Disco: “Kiss Each Other Clean”, Iron & Wine

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2011

Iron & Wine
Folk/Indie/Singer-Songwriter
http://www.myspace.com/ironandwine

Por: Cleber Facchi

Sam Beam sempre pareceu um cara sozinho. Desde The Creek Drank The Cradle (2002), seu primeiro lançamento sob a alcunha de Iron & Wine que o músico tem se mostrado um artista isolado e que se escondia ainda mais em meio à melancolia de suas faixas. A visão que havia era de um cantor mascarado por sua espessa barba, destilando sofridos acordes em seu violão enquanto declamava versos que exaltavam sua alma atormentada. Contudo, toda a melancolia de outrora lentamente foi mudando, enquanto o isolado artista gradativamente deixava aberta sua vida e suas melodias.

Se nos primeiros lançamentos Beam se voltava para uma instrumentação diminuta que realçavam ainda mais a figura triste de seu intérprete, a partir de The Shepherd’s Dog (2007), seu último lançamento até então, o músico passava a agregar novos elementos e experimentava inovadoras nuances em suas composições. Dava até para dizer que o músico estava mais “alegre”. Parte dessa acessibilidade e renovação nas faixas do artista, além de uma poesia menos triste, vinha influenciada pela convivência com suas cinco filhas e pela esposa Kim. O sempre solitário Sam Beam não estava mais tão sozinho assim.

Depois de um bem apresentado álbum ao vivo lançado em 2009, o músico se isolou em seu estúdio caseiro de onde só sairia com o lançamento do quarto trabalho da carreira: Kiss Each Other Clean (2011). Seguindo a mesma linha do álbum que o precede, o novo disco do Iron & Wine ganha contornos sofisticados através de uma instrumentação ainda mais composta que afasta cada vez mais o artista de sua figura reclusa de antigamente.

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Aqui a primeiro coisa que se pode observar em meio a sonoridade do novo disco são os vocais. Muito mais abertas, audíveis e expostas em dobro, através da ampla quantidade de backing vocal nas canções, as vozes no novo disco surgem como elemento de destaque. Seja pela voz limpa de Beam ou pela maneira como os demais arranjos vocálicos são trabalhados de maneira quase instrumental, o fato é que as vozes não são meros mecanismos de expressão, mas sim componentes fundamentais no disco.

O segundo elemento de destaque é a instrumentação. Nada de um violão simplista para dar vida às faixas, aqui as canções ganham acordes detalhados e acréscimos marcantes em meio a uma musicalidade ainda mais inovadora na curta carreira do Iron & Wine. Há um visível favoritismo ao uso de guitarras e demais instrumentos elétricos. Big Burned Hand, Rabbit Will Run e Monkeys Uptown são exemplos de faixas em que o instrumento surge de maneira marcante, ditando o rumo e o desenvolvimento de tais faixas.

Outro instrumento que vem para dar maior detalhismo ao álbum é o trompete. Utilizado de maneira categórica os arranjos de metal dão maior vivacidade às faixas, gerando um clima até mesmo “dançante” em algumas canções, como na já mencionada Big Burned Hand e na bela Me And Lazarus, algo que nem seria possível imaginar nos primeiros lançamentos de Beam.

Contudo em meio a tantas experimentações o músico não se esquece da sonoridade que deu destaque a sua carreira. Half Moon traz o velho Iron & Wine mais voltado para a instrumentação acústica, embora a canção ainda venha permeada por uma eficaz slide guitar. Mas é em Godless Brother In Love que o artista realmente faz um regresso ao seu som de estreia. Dedilhando comportadamente um violão, o músico vai despejando seus versos tristes e confessionais. Embora até pareça em alguns momentos, Sam Beam não está mais sozinho. Seja por sua família, o público que o idolatra ou pela nova fase em sua carreira, mas o fato é que o músico está sim cercado, e por uma legião.

Kiss Each Other Clean (2011)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Bon Iver, Sufjan Stevens e Fleet Foxes
Ouça: Your Fake Name Is Good Enough For Me

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.