Disco: “Júpiter”, Silva

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2015

Silva
Nacional/Indie Pop/Electronic
http://silva.tv/

 

Batidas e sintetizadores crescentes, o flerte com o R&B, a rima de Don L e o encaixe pontual da voz de Lulu Santos. Quando lançou a inédita Noite, em junho deste ano, Silva não apenas presenteou o próprio público com uma das canções mais poderosas da recente safra do pop nacional, como parecia indicar o caminho que seria seguido em um futuro registro de estúdio. Todavia, longe da base pulsante que define a citada composição, em Júpiter (2015, Slap / Polysom), terceiro álbum de inéditas do músico capixaba, são os versos e temas contidos que abastecem cada uma das faixas do trabalho.

Para esse disco, eu quis ser o mais minimalista possível. Usei esboços que venho trabalhando desde o início de 2014, e a maioria das músicas foram feitas na estrada, entre voos, quartos de hotéis e ideias gravadas no celular“, explicou o cantor no texto de apresentação da obra. De fato, perto dos dois últimos álbuns de Silva – Claridão (2012) e Vista Pro Mar (2014) -, Júpiter se mostra como o trabalho mais econômico, tímido. Uma redundante base criada em cima de batidas eletrônicas, guitarras climáticas e a voz quase sussurrada do cantor, espalhando versos de amor e separação.

Canção escolhida para apresentar o disco, Eu Sempre Quis indica grande parte do caminho percorrido por Silva durante o primeiro ato da obra – finalizado com a chegada da instrumental Io. Enquanto detalha uma sequência de versos perfumados pelo romantismo – “Você e o seu olhar / Que me fez perder o rumo / Firmou, catequizou / Com seu beijo o meu futuro” -, uma base lenta, típica dos trabalhos de SBTRKT e The XX se espalha ao fundo da canção. Uma colisão de referências assertiva, íntima dos últimos registros do cantor, porém, exaustiva dentro estrutura monotemática que também abastece as irmãs Sufoco, Feliz e Ponto, além da faixa-título.

São quase 15 minutos em que Silva parece andar em círculos, se alimentando de uma mesma fórmula criativa. Falta novidade. Prova disso ecoa logo na homônima faixa de abertura do disco. Em um jogo fechado de batidas, guitarras e sintetizadores, o cantor passeia pelo cosmos e diferentes cidades – “Paris, Madrid, São Francisco” – em busca de um metafórico refúgio romântico. Nada que Frank Ocean, inspiração confessa do músico capixaba, já não tenha apresentado em Lost, do disco Channel, Orange (2012). Da forma como os versos se encaixam ao ato final da canção, tudo soa como uma reciclagem do material originalmente apresentado pelo artista norte-americano. 

Entre tropeços e instantes de clara repetição, Silva reserva para os momentos finais do disco as peças mais coesas de Júpiter. São faixas como a apaixonada Marina, uma curiosa interpretação do trabalho de Dorival Caymmi; a melancólica e dançante Deixa Eu Te Falar ou mesmo a derradeira Notícias. Músicas que resgatam a mesma base melódica aplicada em Claridão e Vista Pro Mar, mantendo firme o conceito “minimalista” que orienta a presente obra. Nada que se compare ao trabalho executado na dobradinha Nas Horas e Se Ela Volta. Exemplos do romantismo honesto do compositor – “Há quem duvide do verbo amar / Eu conjugo o verbo todo“-, mas que parece esquecido ou temporariamente suspenso na sequência de faixas que inauguram o disco.

De inegável apelo comercial, feito para agradar o público que conheceu o trabalho de Silva em Okinawa, parceria com Fernanda Takai, Júpiter está longe de parecer um álbum ruim. Boas composições estão escondidas em grande parte da obra, essencialmente coesa em sua proposta. Trata-se apenas de uma reciclagem de ideias, como se Silva brincasse de ser “Silva” em uma evidente zona de conforto. Difícil não lembrar de Marisa Monte, artista que tanto inspira o trabalho do músico capixaba, mas que há mais quase duas décadas a habita o mesmo cercado criativo, livre de inovação. Há emoção, faixas executadas com coerência e versos sempre acessíveis, mas nada que disfarce a constante sensação de dar voltas e mais voltas sem sair do mesmo lugar.

 

Júpiter (2015, Slap / Polysom)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Mahmundi, Tiago Iork e Fernanda Takai
Ouça: Nas Horas, Notícias e Eu Sempre Quis

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.