Disco: “It’s Album Time”, Todd Terje

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2014

Todd Terje
Space Disco/Electronic/Nu Disco
http://toddterje.com/

Por: Cleber Facchi

Todd Terje

Mulheres, drinks e Space Disco. Há mais de uma década o norueguês Todd Terje passeia pela cena eletrônica como um boêmio, se esquivando das palavras e investindo nos arranjos sintéticos para retratar de forma autoral a vida noturna. Mergulhado nas experiências que ocuparam a década de 1970, o produtor original de Mjøndalen, parece amarrar as pontas soltas entre a música que ocupou as pistas há quase quatro décadas e as emanações que detalham os excessos no presente. Entre lá e aqui, Terje abre as portas do primeiro álbum de estúdio, o aguardado It’s Album Time (2014, Olsen), um registro tão nostálgico e empoeirado, quanto voluptuoso e atual.

Descompromissado, mas não menos detalhista que os últimos inventos em estúdio do artista, o disco vai além de dançar pelas harmonias hipnóticas lançadas por Terje desde o começo dos anos 2000. Enquanto os primeiros singles ou mesmo o último EP do produtor, It’s the Arps (2012), pareciam reforçar experimentos musicais fragmentados, cada instante do presente álbum evoca uma tonalidade sequencial. É como se o norueguês contasse uma história, um tipo de desaventura romântica em um paraíso tropical que cresce ao som  dos sintetizadores.

Ao mesmo tempo em que caminha pela areia quente da história oculta ao fundo das harmonias, Terje fixa no registro uma forma de comunicação com a obra que já vinha desenvolvendo. Bastam as transições suingadas de Preben Goes to Acapulco ou a fluidez direta de Delorean Dynamite (faixa manipulada pela matemática das programações) para ver a relação do artista com velhos parceiros como Prins Thomas e Lindstrøm. De fato, parte dos arranjos encontrados por Todd crescem como uma sequência ao bem sucedido Smalhans (2012), em que foi colaborador, ao mesmo tempo em que parte dos tropeços dados por Lindstrøm em Six Cups of Rebel são pontualmente solucionados.

Se não fosse pelo histórico amigável de Terje com os outros nomes da cena norueguesa, não seira estranho suspeitar que It’s Album Time fosse lançado como uma autêntica provocação. Da música latina em Svensk Sås, ao toque litorâneo de Alfonso Muskedunder, cada música enquadrada no disco parece fugir do hermetismo típico da eletrônica que ocupa parte da produção europeia. Uma constante sensação de que o produtor busca abraçar o grande público por meio dos arranjos versáteis, abertura que em nenhum momento foge do cuidado técnico explícito desde os primeiros segundos.

Muito do que garante esse caráter “cult” e ao mesmo tempo “popular” ao trabalho de Terje vem da relação do produtor com o Jazz dos anos 1970. Não são poucos os momentos do álbum em que a relação do norueguês com a obra de Herbie Hancock é pontualmente retratada. Bastam os minutos iniciais de Leisure Suit Preben, canção de abertura do álbum, para perceber a explícita comunicação com o clássico Head Hunters, de 1973. Somam passagens pela trilha sonora de películas da época, ouvidos atentos ao Krautrock – influência de Prins Thomas? -, e até uma confessa relação com o Roxy Music – aqui representado pelo vocalista Bryan Ferry na (ótima) versão de Johnny and Mary, do cantor Robert Palmer.

Tropical e nostálgico, It’s Album Time é um disco apontado para o passado de forma confessa, preferência que está longe de reduzir as experiências autorais lançadas pelo produtor. Ora dançante, ora movido pela sensualidade explícita dos arranjos, o trabalho parece capaz de se comunicar com diferentes esferas temáticas/culturais sem necessariamente romper com a fluidez autêntica lançada por Terje. Mais do que um regresso ao trabalho de grandes veteranos – do Jazz, da Disco Music ou do Synthpop -, a estreia do norueguês cresce como uma extensão. Uma evidência de que a música proclamada há poucas décadas está longe de ter fim, pelo contrário, acaba de ser particularmente estendida.

 

Todd Terje

It’s Album Time (2014, Olsen)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Lindstrøm, Prins Thomas e John Talabot
Ouça: Delorean Dynamite, Swing Star (Part 2) e Johnny and Mary

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.