Disco: “Ivana”, Inverness

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2012

Inverness
Brazilian/Experimental/Psychedelic
http://inverness.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Talvez fosse pela força do recém-lançado Merriweather Post Pavilion do Animal Collective ou quem sabe a herança do My Bloody Valentine, mas cada faixa pensada dentro do último álbum da paulistana Inverness parecia se condensar em uma piscina lisérgica cheia de cores e sons. Sempre agrupando o máximo de referências possíveis, em cada nova composição lançada ao longo do psicodélico e místico Somewhere I Can Hear My Heart Beating (2010), o quarteto mergulhava em um cenário de reverberações múltiplas, caminhos nunca lógicos e todo um arsenal de referências que pareciam intencionalmente montadas de forma a confundir e hipnotizar o ouvinte. Havia um percurso linear tramado na abertura do disco, porém, tão logo a faixa título abria os portões do álbum, estes rumos se dividiam em incontáveis e sempre mutáveis trajetos.

Pode ser justamente por conta dessa estrutura tão complexa que visitar o mais recente disco do grupo paulistano seja um exercício inicialmente confuso para quem estava acostumado aos já tradicionais experimentos mágicos da banda. Ao mergulhar no peculiar universo trabalhado dentro do recente Ivana (2012, Independente) esqueça o som aglutinado de outrora. Partindo de novo encaminhamento, o álbum separa de forma quase fria cada instrumento e partícula do álbum dentro de diversos pontos isolados e emanações particulares. O que antes exaltava a proximidade – como se as batidas de bateria se derretessem em cima das guitarras e os teclados fossem capazes de grudar suavemente nos vocais -, hoje se atualiza de forma distinta, quase como uma quebra ao encaminhamento dado ao trabalho de outrora.

Mesmo que algumas tranças instrumentais sejam firmadas em pontos bem definidos pelo álbum, principalmente em Nestling Deep (In The Soul Of Kindness) e na faixa de encerramento From Circle to Circle, a maneira como o quarteto estabelece isso faz com que as estratégias sejam completamente distintas, próximas de uma sonoridade quase convencional e por vezes íntima dos experimentos sonoros testados ao final da década de 2000. A própria Tyche’s Water Gun parece se envolver exatamente com essa proposta, soando como um misto de Grizzly Bear da fase Veckatimest (2009) com o Deerhunter do álbum Halcyon Digest (2010). Isso sem contar com os vocais que remetem inevitavelmente à Rivers Cuomo (Weezer).

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Menor não somente em extensão – o álbum conta com exatos 35 minutos e 24 segundos de duração -, Ivana parece perder lentamente o brilho inventivo que tanto guiava as anteriores produções da banda. Mesmo o bucólico e artesanal Forest Fortress, de 2009, parece melhor organizado do que o presente disco. A sensação ao longo do álbum é a de que falta o mesmo acréscimo de samples orgânicos, ruídos extras e toda a carga de complementos derramada pela banda para engrandecer o que poderia ser inicialmente compreendido como uma simples composição. Por mais que a proposta seja de não repetir a mesma fórmula de outrora, saindo da zona de conforto, os entalhes simples que decidem o disco acabam por prejudicar o resultado final de cada canção. É difícil criar qualquer forma de “apego” ao álbum, mesmo passadas algumas audições.

Se nos dois discos anteriores o quarteto entregava um trabalho expansivo, com ossos, carne, pele e vida, hoje nos deparamos com um oposto, afinal, sobraram apenas os ossos ou talvez pouco menos desse composto. Mais do que isso, cada faixa partilha de um conceito diferente, impedindo a formação de um álbum consistente ou que seja capaz de puxar o ouvinte faixa após faixa – o que aconteceu com sucesso no disco de 2010. Em See You In The Morning, logo na abertura do trabalho é visível o quanto os próprios integrantes parecem caminhar por rumos opostos. Enquanto os vocais, livres do tom abafado de outrora tocam a desafinação, bateria e guitarras travam um duelo desconcertante, como se um instrumento buscasse opor de forma irregular ao outro.

Produzido com dinheiro de um financiamento coletivo – inclusive o nome do trabalho vem de uma cota de R$ 800,00 comprada por um namorado como presente para a amada, fã da banda – Ivana está longe de ser um registro catastrófico, apenas se manifesta como um álbum irregular do ponto de vista do que já fora apresentado previamente pelo grupo. Como já anunciou, passada a divulgação do disco, no próximo ano a banda deve entrar em “recesso por tempo indeterminado”, o que no Brasil nada mais é do que uma ótima resposta para encerrar um projeto. Todavia, ainda há tempo de voltar atrás e apresentar um registro que de fato encerre a carreira do quarteto com todos os méritos e acertos que a banda já demonstrou ser capaz de produzir.

Ivana (2012, Independente)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Team. Radio, Luneta Mágica e Doo Doo Doo
Ouça: Let There Be Night

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.