Disco: “Intropologia”, Medialunas

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2012

Medialunas
Brazilian/Alternative Rock/Shoegaze
http://facebook.com/Medialunas

Por: Cleber Facchi

O Superguidis foi e ainda é uma das maiores se não a maior banda do rock independente nacional que surgiu na última década. Contudo, não é sobre ela que vamos falar hoje.

Apaixonado pela solução natural de como ruídos se convertem em música, Andrio Maquenzi e a esposa Liege Milk fazem do primeiro álbum à frente do Medialunas uma sucessão de recortes densos, sujos e ainda assim capazes de grudar em uma única audição. Projeto quase herdeiro de tudo que o casal vem desenvolvendo em suas carreiras paralelas – ela integrante de grupos como Loomer e Hangover, ele ex-vocalista da temporariamente (?) extinta Superguidis -, Intropologia (2012, Independente) parece ir além do óbvio entregue pelos grupos nacionais que passeiam por trabalhos de mesmo gênero. Apresentando uma extensão reformulada e particular de tudo aquilo que fora deixado por grupos como Sonic Youth, Nirvana e My Bloody Valentine, o casal faz da barulhenta estreia um disco que se dissolve rápido, inteiramente cru e sem qualquer prerrogativa de acalmar os espectadores.

Distante de maneira intencional de qualquer projeto anterior que conte com a presença da dupla, o álbum vai até a última faixa derramando exaltações particulares e poluídas que parecem prontas para soterrar todo ouvinte despreparado – ou quem já não tenha um conhecimento prévio do que fora apresentado pelo casal. Ora brincando de ser David Ghrol nos primeiros discos do Foo Fighters (Rotten Peaches), ora flertando com tudo que há de mais esquizofrênico na carreira do Pixies (NoTeVaGustar), a dupla torna pública em cada nova faixa a maneira como o disco se configura estranho do ponto de vista comercial e anárquico na forma como dita os próprios rumos, sem pensar em erros ou possíveis acertos.

Tão irracional e caseiro quanto o clássico primeiro disco do Pavement – Slanted And Enchanted, 1992 -, Intropologia é um trabalho que não parece pensado como uma unidade, afinal, cada canção assume um desempenho e um rumo totalmente próprio com o passar do álbum. Em alguns momentos é possível notar que nenhuma música parece intervir na outra, resultado de gravações isoladas ao longo dos últimos meses. Mesmo dentro desse fechamento irregular, a proposta que delimita o disco em nenhum momento estabelece um encaminhamento de descompromisso, pelo contrário, tanto Maquenzi quanto Milk mantém firme a construção de cada música, faixas que mesmo dotadas de um fluxo individual se encontram ao final da obra para promover uma atmosfera de nítida proximidade.

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Trilingue e tendo em sua maioria composições em inglês – que muito se aproximam dos iniciais trabalhos de Maquenzi, ainda pré-Superguidis -, a dupla encontra os melhores momentos do disco quando se aproxima de composições que trazem curiosos versos em espanhol. Enquanto Arboles de Navidad assume uma forte relação com o que a banda argentina El Mato A Un Policia Motorizado (grupo parceiro do músico gaúcho há bastante tempo) desenvolve em seus trabalhos, NoTeVaGustar puxa o registro para um espaço de distinção. Por vezes lembrando Pixies (pelos vocais femininos que esbarram em Kim Deal) e em outros momentos soando como um Yo La Tengo da fase Painful (1993), a canção abre espaço para o que há de mais rico no trabalho: as ambientações.

Pontos raros espalhados pelo trabalho, faixas como Chunby, Memorabilia (uma das melhores do disco), além da já mencionada canção acima permite em alguns instantes que as guitarras se derretam, formando criações mais densas e talvez um percurso certo para os próximos lançamentos do casal. A proposta – que muito lembra os ensinamentos deixados pelo My Bloody Valentine ao longo do disco Loveless (1991) – é o que garante a faixas como Memorabilia uma proposta de total distinção em relação ao que percorre a quase totalidade do disco e o que define parte da cena nacional, quase sempre delimitada por trabalhos mais diretos, pouco experimentais e repetitivos na maioria dos casos.

Capaz de passear pelo Grunge, brincar com a nova verve de artistas relacionados ao shoegaze e ainda incorporar por alguns instantes o mesmo Garage Rock que circula em solo norte-americano, a dupla promove um disco que absorve uma infinidade de rumos sem se preocupar em infringir qualquer possível regra ou firmar um resultado contraditório. Tão logo tem inicio, Intropologia estabelece uma somatória de caminhos tão distintos que parece simplesmente impossível prever qual será o próximo passo dado pela dupla gaúcha. Não indicado aos acostumados com trabalhos de fina limpidez e exaltações sonoras compactas, o disco surge como uma obra definitivamente completa, mas com ares de fita demo.

Intropologia (2012, Independente)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Loomer, Superguidis e Badhoneys
Ouça: Rotten Peaches, Memorabilia e NoTeVaGustar

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.