Glue Trip
Brazilian/Chillwave/Psychedelic
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Por: Cleber Facchi

Existe um sentimento curioso de fuga dos excessos e libertação na estética que define a obra do Glue Trip. Projeto assumido pelos músicos Felipe Augusto e Lucas Moura, a banda de João Pessoa, Paraíba pode até fluir como uma representação nacional dos sons e essências que definem a Chillwave, entretanto, a leveza dos instrumentos e o fluxo das vozes aproximam o duo de um novo resultado. Como se fosse gravado à beira mar ou imerso em algum cenário paradisíaco, Just Trippin EP (2013, Independente), obra de apresentação da dupla, materializa no toque sublime dos arranjos um movimento lento, mas de explícita descoberta e natural complemento para o trabalho.

Construído ao longo dos meses, desde que Elbow Pain foi oficialmente apresentada no Soundcloud da banda, o registro traduz no catálogo de referências um ponto visível de transformação. Como pequenos experimentos isolados, cada uma das cinco músicas do álbum navegam por distintas essências e interpretações específicas. Pequenas construções sonoras que se alimentam do que há décadas define a cena estrangeira ou mesmo a música nacional. Há desde passeios pela psicodelia dos anos 1960 (Lucid Dream), um mergulho sutil na bossa nova (Elbow Pain) ou mesmo flertes com a eletrônica (Sophie). Uma constante apropriação de preferências que nunca ecoa como plágio ou em sentido de redundâncias, apenas novas interpretações.

O mais curioso dessa proposta não está na individualidade das faixas, mas em perceber como músicas construídas em diferentes etapas ao longo do ano mantém firme a proximidade instrumetnal. Da singeleza que inaugura o EP, até os pequenos experimentos conquistados na faixa de encerramento, tudo dança em um mesmo palco de preferências estéticas, o que derruba sem dificuldade a possível ausência de novidade que ocupa o lançamento. Em diversos momentos, a sensação de completude parece reforçar parte da fragilidade de algumas canções, como se La Edad Del Futuro ou mesmo a morna Birds Singing Lies encontrassem seu melhor detalhamento apenas dentro da estufa criativa do EP.

Mais do que uma obra construída em cima de pequenas essências pré-definidas, Just Trippin é um trabalho que aos poucos estabelece as regras para o futuro do Glue Trip. Da composição mística das vozes (íntimas do Dream Pop), passando pelo catálogo versátil de instrumentos, cada instante da obra antecipa aspectos específicos do que pode vir a conduzir a obra de Augusto e Moura em um futuro próximo. A própria Sophie, no encerramento do EP, assume nesse teor de “preparação” um ponto ativo de crescimento. São melodias que repetem a essência de Washed Out e outros projetos estrangeiros, porém, em um enquadramento próximo do soul, raro em demais obras do gênero.

Dividido de forma nítida entre o onírico e o lisérgico, o álbum acumula em quase 30 minutos de duração um jogo de experiências brandas, difíceis de serem evitadas. Ainda que os versos em inglês possam distanciar o duo de uma parcela maior do público, o fluxo acolhedor dos instrumentos ultrapassa essa barreira. Assim, mais do que um registro em estúdio, Just Trippin se transforma em uma morada para sons e essências encaixadas em um cenário isolado, particular da própria Glue Trip. Uma rápida passagem pelo ambiente em plena expansão que aos poucos parece construído pela dupla.

Just Trippin EP (2013, Independente)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Mahmundi, Dorgas e Boogarins
Ouça: Lucid Dream e Elbow Pain

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