Disco: “King Krule EP”, King Krule

/ Por: Cleber Facchi 17/11/2011

King Krule
Indie/Experimental/Dream Pop
http://kingkrule.com/

Por: Cleber Facchi

 

Assim como a música pop se preenche anualmente de novos talentos, alguns deles impúberes ou mesmo recém tirados das fraldas, com o cenário alternativo isso não é diferente. Mais novo garoto prodígio da cena musical independente, o jovem britânico Archy Marshall mostra que para além de ser apresentado como uma das grandes apostas musicais para os próximos anos, já revela no presente uma série de memoráveis composições. Faixas que imediatamente o afastam do julgo e do aspecto de um mero pós-adolescente e o transportam para o mesmo patamar de grandes representantes da música atual.

Se os excessos de louvores e constantes elogios muitas vezes surgem para envaidecer e prejudicar a obra de um artista, pelo menos por enquanto o inglês tem absorvido as criticas positivas com total tranquilidade ou pouco efeito. No auge de seus 17 anos, o músico que já havia angariado relativo sucesso através do proeminente (e extinto) Zoo Kid surge agora apresentando o primeiro registro em estúdio de sua nova fase, demonstrando haver total parcimônia na série de elogios que vem conquistando. Surgindo sob o nome de King Krule, Marshall transforma seu homônimo EP em um ambiente hermético para que cinco delicadas composições possam lentamente crescer e, por fim, demonstrar todo seu real potencial.

Preso em um universo sombrio que evoca uma Londres dos tempos presentes, Krule abandona significativamente o profundo toque caseiro de suas anteriores canções, algo que 36N63, a primeira faixa do recente disco, transmite logo em seus minutos iniciais. Totalmente instrumental, a composição se representa como uma espécie de anuncio soturno ao que o músico virá a desenvolver logo em sequência. Entre flertes com o Dream Pop e toques de um post-punk menos pulsante, Marshall vai aos poucos nos tragando para dentro de seu universo próprio e totalmente despretensioso.

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É somente quando os vocais da faixa seguinte – Bleak Bake – começam ecoar aos exatos 30 segundos da composição, que o jovem inglês vai lentamente revelando alguns toques de sua precocidade e consequentemente suas óbvias limitações. Embora dono de uma voz competente, Marshall vai aos poucos realçando sua timidez, se escondendo por diversas vezes atrás de alguns loopings macambúzios que pouco revelam a boa forma encontrada em seus anteriores trabalhos como Zoo Kid, projeto que pendia visivelmente em busca de um som levemente mais ensolarado ou voltado para a multiplicidade rítmica.

Mesmo prejudicado em diversos pontos, à medida que KK vai se entregando ao registro, menos preso vai ficando às suas limitações, algo que a partir de Portrait in Black and Blue começa a se revelar com mais intensidade. Quanto mais se encaminha para o desfecho da obra, mais o britânico vai revelando sua naturalidade, culminando assim no nascimento de The Noose of Jah City, maior composição do álbum em todos os sentidos. Menos orgânica que as faixas anteriores, a obscura melodia utiliza de sua parcimônia para nos arrastar para dentro de sua musicalidade suja, chapada e preguiçosamente dançante, com Marshall de fato mostrando à que veio e honrando todos os elogios que tem conquistado ao longo dos últimos meses.

Alavancado por publicações tanto norte-americanas – a Pitchfork tem rasgado uma seda tremenda para os trabalhos do menino – quanto européias, Krule é sim dono de todos os louros que vem conquistando, embora, como fora dito está muito além dos excessivos elogios que vez ou outra tem ocultado ou engrandecido demasiadamente sua obra. Apenas o tempo dirá se Archy Marshall não passou de uma mera aposta infundada ou se realmente foi capaz de promover algo maior com suas composições. Por enquanto, a segunda opção é a que melhor tem se sustentado.

King Krule EP (2011, True Panther)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Youth Lagoon, Zoo Kid e Pure X
Ouça: The Noose of Jah City

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.