Disco: “Jogo de Palavras”, Vinícius Castro

/ Por: Cleber Facchi 22/07/2011

Vinícius Castro
Brazilian/Indie/Singer-Songwriter
http://viniciuscastro.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

 

São muitos os focos que delimitam a criação de um grande disco. Alguns optam por um som inventivo, experimental e nunca antes elaborado. Alguns surgem para revisar alguma época, trazer de volta o que foi sucesso no passado. Já outros precisam apenas de palavras, um mínimo agrupado de letras, um encaixe exato de alguma sentença, versos que pareçam simples, mas quando observados dentro de um todo revelam a mais pura e criativa forma de poesia. É fazendo uso dessas mesmas palavras, desse mesmo encaixe preciso de versos que o recifense Vinícius Castro apresenta seu primeiro disco, que como o próprio nome diz traz uma verdadeiro Jogo de Palavras.

Não estranhe a semelhança, muito do que conduz a prima obra do cantor e compositor pernambucano vem do ativo cruzamento entre a literatura e a musica, que de tempos em tempos resulta em alguns tratados “audioliterários” como os primeiros álbuns de Arnaldo Antunes em carreira solo, ou mesmo um Chico Buarque pós anos 80. Entretanto, em sua estreia Castro divide-se na mesma medida, tanto para um lado, quanto para o outro, trazendo para seu pequeno condensado de composições uma medida exata entre o texto e a música, algo que fica mais do que esclarecido do princípio ao fim do disco.

Além de ativo na composição de trilhas sonoras para curtas-metragens, peças de teatro, e claro, suas individuais composições, o músico erradicado no Rio de Janeiro passeia ativamente pela produção literária, sendo que recentemente lançou o cômico O Sapo Distraído, livro infantil que brinca ativamente com os jogos de palavras e expressões populares que envolvem os sapos, como “engolir sapo” ou “comer mosca”. É através desse mesmo universo lúdico (e até pueril em alguns momentos), que o músico delimita as bases de seu primeiro registro em estúdio, um registro que passeia por diversos terrenos em busca de um resultado apenas seu.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=sdeBVlq11_A]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=3QX1N4jyfiY]

Se vastos são os jogos de palavras que delimitam a obra de Castro, ainda mais vastas são suas experiências musicais. Logo de cara o músico manda para cima do ouvinte um tango, através da grandiosa A Sentença, faixa que exemplifica meticulosamente o trançar entre os versos (sempre repletos de trocadilhos) e a música. Há ainda espaço para o Blues, na melancólica Blues da Solidão, tonalidades regionalistas na climática Carcaça, uma aura jazzística em Achados e Perdidos (uma das melhores do disco), rock clássico em Roque das Antigas e até um toque de música latina na calorosa Casa ao Revés.

Bem humorado, o músico evita que suas composições caiam em um encaixe ou uma construção excessivamente forçada, fazendo com que mesmo dentro do vasto agrupado de palavras e versos que vão se esbarrando ao longo do álbum,se encontrem de maneira natural e cômica. O resultado desse cuidadoso entrelaçar de versos resulta em verdadeiros achados, como a radiante Dos pés a Cabeça, de longe uma das melhores e mais divertidas composições do disco, uma faixa capaz de dialogar tanto com o público infantil, quanto com o público adulto, sem limites ou qualquer tipo de distinção.

Para além de suas canções, o álbum proporciona através da página do músico uma série de ilustrações, imagens feitas por artistas diversos e que buscam retratar de alguma maneira o sentimento ou o conteúdo das composições presentes no disco (destaque para a pequena história em quadrinhos feita para a faixa Blues da Solidão). Doce, cômico e instrumentalmente vasto, o álbum de estreia de Vinícius Castro revela um trabalho que vai para muito além de um mero encaixe certeiro de palavras, um álbum que brinca com a lógica do ouvinte, restabelecendo seus tempos de criança ou reformulando sua ótica como adulto.

 

Jogo de Palavras (2011, Independente)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Cícero, Música de Ruiz e Arnaldo Antunes
Ouça: Dos Pés a Cabeça e Blues da Solidão

 

[soundcloud width=”100%” height=”345″ params=”g=1&color=&theme_color=&show_comments=” url=”http://api.soundcloud.com/playlists/678159″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.