Disco: “Kellies”, Las Kellies

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2011

Las Kellies
Argentina/Indie Rock/Female Vocalists
http://www.myspace.com/laskellies

 

Por: Fernanda Blammer

De todas as palavras utilizadas para descrever o trabalho do trio argentino Las Kellies sem dúvidas “surpresa” é a melhor delas. Na verdade, a estreia de Ceci Kelly (guitarra e vocal), Betty Kelly (baixo e vocal) e Sil Kelly (bateria e vocal) é bem mais do que uma simples surpresa. Quem imagina que ao se deparar com o debut da tríade original de Buenos Aires se encontrará com mais uma sucessão de sons enfadonhos, copiando descaradamente Vivian Girls, Best Coast ou Dum Dum Girls terá uma revelação agradabilíssima, além de uma sequência de faixas carregadas pelo bom humor e por um ritmo completamente despojado.

Fruto óbvio da geração de garotas que cresceu ao som das Riot Grrrl Bands da década de 90, o trabalho do trio argentino parte de encontro ao que Bikini Kill, Le Tigre e até um pouco do que o The Breeders vieram a desenvolver em suas respectivas carreiras. Dotado de uma instrumentação tosca, porém tomado por uma energia contagiante, Kellis (2011, Fire Records) passa longe de ser um disco para pensar ou que pretende de alguma forma mudar o mundo com sua música, um álbum que parece movido por uma única e imutável fórmula: a da diversão.

Mesmo intrinsecamente ligado aos sons anunciados na década de 1990, o registro faz questão de dialogar com diferentes épocas da música. Amarrando a surf music da década de 60, o proto-punk dos anos 70, as guitarras dançantes do Gang Of Four até o indie rock despretensioso dos anos 2000, as garotas transformam seu primeiro álbum de estúdio em um trabalho que mesmo carregado por distintas referências acabam gerando uma visível identidade ao grupo. Uivos, gritos e solos de guitarras limitados chegam para tornar divertido o trabalho da banda, além de tornar impossível um não apego ao peculiar álbum.

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De todas as inúmeras possibilidades abordadas pelo grupo dentro do álbum, sem dúvidas a multiplicidade de idiomas é a que mais surpreende. Pensou em um registro dividido entre inglês e espanhol? Então se enganou feio. O que começa com um coro de vocais exaltando versos simplórios em inglês, logo faz honrarias ao idioma de origem das garotas com Perro Rompebolas, lembrando muito um Pixies da fase Surfer Rosa. Surgem ainda composições em japonês (Totsunootoshigo), francês (Suffisant) e até em português com a simplíssima Um dia no Brasil.

Não espere que ao desbravar o disco você irá encontrar um apanhado de versos maduros ou uma carga emocional e lírica, pelo contrário, a simplicidade e um toque quase pueril é o que delimita a funcionalidade do álbum. Na própria faixa “brasileira” as garotas passam a canção inteira brincando apenas com os versos “mais um, mais um”, se desvencilhando a todo momento de qualquer tipo de condução que torne seu trabalho sério ou adulto demais. De fato, boa parte do álbum é conduzido por faixas instrumentais, permitindo que o trio literalmente brinque com seus instrumentos, como é o caso de Bife Dos, quase a abertura de algum desenho animado.

Esse jogo de despretensão, comicidade e construções instrumentais simplistas é o que tornam o disco um reduto de composições ensolaradas e que sem muito esforço montam um álbum necessário e impossível de ser evitado. Não, as garotas do Las Kellies não são a salvação do rock e muito menos pretendem ser, apenas são uma resposta mais do que necessária e criativa ao amontoado de bandas de garotas que atualmente parecem fabricadas todas em uma mesma forma, sem identidade ou qualquer tipo de inovação. Entre as cópias e o que é tosco fique com a segunda opção.

 

Kellis (2011, Fire Records)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Vivian Girls, Le Tigre e Ponytails
Ouça: Prince in Blue e Um Dia no Brasil

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.