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Críticas

Frankie Rose

: "Interstellar "

Ano: 2012

Selo: Slumberland

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Dum Dum Girls e Twin Sister

Ouça: Daylight Sky e Know Me

8.0
8.0

Disco: “Interstellar”, Frankie Rose

Ano: 2012

Selo: Slumberland

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Dum Dum Girls e Twin Sister

Ouça: Daylight Sky e Know Me

/ Por: Cleber Facchi 12/03/2012

Até o fim da década passada a cantora e compositora Frankie Rose não passava de uma mera colaboradora dentro da vigente cena musical, uma figura quase inexpressiva que se manifestava com parcimônia no cenário shoegaze/garage norte-americano. Acompanhando bandas como Crystal Stilts e Vivian Girls, a musicista ajudou (com pouco destaque) no entalhe de algumas das mais importantes obras do sujo panorama nova-iorquino, sempre posicionada ao fundo, quase como uma peça decorativa que se apresentava delicadamente em meio ao volumoso corpo de guitarras distorcidas e versos berrados que algumas bandas se prontificavam a executar.

Não satisfeita com o papel “decorativo” a que estava limitada, Rose montou no final de 2009 um projeto ao lado de alguns amigos – simplesmente intitulado de Frankie Rose and the Outs -, trazendo um pouco da sonoridade suja que vinha desenvolvendo com alguns grupos nova-iorquinos, porém, mantendo sempre uma força leve na instrumentação e na tonalidade romântica que parecia naturalmente compatível com a candura de sua voz. Ainda assim, parecia haver limites no trabalho de Rose, que não contente com o que vinha desenvolvendo (além da baixa recepção do público e da crítica) largou os antigos parceiros e resolveu abraçar a carreira solo de vez, feito que se materializa agora com a chegada de Interstellar.

Agridoce, o registro amarra tanto as guitarras desconcertantes que acompanham a cantora há alguns anos (de maneira moderada, claro), como os vocais hipnóticos e quase açucarados que caracterizam o trabalho de Rose. Longe de qualquer resultado áspero, a cantora cria com cautela um projeto que bebe em uma fonte mística, brinca com melodias pop cantaroláveis e, quando preciso, não poupa em leves doses de agressividade. Dentro dessa proposta variada, o registro vai se edificando por conta própria, mantendo um conteúdo econômico (são dez faixas), porém coeso com a proposta do trabalho.

Aos ouvidos despreparados – ou limitados – o primeiro disco (verdadeiramente) solo de Frankie Rose talvez soe como mais um recorte peculiar da música pop dos anos 1980, resultado óbvio da inserção constante de sintetizadores morosos e batidas marcadas pelo eco. Entretanto, para além de um diálogo com a produção musical construída há três décadas, Interstellar é um diálogo coeso com a presente cena Lo-Fi, panorama que há cada dia ganha novos adeptos. Do fluxo crescente (e dançante) da canção título que abre o disco ao fecho melancólico na quase drone The Fall, todos os espaços do trabalho são ocupados por emaranhados poluidamente orquestrados. Pequenas frações de sujeira musical, que ao serem posicionados de forma ordenada traduzem a beleza do álbum.

Pendendo ora para o pop confortável do Twin Sister (Rose deve ter passado boa parte de 2011 ouvindo o doce In Heaven), ora para as guitarras nostálgicas de algumas das bandas que abrigaram a norte-americana, o disco parece encontrar sustento e muita inspiração no que Ariel Pink e os parceiros do Haunted Graffiti alcançaram com o já clássico Before Today (2010). Da maneira como os vocais se alinham ao conjunto de sons que residem no interior do disco, tudo se apresenta de forma muito semelhante, com Rose deixando de lado a psicodelia pop (e as esquisitices de Pink) para conceber um álbum mais prático, simples e consequentemente aberto ao público.

Convincente em toda a extensão, Interstellar vai aos poucos exibindo uma série de pequenos tratados radiofônicos, algo que a melancolia cativante de Daylight Sky, o tom suave de Pair Of Wings (que lembra um pouco o Club 8 em seus momentos mais pacatos) e Night Swim (essa sim, um fino exemplar da influência de Aril Pink) exemplificam com satisfação. Longe de qualquer resultado revolucionário e correndo fortes riscos de ser observado como um disco demasiadamente básico, a “estreia” de Frankie Rose acaba se materializando como um agradável plano de fuga, um abrigo para aqueles que simplesmente queiram se desligar de prováveis excessos e equívocos que diariamente se apoderam do meio musical.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.