Disco: “Junk”, M83

/ Por: Cleber Facchi 12/04/2016

Artista: M83
Gênero: Electronic, Synthpop, Pop
Acesse: http://ilovem83.com/

 

Fantoches coloridos, enlatados norte-americanos, programas infantis, músicas orquestradas por sintetizadores e um imenso universo de referências nostálgicas. Em Junk (2016, Naïve / Mute), sétimo álbum de estúdio M83, a visita iniciada por Anthony Gonzalez à década de 1980 assume um conjunto de novas formas e preferências instrumentais. Longe do som testado em Hurry Up, We’re Dreaming (2011), a busca declarada do multi-instrumentista por um som essencialmente caricato, pop e ancorado em memórias da infância.

Primeiro registro de inéditas do M83 em mais de meia década, Junk parece seguir exatamente de onde Gonzalez parou no álbum de 2011. Assim como em Raconte-Moi une Histoire, composição inspirada em uma extinta publicação francesa destinada ao público, durante toda a execução da presente obra, Gonzalez e o mutável time de colaboradores – entre eles Beck, Susanne Sundfør, Steve Vai e a conterrânea Mai Lan – buscam suporte em programas de TV, trilhas sonoras, séries e todo um catálogo de temas empoeiradas que marcaram a cultura pop há mais de três décadas.

De séries como Punky – A Levada da Breca (1984-1988), visivelmente homenageada em Moon Crystal, quinta faixa do disco, passando pelo pop melancólico de For The Kids, composição que parece trabalhada em cima de She’s Out Of My Life, de Michael Jackson, Gonzales cria uma infinidade de pontes para o som, costumes e tendências que estimularam a própria infância e adolescência. Uma obra de essência pueril, conceito ressaltado pelos versos e arranjos de músicas como The Wizard e Laser Gun, criando um possível diálogo com o passado de qualquer jovem adulto.

Repleto de faixas que carregam a mesma fórmula dançante de Midnight City e todo a base comercial testada em diversas canções do disco anterior – vide Do It, Try It e Go -, o grande problema de Junk acaba sendo o ritmo que prejudica fortemente o rendimento da obra. Antes mesmo de completar o primeiro ato do trabalho, Gonzalez já dispersa parcialmente a atenção do público com uma seleção de músicas morosas, conceitualmente redundantes. Faixas que soam repetitivas, como Walkway Blues e Bibi The Dog.

Passada a chuva de sintetizadores dançantes que cai em Laser Gun, uma das três faixas que contam com a presença da cantora francesa Mai Lan, o ritmo do álbum desacelera ainda mais. É fácil sentir o peso da obra em composições como Tension, Ludivine e até na canção de encerramento do álbum, a melancólica Sunday Night 1987. Uma constante sensação de que Gonzalez decidiu reciclar parte do som atmosférico produzido para as trilhas sonoras de Oblivion (2013) e You and the Night (2013). Uma ausência de fôlego talvez evidente durante o lançamento de Hurry Up, We’re Dreaming, porém, equilibrada pela montagem e rico acervo de faixas que abastecem o registro.

Imagine um trabalho inspirado em clássicos como Lua de Cristal, programas infantis aos moldes da TV Colosso, discos de cantoras como Eliana, Angélica e Mara Maravilha, além de toda a programação da TV Cultura nos anos 1990. Ainda que ambientado em um conceito particular, é exatamente isso que Antony Gonzalez busca explorar em Junk. A visão nostálgica de um adulto sobre o final da década de 1980. Uma curiosa visita ao passado, por vezes divertida (Laser Gun), e até emocionante (Solitude), mas que na maior parte do tempo parece funcionar apenas na mente de Gonzalez.

 

Junk (2016, Naïve / Mute)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: School of Seven Bells, Cut Copy e A Sunny Day In Glasgow
Ouça: Go, Laser Gun e Do It, Try It

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.