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Críticas

Miguel

: "Kaleidoscope Dream"

Ano: 2012

Selo: Bystorm / RCA

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Jeremih e Frank Ocean

Ouça: Don’t Look Back e How Many Drinks?

8.5
8.5

Disco: “Kaleidoscope Dream”, Miguel

Ano: 2012

Selo: Bystorm / RCA

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Jeremih e Frank Ocean

Ouça: Don’t Look Back e How Many Drinks?

/ Por: Cleber Facchi 09/10/2012

Talvez ainda seja cedo para assumir isso, mas é bem provável que a sequência experimental de três álbuns que representam a estreia de Abel Tesfaye (The Weeknd) no último ano tenha apresentado o R&B a todo um variado novo público. Quem acabou de fora dessa mesma onda, ou torceu o nariz para as reverberações densas e sonorizações lânguidas do gênero, muito dificilmente escapou da melancolia hipnótica promovida logo em sequência pelo também novato Frank Ocean e o ótimo Channel, Orange– já apontado como um dos melhores álbuns de 2012. Entretanto, é preciso notar que nem Tesfaye e muito menos Ocean serão capazes de atingir o grande público de maneira tão fervorosa e direta quanto o que entrega o californiano Miguel com o recente Kaleidoscope Dream (2012, Bystorm/RCA).

Segundo registro em estúdio do rapper situado em Los Angeles, Califórnia, o álbum tem conquistado lentamente uma sequência de publicações musicais – gigantes como Stereogum, Pitchfork e Spin já cederam aos acertos do registro -, bem como o próprio público. Versão menos óbvia do que Usher vem desenvolvendo há mais de uma década (ou talvez uma extensão inteligente do que o mesmo cantor apresenta no decorrer do ótimo Looking 4 Myself), o trabalho converte as rimas confessionais (e por vezes eróticas) do rapper em um material atrativo mesmo aos mais exigentes ouvintes. Contudo, é com a grande fatia do público que o norte-americano se relaciona.

Brincando de maneira quase convencional com os mesmos referenciais que há anos definem os rumos do R&B, Miguel alcança com o novo disco uma medida que flutua constantemente entre o pop e um delineamento de conceitos próprios, peculiares e atrativos na mesma medida. Sem medo de apostar em um resultado comercial e ainda assim capaz de fugir do óbvio, o rapper e a pequena soma de produtores que o acompanham – incluindo Salaam Remi e o requisitado Jerry Duplessis – pisam em um terreno que muito se aproxima de Kanye West durante a produção dos discos The College Dropout (2004) e Late Registration (2005): o campo das melodias.

Longe de evidenciar apenas uma sucessão de boas rimas – em sua grande maioria faixas que tratam sobre amor, separação e sexo -, Miguel parte em busca de bases bem direcionadas e que se relacionam de maneira concisa com os compósitos líricos que figuram pelo disco. Surgem assim composições fáceis, criações marcadas pelo delineamento sonoro épico (Don’t Look Back) e outras que mesmo sutis (Pussy Is Mine), mantém o mesmo acabamento atrativo até o encerramento da obra. Mesmo pisando em um solo mais “complexo” em certos pontos do trabalho, em nenhum instante o californiano se desprende da proposta radiofônica assumida na inaugural Adorn.

Para além da verve de experiências que redefiniram o R&B ao longo de toda a década de 1990, Miguel vai de encontro ao que uma pluralidade de outros representantes da música negra definiram em seus próprios trabalhos. Surgem assim diálogos confessos com a obra de Stevie Wonder (Innervisions se anuncia involuntariamente em boa parte do disco), aproximações com os momentos mais sombrios da obra de James Brown e até uma curiosa relação com o que Beyoncé desenvolve no decorrer do ótimo 4, último álbum de estúdio da diva pop. O rapper ainda tira tempo para raspar em trechos de Time of the Season, da banda britânica The Zombies no fechamento de Don’t Look Back.

Mesmo sem o acabamento conceitual firmado em Channel, Orange, distante de incorporar a mesma melancolia ruidosa que flutua na trilogia do The Weeknd e assumindo o lado pop sem esbarrar nos mesmos referencias de Drake, Miguel assume com o presente álbum  um projeto de rumos próprios (muito) bem definidos. Com um resultado menos óbvio do que o entregue no debut All I Want Is You (lançado há dois anos) o cantor ocupa de maneira atrativa todos os cantos do trabalho, que parece pronto para atrair e capturar os mais variados públicos e tipos específicos de ouvintes.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.