Disco: “Just To Feel Anything”, Emeralds

/ Por: Cleber Facchi 23/10/2012

Emeralds
Experimental/Electronic/Ambient
https://www.facebook.com/pages/Emeralds/

Por: Cleber Facchi

Poucas bandas conseguem definir com tamanho acerto e expressão a presença de cada membro quanto a norte-americana Emeralds. Formada na cidade de Cleveland, Ohio em meados de 2006, o projeto nada mais é do que a união de três multi-instrumentistas partidários de propostas e conceitos sonoros distintos, músicos que se encontraram para converter toda a multiplicidade de sons por eles produzidos em um só universo, no presente caso, a música eletrônica. Interessados pelas mesmas experiências ambientais ministradas por Brian Eno e outros gigantes do gênero há algumas décadas, o grupo faz da diversidade de preferências que os acompanham um caminho seguro para uma gama de experimentos que nunca cessam.

Menos climático que o antecessor (e excelente) Does It Look Like I’m Here? (2010), o recente Just To Feel Anything (2012, Editions Mego) afasta a tríade formada por John Elliott, Steve Hauschildt e Mark McGuire das preferências de outrora, firmando em cada nova composição uma avalanche volumosa de experiências totalmente renovadas e necessárias para a continuidade do projeto. Por vezes próximo do que cada membro desenvolve em carreira solo – principalmente em relação as guitarras ambientais que acompanham toda a trajetória McGuire -, o novo disco é um trabalho que se distancia da sutileza a qual a banda mergulhou há dois anos, estratégia que priva os ouvintes da mesma soma de acertos do passado, ao mesmo tempo que acrescenta uma nova paleta de cores e sons ao trabalho do grupo.

Se ao longo do disco anterior toda a massa sonora expressa pela tríade convergia de forma mística, quase liquefeita em alguns instantes (como bem representa The Cycle Of Abuse) ao pisarmos no recente disco somos presenteados com um projeto de completa oposição. Logo de cara as batidas crescentes de Before Your Eyes, canção de abertura do álbum, imprimem na execução da obra um toque quase dançante, como se a banda em alguns momentos se apropriasse da mesma lógica e preceitos instrumentais que regem parte da discografia de Daniel Lopatin – muito do que define os momentos mais densos do Games e Ford & Lopatin estão pelo trabalho.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=afcjrbBDzts?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=qEcnlP7lkgA?rol=0]

Essa necessidade de buscar por um trabalho menos atrelado ao drone e mais à eletrônica de forma convencional – em alguns momentos até se livrando totalmente da carga experimental -, faz do presente álbum uma forte ruptura em relação aos entalhes sinestésicos que tanto definiam as hipnóticas emanações testadas em um passado recente da banda. Por vezes é como se a mesma verve de experiências eletrônicas esbarrasse de maneira intencional naquilo que Tragedy & Geometry, último trabalho de Steve Hauschildt imprime em cada canção, marca bem expressiva nas exposições semi-matemáticas que regem Adrenochrome. A própria linearidade dos ruídos, bips e teclas evidencia isso de forma bastante consciente, como se diferente do registro anterior, onde tudo se encaminhava de forma harmônica, cada integrante duelasse entre si.

A forte transformação que comanda toda a extensão do trabalho traz de volta o grupo aos mesmos conceitos caseiros que tanto permeiam a somatória de registros artesanais gravados entre a formação da banda e 2008, quando o primeiro disco “oficial” do trio foi apresentado. Ainda que se aproxime de conceitos totalmente distintos dos que definem todo o trabalho anterior, não são poucos os momentos em que os músicos se valem de acertos típicos do álbum passado. Exemplo bastante claro disso está na rapidinha The Loser Keeps America Clean, que entre amontoado de ruídos desagua em na ambientação doce da faixa-título, canção que se não fosse pela maior predisposição às batidas soaria como uma faixa irmã da acolhedora Science Center, do álbum de 2010.

Por vezes lembrando um Oneohtrix Point Never menos obscuro, ou talvez um Fennesz nos momentos mais ensolarados do álbum Endless Summer, Just To Feel Anything é um trabalho que em nenhum momento retrocede os acertos já conquistados pela banda, pelo contrário, eleva-os a um novo e curioso patamar. É como se o trio buscasse a todo instante uma medida acessível e atrativa entre os experimentos climáticos do trabalho passado e um reforço menos denso do que cada um explora em carreira solo. Um esppaço onde sintetizadores, guitarras e pequenos encaixes eletrônicos convivem de forma pacífica, ainda que de maneira instigante e nada óbvia em maior parte do tempo.

Just To Feel Anything (2012, Editions Mego)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Mark McGuire, Oneohtrix Point Never e Fennesz
Ouça: Just To Feel Anything, The Loser Keeps America Clean e Adrenochrome

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/63680137″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.