Disco: “Issamu Minami”, Ceticências

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2013

Ceticências
Brazilian/Experimental/Electronic
http://ceticencias.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Cadu Tenório é um viajante que atua de acordo com as exigências do cenário ou das pessoas com quem musicalmente se relaciona. Enquanto ao lado dos parceiros do Sobre A Máquina o instrumentista carioca se aproxima de um universo sombrio e de efeito ambiental, ao ser enclausurado dentro da própria mente o artista parece brincar com os experimentos sem que qualquer limite aparente possa se manifestar. É justamente dentro desse cenário torto que nascem as composições do VICTIM!, projeto de Industrial/Noise assinado individualmente pelo músico, e mais recentemente o Ceticências, abrigo eletrônico para as angústias particulares de Tenório.

Produzido em pequenas doses desde 2008, o recente projeto vem sendo desenvolvido com maior atenção tão logo Please Don​’t Be Shy​/​It​’​s Not So Easy But I​`​ll Try, EP de estreia do produtor foi finalizado em 2011. O que parecia inicialmente se manifestar como um amontoado de ideias avulsas encontra em Issamu Minami (2013, Independente), estreia definitiva do artista, um ponto claro de definição. Sem fugir do terreno obscuro que naturalmente parece relacionado ao nome do carioca, o registro amputa em oito faixas uma provável repetição daquilo que Tenório vinha reproduzindo, antecipando com doses leves de esquizofrenia o que pode vir a decidir os demais inventos do músico daqui pra frente.

Espécie de trilha sonora alternativa para o personagem Issamu Minami, protagonista da série Kamen Rider Black Tokusatsu que passou na extinta TV Manchete nos primórdios da década de 1990 -, o álbum rompe a todo o instante com o que poderia se manifestar como um mero reduto climático. De natureza provocativa – para o produtor e também para o ouvinte -, o registro manifesta uma versão particular daquilo que há tempos acompanha os inventos de Daniel Lopatin, principalmente no Oneohtrix Point Never pós-Returnal (2010). Mais do que um colosso de referências, o disco se apresenta como uma folha em branco, entregue durante todo o tempo aos experimentos e rabiscos sonoros de seu criador.

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Tratado como um objeto de descoberta constante, o álbum sustenta em cada música um nítido efeito de irregularidade. Nada parece exato na manifestação proposta por Cadu, o que arremessa timidamente o ouvinte para inúmeras direções. Como uma criança que ainda não tem a noção exata do brinquedo que acaba de ganhar, Tenório usa de cada faixa como uma experiência excêntrica. É possível encontrar desde acúmulos minimalistas em Gorgom, até ruidosos apanhados climáticos em Shadow Moon, faixa que soa como uma versão sombria do que Jimmy Tamborello desenvolve há mais de uma década com o Dntel.

Embora Tenório venda o registro como uma manifestação isolada dentro dos próprios inventos ou talvez uma interpretação particular da IDM, Issamu Minami é um trabalho que jamais se ausenta das criações prévias do músico. Melhor exemplo disso está na construção de White Jacket e Motorcycle Gang, canções que mais parecem uma versão futurística do mesmo tratamento sombrio dado ao último álbum do Sobre A Máquina. Se levarmos em conta a composição sintética já exposta em Oito e Pulso, exemplares precisos do disco homônimo de 2012, esse resultado se materializa de forma ainda mais nítida, como se o carioca virasse uma curva rápida no percurso imprevisível que vinha seguindo.

Assim como a inexpressiva estreia do Sobre A Máquina ou o senso de descoberta que se apodera do primeiro álbum do VICTIM!, Issamu Minami é apenas um princípio para os inventos do artista. Fazendo de cada música um esboço, o músico delimita as bases para o que deve ser aprimorado em breve, provavelmente em um intervalo entre seus outros inventos. Entretanto, é preciso observar que mesmo no agrupado de formas imprecisas do presente álbum, o carioca já parece ter encontrado algumas certezas, efeito que transforma o Ceticências na principal ferramenta musical de Cadu Tenório, pelo menos por enquanto.

Ceticências

Issamu Minami (2013, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Sobre a Máquina, Actress e Oneohtrix Point Never
Ouça: Motorcycle Gang e Shadow Moon

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.