Disco: “Kill For Love”, Chromatics

/ Por: Cleber Facchi 30/03/2012

Chromatics
Electronic/Synthpop/Alternative
http://www.facebook.com/CHROMATICSBAND

Por: Cleber Facchi

O quarteto Chromatics de Portland, Oregon é um desses projetos realmente peculiares dentro da cena independente norte-americana. Com mais de uma década de atuação a banda composta por Ruth Radelet, Adam Miller, Nat Walker e Johnny Jewel já passou pela retomada do Pós-Punk que tanto caracterizou os primeiros anos do século XXI, conversou com a Italo Disco antes que isso fosse moda novamente, flertou com shoegaze, brincou com o indie rock e hoje se apresenta confortavelmente inserida dentro das suaves emanações do synthpop. Conscientemente tomados pela mutabilidade das composições, o grupo chega ao quarto álbum esbanjando maturidade e um som que, embora comum, ganha ares de novidade nas mãos e nas vozes da banda.

Longe da proposta de uma maioria absoluta de grupos relacionados ao panorama eletrônico ou partidários das mesmas ferramentas de trabalho – os sintetizadores -, o veterano projeto encontra na calma e na ambientação os elementos necessários para o desenvolvimento das músicas. Com o nome doloroso e forte de Kill for Love (2012, Italians Do It Better), o novo álbum mergulha na melancolia particular de cada um dos integrantes, mesclando letras existencialistas, um pouco de amores que não deram certo, sexo e temáticas inteiramente esculpidas por referências sorumbáticas e amarguradas.

Por todo o trabalho a banda deixa fluir o sentimento de abandono, desenvolvendo longas composições que se dividem entre o silêncio, parcos vocais e ruídos sintetizados, pondo o próprio ouvinte no centro dessa imensa onda macambúzia. Enquanto guitarras etéreas – que absorvem tanto referências vindas do pós-rock como o Dream Pop – vão construindo as teias por vezes invisíveis do trabalho, um colosso harmônico desenvolvido em cima de sintetizadores vintage promovem a construção de um ambiente essencialmente climático, estrutura que se inicia com a inaugural Into the Black e vai se intensificando no decorrer do disco.

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Se no inicio do extenso álbum de 17 faixas a banda acaba gerando o que parece ser uma trilha sonora fictícia (e alternativa) para a sobrenatural série Twin Peaks, expondo referências claríssimas ao trabalho do compositor Angelo Badalamenti (responsável pela trilha original da série), à medida que o álbum cresce, o foco passa a ser outro. As composições antes volumosas e marcadas pela variedade de instrumentos vão aos poucos se esvaziando, com o quarteto se inspirando agora em outra trilha, a composta para o recente e elogiado Drive – com a qual contribuíram lançando a doce e oitentista Tick of the Clock.

Muito do que Cliff Martinez, o grande responsável pela trilha sonora, desenvolveu ao longo da película vai se revelando no interior do que o Chromatics proclama no novo álbum. Tudo soa diminuto (não minimalista), aspecto que abraça mesmo os momentos mais dançantes do disco, como acontece em Lady ou na extensa These Streets Will Never Look the Same (com quase nove minutos). Em ambas as composições há sempre um cuidado, como se a banda evitasse ao máximo qualquer mínimo exagero, fazendo desse constante controle o elemento capaz de movimentar toda a estrutura do álbum. Soma-se a essa calmaria uma rápida passagem pelo R&B, além de flertes momentâneos com os primórdios da house music, sendo estes dois acréscimos os novos mecanismos de novidade para o disco.

Naturalmente extenso – ao todo o álbum soma mais de 90 minutos de duração – Kill for Love passa longe de soar como um trabalho penoso, seguindo ameno e hipnótico até os instantes finais. Em tempos onde o que vale cada vez mais é a construção de registros rápidos ou a constante valorização de singles, o tom conceitual aplicado ao álbum acaba por transformar o quarto registro do Chromatics em um produtor distinto, uma obra que invade a mente do ouvinte a cada doce e singela harmonia ou mínimo beat projetado pelos nostálgicos sintetizadores da banda. Apenas feche os olhos e deixe que eles te conduzam.

Kill for Love (2012, Italians Do It Better)

Nota: 8.5
Para quem gosta de:
Ouça: Kill for Love, Lady e These Streets Will Never Look the Same

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.