isso, a californiana vai em busca da cena eletrônica que tomou conta do panorama inglês no mesmo período, absorvendo tanto elementos do Trip-Hop, como de rastros da IDM sintetizados pelo Radiohead pós-Kid A (2000).

Longe de encontrar apenas conforto na sonoridade e na estranheza de outros artistas, Mesirow cria e recria diversos aspectos da obra prévia do Glasser. Ainda que alguns conceitos do álbum sejam posicionados de forma paralela ao disco anterior, cada instante do novo disco força a artista a sair e ao mesmo tempo regressar à própria zona de conforto. Passado e presente flutuam no cenário que a cantora busca retratar tanto na capa do disco, como no estranho vídeo da faixa Design. Entretanto, quando se livra em essência das principais marcas do debut – a partir da sequência de interlúdios Window (I, II & III) -, a artista parece finalmente pronta para experimentar, o que converte o eixo final da obra no bloco de sons mais complexo do trabalho.

Com vozes e sons interpretados como um só componente, Glasser faz de músicas como New Year e Exposure um exercício de provocação para o ouvinte. São samples instáveis, colagens etéreas e sons de natureza eletrônica de forte assimilação onírica, interpretação que em diversos momentos esbarra no trabalho de artistas como Grimes ou mesmo veteranas à exemplo de Kate Bush. Ainda que muito do que carcateriza o disco pareça ecoar como algo já ouvido antes, a artista parece a todo o momento capaz de desenvolver pequenos ganchos instrumentais (ou mesmo de voz), presenteando o ouvinte com uma carga de novidade.

Mesmo desenvolvido como uma obra fechada, dentro do ambiente que Mesirow busca retratar no título, versos ou mesmo na própria estética do trabalho, Interiors está longe de ser representado como uma obra hermética. Se observarmos atentamente, parte específica do que define as composições do discos são as melodias, superando o terreno tímido exposto em Ring, e talvez aproximando Glasser de uma nova frente de ouvintes. Independente das escolhas ou possível estética, assim como no álbum passado, a cantora mais uma vez cumpre com o que parece ser a base do projeto: brincar com a mente do ouvinte em um jogo de sons, vozes e experiências que em nenhum instante parecem buscar por conforto.

 

Glasser

Interiors (2013, True Panther)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Björk, Purity Ring e Grimes
Ouça: Forge, Dissect e Design

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.