Disco: “Kindred EP”, Burial

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2012

Burial
Electronic/Dubstep/Experimental
http://www.hyperdub.net/

Por: Bruno Leonel

Prolixidade é a palavra de ordem para William Bevan – Burial para os íntimos. Mesmo com seu trabalho sendo recebido com entusiasmo pela crítica, o produtor parece continuar em um rumo mais cauteloso e aparentemente sem sucumbir à pressão de constantemente lançar novos álbuns para o público. Para se ter uma ideia, o último trabalho de “longa duração” do produtor britânico foi o competente Untrue de 2007 e de lá pra cá vários EPs no caminho. Da mesma forma que Aphex Twin e toda a “velha guarda“ da IDM, o Sr.Burial parece preferir não se manter tanto nos holofotes e deixar o som falar por si próprio.

Recentemente, Bevan soltou na praça esse novo Kindred EP (2012, Hyperdub), quase um ano após ter lançado o compacto anterior, o bom Street Halo (em Março de 2011) durante esse intervalo fez algumas parcerias de peso , chegando até a remixar material dos conterrâneos do Massive Attack. Logo nos primeiros instantes de Kindred, já é notável o quanto o contato com o pessoal de Bristol parece ter rendido boas influências no som.

Se quantidade não é a palavra de ordem, sobra qualidade. O curto álbum trás apenas três faixas e um tempo total de quase 31 minutos de duração. Logo na faixa título, que abre o trabalho, o ranger da agulha de toca discos já prepara o ouvinte para a cadência frenética que começa ainda no primeiro minuto do álbum, uma colagem sonora como poucos podem fazer. Iniciar com uma faixa de mais de 11 minutos é algo inusitado, até hoje provavelmente a “abertura” mais difícil já vista em um álbum do Burial.

 

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=CB3suFG2UEE]

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=2KMBL7zFyzY]

Os elementos conhecidos ainda estão ainda lá: Vocais processados do R&B e batidas cadenciadas no two-step continuam, mas em Kindred esses mesmos elementos aparecem imersos em uma roupagem ambient mais obscura do que o usual. A atmosfera é fúnebre, e se em trabalhos anteriores como Street Halo parecia edificada sobre uma base coesa, em Kindred atuam como trilha ideal para estruturas corrompidas e prestes a desmoronar. “There is something out there”, frase que abre a faixa Loner reflete bem o clima de insegurança, a faixa é calcada no House com uma linha de sintetizador que faz quase papel de um refrão. Quase, estamos falando do Dubstep, não igual àquele colorido e anfetaminado feito por nomes como Skrillex, mas sim àquela faceta mais introspectiva e derivada do trip-hop e que a todo o momento apresenta novas camadas no som, extinguindo assim qualquer possibilidade de uma faixa se tornar previsível.

Comparado aos trabalhos anteriores, o EP apresenta evoluções em termos de profundidade sonora e expandem as já complexas colagens sonoras que tornaram o produtor tão popular. O registro certamente mostra sinais de maturidade de seu criador e até do gênero em si com espaço para experimentações, mas sem causar estranheza aos fãs mais radicais.

Em tempos de proliferação do Dubstep, Kindred é um exemplo de caso em que coesão e harmonia andam juntas. Sem dúvida, uma verdadeira lição que deveria ser aprendida por nomes atuais emergentes do gênero cujo conjunto da obra, embora tenha pego o grande público, insiste em carecer de profundidade e por consequência corre o risco de cair no lugar comum do descartável.

 

Kindred EP (2012, Hyperdub)

Nota: 8.5
Pra quem gosta de: Four Tet, Sepalcure e Zomby
Ouça: Loner e Ashtray Wasp

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.