Disco: “Kin”, iamamiwhoami

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2012

iamamiwhoami
Swedish/Experimental/Electronic
http://www.iamamiwhoami.net/

Por: Cleber Facchi

Parece uma afirmação estranha, mas alguns artistas recentes talvez nem devessem investir na construção de um registro físico para ser lançado no mercado. Melhor exemplo disso está no trabalho da sueca Jonna Lee, artista multimídia responsável pelo experimental iamamiwhoami, um projeto que mistura áudio, vídeo e experiências de interatividade com o internauta dentro de uma única proposta. Tendo a música como objeto central de sua obra, a produtora passou os últimos três anos no desenvolvimento de um tratado que se materializa por completo agora, um registro musicalmente conciso, mas que parece melhor apreciado e bem relacionado dentro dos limites da grande rede e das tramas lá estabelecidas.

Tão logo ao surgimento dos primeiros vídeos da artista em meados de 2010, diversas hipóteses foram levantadas sobre a conceitual e nonsense obra. De um novo trabalho viral promovido pela sempre inventiva Lady Gaga à campanha publicitária audaciosa, muitos tentaram encontrar significados nos registros visuais não óbvios e sempre capazes de indagar o espectador. Afinal, quem não buscou resposta para os números que davam título aos curtos clipes que vez ou outra surgiam no Youtube, registros experimentais como 9.1.13.669321018 ou 15.6.6.9.3.9.14.1.18.21.13.56155?

Se inicialmente a própria assessoria de Jonna Lee negava qualquer participação da artista com os estranhos “virais”, aos poucos a farsa foi revelada, o que de forma alguma impediu que uma dose extra de expectativa fosse aplicada e um novo público em torno do iamamiwhoami fosse criado. Entretanto, assim como fez Lost com os fieis seguidores da série, implantando mistérios para depois solucionar de forma pouco revolucionária e até óbvia, o lançamento de Kin, primeiro registro oficial da artista, parece responder alguns desses “mistérios” de forma excessivamente simplista e sem grandes comoções, o que não impede uma absorção individual de sua obra – principalmente no que tange o caráter musical.

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O misto de trip-hop, experimentações eletrônicas que bem lembram a obra da conterrânea Karin Dreijer Andersson (The Knife/Fever Ray) e pequenas doses de um enquadramento pop, tornam o registro muito próximo de outros álbuns que há tempos circulam por aí. Embora previsível, Kin não é um trabalho, ruim, pelo contrário, se relaciona brilhantemente com a frente de artistas movidos pelo toque etéreo. Sonoridade que Grimes, d’Eon e tantos outros personagens do cenário independente têm investido nos últimos meses. Entretanto, ao mesmo tempo em que agrada o álbum frustra pela incapacidade de Lee em promover um registro tão grandioso quanto a expectativa que ela própria criou no decorrer de três anos. Parece até que ele está atrasado em relação a uma série de discos que surgiram nos últimos meses, trabalhos como Qurantine de Laurel Halo ou Ekstasis de Julia Holter.

Talvez quem se deparar com o registro sem ter conhecimento prévio da proposta da artista até possa se relacionar bem com faixas como Idle Talk, Goods e demais composições previamente apresentadas por Lee nestes últimos anos. De fato, o caráter hipnótico da tríade de abertura formada por Sever, Drops e Good Worker faz do registro um trabalho atrativo, mesclando doses de Dream Pop com uma leve carga de temperos eletrônicos, proposta que aos poucos se perde com o passar do disco, mas consegue acertar nos últimos instantes com o fechamento da comercial e velha conhecida Goods.

Inegável é a força do registro que em poucos segundos põe os ouvidos em estado de alerta, como se o ouvinte esperasse por algum ruído tão revelador e instigante quanto o que circulava nos iniciais lançamentos de Jonna Lee. Kin, entretanto, deve ser apreciado com cuidado, afinal, por mais que as doces melodias propostas pela artista encantem tanto quanto o canto de uma sereia há pouca novidade ali. Tudo ecoa como uma versão mais futurística e reclusa do que Kate Bush vem desenvolvendo há mais de três décadas, com a artista ocupando certas brechas para soar inédita e rara, algo que o iamamiwhoami até consegue enganar, mas ainda está longe de ser.

Kin (2012, Independente)

Nota: 7.5
Pasra quem gosta de: Grimes, Fever Ray e Laurel Halo
Ouça: Play

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.