Disco: “Key To The Kuffs”, JJ DOOM

/ Por: Cleber Facchi 24/08/2012

JJ DOOM
Hip-Hop/Rap/Experimental
http://www.metalfacedoom.com/
http://www.jneirojarel.com/

Por: Gabriel Picanço

A lista de parceiros do rapper DOOM é respeitável, não há como negar. Já trabalhou com o incansável e versátil Danger Mouse; com dois dos produtores mais importantes do hip hop alternativo, Madlib e J Dilla; e com o principal membro do Wu Tang Clan, Ghostface Killah. Fora os dez volumes da série instrumental Special Herbs, três de seus nove álbuns de estúdio foram feitos “em dupla”. E o resultado do trabalho com tais colaboradores não fica somente na “diversão entre amigos”. Entre os três discos colaborativos, estão dois dos grandes destaques de sua discografia. The Mouse and the Mask, de 2005, deu a DOOM o reconhecimento do grande público e foi definitivo para posicionar Danger Mouse entre os principais produtores da atualidade. Um ano antes, o parceiro da vez havia sido Madlib, e o resultado foi um dos melhores álbuns da última década e possivelmente o grande clássico do hip-hop alternativo até o momento, o perfeito Madvillainy. Agora, com o ainda pouco conhecido produtor Jneiro Jarel, o mascarado DOOM sacramenta a tradição de boas parcerias.

O projeto JJ DOOM e o álbum Key To The Kuffs, quando anunciados, não eram exatamente o que os fãs de DOOM e a imprensa esperavam. A muito tempo já era prometido o álbum com Ghostface Killah e cada vez mais surgiam evidências de uma continuação de Madvillainy. Isso sem falar nos boatos que envolvem nomes pesadíssimos como Thom Yorke, Jonny Greenwood e Flying Lotus. Os dois, Porem, fizeram um ótimo trabalho. Key to The kuffs se revela uma gratíssima surpresa e consegue, ao mesmo tempo, saciar um pouco da sede dos fãs por novas produções e aumentar mais ainda as expectativas pelo que está por vir.

Key To The Kuffs traz o bom e velho DOOM em grande forma. Sobre o seu flow, por exemplo, continuam não existindo definições melhores que “lindo” e “hipnotizante”. O modo singular como constrói seus versos é de cair o queixo, ainda que seja difícil entender o que ele diz em alguns momentos (mesmo para quem tem o inglês como língua nativa), graças ao uso de palavras incomuns e o seu sotaque perdido entre o inglês britânico e o americano. O vocabulário de DOOM é outra qualidade que o faz único no mundo do hip hop. Em Guv’nor, ele chega ao extremo de encaixar, logo no primeiro verso do álbum, o inominável vulcão islandês Eyjafjallajökull. Na intensa Banished sintetizadores pesados que lembram o estilo quase industrial de El-P intensificam o clima e DOOM versa em uma velocidade nunca ouvida antes. E tudo sem perder o sentido, afinal, não são apenas rimas difíceis e inesperadas em versos bonitos.

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No álbum, além dos vocais, DOOM contribui um pouco com seu estilo de produção baseado no uso de samples instrumentais e vocais (principalmente os característicos diálogos retirados de desenhos animados antigos), mas deixa a composição de melodias e batidas inteiramente nas mãos de Jarel. A produção é detalhista e bem realizada, como se espera de um álbum de DOOM, e é marcada por beats mais agressivos e obscuros. As músicas de Key To The Kuffs trazem batidas mais quebradas e desencontradas do que o tradicional para DOOM e até mesmo em comparação com os trabalhos anteriores de Jneiro Jarel, normalmente mais jazzísticos.

Um outro elemento de grande importância em Key To The Kuffs são as participações especiais. Mesmo que em Bite the Thong a participação de Damon Albarn no refrão passe quase despercebida, em GMO Beth Gibbons (Portishead) é essencial e acrescenta muito. Nessa música a batida é menos agressiva, sendo a faixa conduzida por samples de cordas orquestradas e violão. Há algo na faixa que se contrapõe aos beats massivos e sinths mordazes das outras, mas aqui a clima sinistro se intensifica graças ao vocal característico de Beth combinado com a voz gravíssima e arrastada de DOOM.

Vale notar que o rapper não controla o microfone durante todo álbum. Fora uma ótima faixa instrumental quase no fim do disco, Viberian sun Part II, e duas colagens, em outras três faixas curtas DOOM não marca presença e deixa a condução na mão de convidados que se esforçam mas não chegam a altura. Mesmo assim, o cada vez mais copiado DOOM consegue provar que é, sem dúvidas, um dos melhores letristas do gênero, abordando temas que vão muito alem do encontrado na grande maioria da produção atual, sempre adicionando referencias estranhas e ate mesmo certa dose de humor. Além, é claro, de saber escolher colegas de trabalho como ninguém.

Key To The Kuffs (2012, Lex Records)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Madvillain, DANGERDOOM e Ghostface Killah
Ouça: GMO e Gov’nor

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.