Disco: “Jake Bugg”, Jake Bugg

/ Por: Cleber Facchi 28/11/2012

Jake Bugg
British/Indie/Folk
http://jakebugg.com/

Por: Fernanda Blammer

Quando o Jake Bugg nasceu em princípios de 1994, Bob Dylan, inspiração maior do britânico não vivia sua melhor fase. Seguindo com a divulgação do álbum World Gone Wrong – lançado poucos meses antes, em 1993 -, o cantor e compositor norte-americano pouco evidenciava a boa fase de princípios da década de 1960, se apresentando como mera cópia de si próprio. Paralelo ao trabalho do músico veterano, os irmãos Gallagher se trancavam em estúdio para o lançamento de Definitely Maybe, estreia do Oasis que chegaria dali alguns meses e visivelmente a segunda maior fonte de influência do jovem Bugg.

Passados quase 20 anos desde o nascimento do músico inglês, o cenário musical que o cercava não apenas se transformou, como foi invertido em alguns pontos. O Oasis, antes um grupo iniciante, deixou de existir há um bom tempo, enquanto Dylan vez ou outra aparece com algum trabalho de relevância, esbanjando a boa forma que lhe garantiu destaque e rompendo com os pequenos erros do passado. A influência destes dois projetos, entretanto, permanece a mesma para Bugg, resultado óbvio nos quase 40 minutos do autointitulado primeiro disco do artista inglês que vem sendo apontado como o “maior herdeiro de Bob Dylan”.

Praticamente apadrinhado por veículos como NME, o cantor e compositor conduz grande parte do aclamado primeiro álbum em cima de acordes simples de violão e, naturalmente, os vocais rabiscados por doses de ruídos caseiros. A proposta, além de ampliar a conexão com a sonoridade artesanal dos primeiros álbuns de Dylan, serve para distanciar Bugg de grande parte do que guiou e ainda direciona a música britânica há mais de uma década. Acústico e agradável sem cair nos exageros pretensiosos do Mumford & Sons, o projeto até soaria atrativo se não fosse pelo excesso de referências copiosas que o definem.

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Se na abertura do disco Lightning Bolt firma uma intensa conexão com Dylan – muito mais pelos vocais e pela sonoridade do que pela letra vaga em si -, Two Fingers, a canção seguinte arrasta Jake diretamente para a sonoridade travada em solo inglês na época em que o garoto nasceu. Melódica e acompanhada por um refrão pegajoso, a canção rompe com o folk e a acústica inicial, delineando em poucos minutos uma intensa relação com o britpop da década de 1990. A divisão garante incentivo para o restante do álbum, que se mantém até a última música dentro da mesma medida instrumental.

Por vezes esbarrando na carreira solo de Noel Gallagher, e em outras soando como uma versão Lo-Fi do primeiro álbum do The Kooks, em cada nova faixa apresentada, Bugg se projeta como a figura central de um trabalho inteiramente pessoal e até tolo em alguns momentos por conta dessa preferência. Tratando sobre amor, passagens cotidianas e até mesmo algumas composições que parecem existir apenas em virtude de suas temáticas – como Country Song -, o disco morre aos poucos, tanto pela repetição das formas, como o número excessivo de canções – 14 no total. Sobra até para Coldplay – do disco Parachutes – aparecer vez ou outra, como na amarga Broken.

Esforçado de maneira geral, Jake Bugg deixa marcas de que é sim um bom cantor e compositor, apenas desnorteado e em busca de uma sonoridade de fato distinta e não copiada. Talvez os holofotes apontados pela imprensa britânica acabem cegando o jovem músico, que se for capaz de ultrapassar os elogios exagerados e a conexão demasiado copiosa com suas inspirações, pode vir a surpreender. Por enquanto, apenas um disco simples de um garoto que tenta ser grande, mas não consegue.

jake Bugg

Jake Bugg (2012, Mercury)

Nota: 4.5
Para quem gosta de: The Kooks, Bob Dylan e The Last Shadow Puppets
Ouça: Lightning Bolt

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.