Disco: “June Gloom”, Big Deal

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2013

Big Deal
Shoegaze/Indie Rock/Alternative Rock
http://bigdealmusic.bandpage.com/

Por: Fernanda Blammer

Big Deal

Alice Costello e Kacey Underwood eram apenas crianças quando Kim Gordon e Thurston Moore viviam a fase mais inventiva do Sonic Youth. Responsáveis por clássicos como Daydream Nation (1988), Goo (1990) e Dirty (1992), o ex-casal nova-iorquino ecoa com beleza e natural transformação no trabalho da dupla britânica, que ao alcançar o segundo registro com o Big Deal reforça ainda mais a relação com o shoegaze e as distorções firmadas há duas décadas. Sob o título de June Gloom (2013, Independente), o novo álbum amplia de forma cuidadosa tudo aquilo que o duo apresentou há dois anos, transformando o cenário caseiro de Lights Out (2011) em um espaço de invento.

Como se fossem habitantes de um quarto tímido, perfumado suavemente pelo ruído, Costello e Underwood utilizaram de cada uma das 12 faixas do trabalho passado como uma confissão. Um conjunto de músicas sobre o fim de relacionamentos recentes (Chair), necessidade de crescer (Cool Like Kurt), dolorosos tratados instrumentais (Summer Cold) e todo um jogo de composições arquitetadas de forma compacta, um completo oposto daquilo que o casal entrega em nova fase. Menos focado na relação voz-guitarra, o segundo disco busca pela novidade indo em encontro aos instrumentos, efeito que ocupa em totalidade o bloco recente de composições.

Contando com o mesmo número de faixas do disco anterior, June Gloom cresce em uma medida raivosa e branda na mesma intensidade. Durante a primeira metade do álbum, cada faixa que se esconde pelo disco revela uma sonoridade de íntima perversão em relação a tudo que abasteceu o registro passado. São músicas como Teradactol, que se dividem entre o Shoegaze e lampejos de Metal, efeito que naturalmente se contrasta quando próximo dos vocais de Costello. Há também músicas como Swapping Spit e In Your Car, que revivem o rock alternativo da década de 1990 – principalmente Pixies e Sonic Youth – em uma medida comercial, valorizando sempre as melodias de vozes.

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Passada a agitação inicial – que tem fim nos riffs de Teradactol -, June Gloom declina e se aproveita dos mesmos acertos instrumentais do registro passado. Ainda que a presença ativa de uma bateria, baixo e doses extras de guitarra destoem do que foi apresentado, o esforço comportado de Pristine, Pillow e demais composições expostas no trabalho amortecem o ouvinte em uma calmaria natural. Com uma presença maior dos vocais de Underwood, o álbum se esparrama entre canções que lidam com a leveza sem se desligar dos ruídos, valorizando solos alongados que em alguns instantes remetem aos inventos do Ride e Nowhere ou mesmo do My Bloody Valentine no álbum Isn’t Anything (1988).

Como se a crescente explosão de sons e ruídos que se concentra na abertura do disco lentamente perdesse força, Costello e Underwood chegam ao fim do álbum em meio a sussurros. Melhor exemplar de toda essa representação suave da obra, Little Dipper troca as guitarras por uma incorporação atmosférica de violões. Enquanto o casal se divide em uma medida homogênea de vozes, acordes simples passeiam confortavelmente, abrindo espaço para o que sustenta o eixo final do trabalho. Por mais que Pg, canção seguinte, recupere as guitarras, a dupla passa a evitar conscientemente o exagero, seguindo assim até que os sons cresçam distorcidos nos minutos finais de Close Your Eyes, ligando a canção novamente ao princípio do disco.

Assim como no resultado exposto em Lights Out, June Gloom é um trabalho que parece ambientado dentro de um cenário específico e desvendado em totalidade apenas pela dupla. Não há no entendimento do casal a necessidade de empurrar as composições ou qualquer representação lírica do álbum para cima do ouvinte, pelo contrário, o segundo álbum do Big Deal se apresenta apenas como um convite, deixando ao público decidir se interage ou não com as mesmas experiências confessionais da dupla.

Big Deal

June Gloom (2013, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: No Joy, 2:54 e Warpaint
Ouça: In Your Car, Close Your Eyes e Teradactol

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.