Disco: “IVRY”, 100s

/ Por: Cleber Facchi 22/04/2014

100s
Hip-Hop/Rap/G-Funk
https://www.facebook.com/iHate100s

Por: Cleber Facchi

100s

Passadas duas décadas desde a expansão do Hip-Hop californiano – com o lançamento da obra-prima The Chronic (1992), de Dr. Dre -, as mesmas emanações que mobilizaram o gênero continuam a fluir com naturalidade em uma centena de projetos similares. Enquanto o (também) gigante Kendrick Lamar fez do clássico imediato Good Kid M.A.A.D City (2012) uma extensão desse universo, outros parecem seguir o caminho oposto, encontrando na “marofa criativa” de Snoop Dogg e o lisérgico Doggystyle (1993) uma verdadeira matéria-prima. Princípio para o exercício assinado pelo novato 100s na mixtape IVRY (2014, Fool’s Gold).

Em um sentido de continuação ao que Ice Cold Perm (2012), trabalho anterior do rapper, trouxe em 2012, o novo registro cresce com acerto em cima de bases potencialmente melódicas. São canções capazes de resgatar o espírito, temas e arranjos típicos da década de 1970, armazenando tudo em um contexto totalmente sedutor e íntimo do Hip-Hop dos anos 1990. Sexo, (muitas) drogas e uma atmosfera de descompromisso recheiam todos os espaços do trabalho, fazendo do registro um projeto tão próximo do cenário concebido há poucas décadas, como da produção recente da cena local.

A julgar pelo fluxo estabelecido nos versos de Fuckin Around, Different Type Of Love, Middle Of The Night e demais faixas espalhadas pelo disco, IVRY é um registro inteiro feito para se ouvir a dois – preferencialmente embaixo dos lençóis. São faixas que assumem nos solos voluptuosos de guitarra e batidas quentes uma relação inevitável entre a confissão e o sexo. Do momento em que tem início, até os últimos versos, tudo flui em um cenário de pré/pós-sexo, como se o rapper brincasse com as rimas em uma construção tão romântica, quanto cafajeste.

Ainda que o propósito seja outro, muito do que orienta a produção de 100s esbarra em conceitos próximos daqueles concebidos por Chance The Rapper em Acid Rap (2013). Da rima suave (Thru My Veins) ao canto pontual (Middle Of The Night), cada etapa do registro se esquiva da fluência acelerada de obras do gênero, mergulhando em diversos aspectos da psicodelia que guiou o OutKast a partir dos anos 2000. Acrescente sintetizadores temperados pelo Funk dos anos 1980 (Different Type Of Love), respiros brandos de R&B (Ten Freaky Hoes) e a multiplicidade de tendências lentamente amplia o pequeno território em torno da obra do rapper.

Emulando uma série de conceitos que refletem a essência do G-Funk, 100s subtrai as letras tomadas pela criminalidade e versos “cotidianos” para isolar com o ritmo e expor suas próprias emanações líricas. Versos que passeiam pelos corpos e sensações aos domínios do rapper para estreitar as relações com o ouvinte. Por ora, apenas uma pequena mostra do que deve guiar os próximos lançamentos do artista, e, a julgar pela fluidez nada tímida das canções, preliminares bem sucedidas antes que o rapper penetre no ato final de sua obra.

100s

IVRY (2014, Fool’s Gold)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Chance The Rapper, Main Attrakionz e OutKast
Ouça: Different Type Of Love, Thru My Veins e Middle Of The Night

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.