Disco: “Kids On LA”, Kisses

/ Por: Cleber Facchi 27/05/2013

Kisses
Electronic/Indie/Alternative
https://www.facebook.com/blowkisses

Por: Cleber Facchi

Kids On LA

Talvez fosse o período em que foi lançado, a inevitável aproximação com a Chillwave de Toro Y Moi e tantos outros artistas recentes, mas o fato é que desde o primeiro disco, o resgate da década de 1980 sempre funcionou de outra forma para o Kisses. Enquanto boa parte dos artistas surgidos na mesma época pareciam inclinados a visitar o synthpop e as referências da época de forma lisérgica e naturalmente experimental, Zinzi Edmundson e Jesse Kivel sempre mantiveram um novo propósito, fazendo de The Heart of the Nightlife (2010), primeiro disco da banda, um convite para um universo de sensações coloridas e deliciosamente nostálgicas.

Enquanto as ambientações impostas em Bermuda, Lovers, People Can Do the Most Amazing Things e todo o catálogo de composições lançadas há três anos soavam como a trilha sonora para um dia quente de verão, ao apresentar o segundo registro da carreira um novo propósito toma conta do trabalho do casal. Intitulado Kids On LA (2013, Cascine), o registro fragmenta os sintetizadores coloridos e toda a massa de sons festivos do primeiro álbum para amortecer a proposta da dupla em um plano quase sombrio. Se o trabalho de estreia era uma delicada representação vespertina, o presente disco ruma para a baixa luminosidade noturna.

Mais compacto e doloroso em relação à proposta que abastecia as primeiras composições da dupla, tão logo Up All Night abre o registro, a felicidade exposta do debut desaparece por completo. Delimitado dentro do mesmo universo proposto por Twin Shadow, Sean Nicholas Savage e outros interessados em resgatar as referências mais dolorosas dos anos 1980, o trabalho se mantém pontuado por canções soturnas e quase frias. São músicas consumidas pela saudade e pequenos lamentos orquestrados como Adjust Glasses e The Hardest Part, canções que contrapõe todas as características anteriores do Kisses em prol de um novo delineamento lírico e principalmente musical.

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Afogado em um oceano de pequenas dores, Kids On LA traz em momentos estratégicos marcas do que apresentou o trabalho do casal há três anos. Melhor e mais atrativo exemplar de toda a obra está na construção de Funny Heartbeat, talvez a única continuação daquilo que foi acumulado com o primeiro disco. Aproveitando de boa parte dos elementos testados no álbum de estreia, a canção brinca com os sintetizadores, vozes e batidas dentro de uma formatação leve, quase preguiçosa em alguns momentos, o que rompe de forma adequada com o composto acinzentado que se derrama pelo restante da obra.

O respiro sombrio, entretanto, volta a preencher o registro a todo o instante, fazendo com que logo em seguida Air Conditioning traga o álbum de volta ao composto específico que circula pelo trabalho. Construída em cima de detalhes sombrios, a canção revela parte fundamental do que sustenta toda a obra, como o minimalismo dos teclados e a voz sempre presente de Edmundson. Contrariando o que parecia iniciado no primeiro álbum, a presença de Kivel decresce pela obra, sendo aproveitada de forma esporádica, quase como um instrumento extra e pontual.

Lançado com certo atraso em relação ao que Twin Shadow, Chad Valley ou mesmo os integrantes do Lemonade alcançaram no último ano, Kids On LA soa como um projeto naturalmente desgastado. A ausência de composições movidas pelo pop (presentes em todo o primeiro disco) somado à extrema aproximação entre as faixas torna o registro penoso em alguns momentos. É visível a necessidade da banda em provar de novas experiências dentro da mesma temática oitentista, entretanto, passear por um trabalho que se esquive da mesma assertividade e melodias de Weekend In Brooklyn, Women of the Club ou qualquer composição firmada na estreia da dupla é simplesmente um erro.

Kids on LA

Kids On LA (2013, Cascine)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Twin Shadow, Chad Valley e Lemonade
Ouça: Funny Heartbeat

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.