Disco: “Kitsch Pop Cult”, Felipe Cordeiro

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2012

Felipe Cordeiro
Brazilian/Alternative/Carimbó
http://www.felipecordeiro.net/

Por: Cleber Facchi

 

O lançamento do clássico Da Lama Ao Caos há quase duas décadas serviu não apenas para apresentar o que era produzido na efervescente Recife e disseminado na cultura Mangue. A obra de estreia de Chico Science & Nação Zumbi serviu principalmente para apontar que além do eixo Rio-São Paulo existia algo de novo nos arredores ou nos espaços mais afastados do país, percepção que garantiu ao longo dos anos seguintes a proliferação de diversas bandas nos mais distintos cantos do Brasil, crescente que alcançou seu ápice na segunda metade da década passada e se se estende de maneira sólida até o presente momento.

Muito embora outros estados e suas cidades sede até tenham alcançado o mesmo nível de destaque que Pernambuco e sua capital conquistou com o passar dos anos – de Porto Alegre, passando pela exportadora Curitiba, cortando Goiás até chegar no Acre -, nenhum outro ponto do país conseguiu autenticar uma cena tão forte quanto a arquitetada por Chico Science e Fred Zero Quatro na década de 1990. Pelo menos até agora. Desde a expansão do fenômeno gerado pela Banda Calypso em princípios dos anos 2000 (e toda a série de cópias vindas posteriormente), que o panorama paraense tem se aberto para o mundo, seja por meio das guitarras magistrais (e cada vez mais populares) do Carimbó, seja pela graça, charme e quentura do Electrobrega.

Ocupando o espaço de Recife – que conseguiu estabelecer um estufa cultural própria -, Belém se transformou ao longo dos últimos dois ou três anos no novo centro de exportação da música brasileira, não apenas enviando artistas para os mais distantes pontos do país – e do mundo -, com influenciando o trabalho de incontáveis artistas Brasil afora. Basta observar o pequeno fenômeno pop causado pela Banda Uó (uma tríade goiana) no decorrer de 2011 ou mesmo o mais recente e cultuado disco de Lucas Santtana (um músico baiano), que em diversos momentos se afasta de quaisquer referências naturais de outrora para se fixar no calor da música paraense.

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Em meio a esse panorama em expansão surge Kitsch Pop Cult (2012, Ná Music), segundo registro em estúdio do cantor e compositor paraense Felipe Cordeiro, que com olhos e ouvidos próprios de um habitante local, entrega em 10 faixas sua rica compreensão da multicolorida cena em que está inserido. Assertivo até no título, o álbum parece analisar com precisão e bom humor as diversas nuances que se materializam em Belém, amarrando desde referências aos veteranos ritmos locais, como o brega, lambada e carimbó, até a modernização eletrônica e profundamente vendável do eletromelody e das aparelhagens que o constroem.

Espécie de resumo apurado do que tem acontecido na música paraense, o registro – que contou com a produção de André Abujamra – deixa clara todas suas intenções logo nos minutos iniciais. Legal E Ilegal vai até os sons inaugurados na década de 1970, pendendo em alguns momentos para o tom latino da produção realizada em países vizinhos. Surge assim a face “Kitsch” do trabalho. Fanzine Kitsch por sua vez aparece envolta em batidas eletrônicas modernas, versos fáceis e toda uma atmosfera que muito se relaciona com a New Wave da Blitz (o backing vocal é comicamente similar), trazendo à tona o lado “Pop” que Cordeiro anuncia no título da obra. Já o aspecto “Cult” aparece próximo do fim do álbum, ou melhor, na instrumental Fim De Festa, com as batidas alicerçadas por DJ Waldo Squash se aproximando da sonoridade que embala moderninhos em todo o país ou mesmo fora dele.

Visivelmente despretensioso, o álbum ganha destaque e cresce justamente por não parecer grande ou revolucionário. Entretanto, mesmo sem querer, Kitsch Pop Cult acaba se transformando na mais consistente e ampla obra do atual cenário paranaense. A pluralidade, não apenas de ritmos, mas de épocas que se concentra no interior da obra serve como uma introdução coerente aos desavisados ou iludidos que afirmam “conhecer” o que por lá é anunciado. Felipe Cordeiro deu a largada, agora é ver onde isso vai parar.

Kitsch Pop Cult (2012, Ná Music)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Gang do Eletro, DJ Waldo Squash e Gaby Amarantos
Ouça: Fim de Festa, Lambada com Farinha e Fogo de Morena

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.