Disco: “Kveikur”, Sigur Rós

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2013

Sigur Rós
Experimental/Post-Rock/Alternative
http://www.sigur-ros.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Sigur Rós

Com base em uma discografia coesa e pelo menos três grandes obras carregadas de conceitos particulares – Ágætis byrjun (1999), ( ) (2002) e Takk… (2005) -, ao longo dos anos o Sigur Rós conquistou uma natural fama de “banda intocável”. Pequenos semi-deuses brincando com sons que não entendemos e versos que poucos compreendem, o grupo liderado por Jónsi Birgisson passou os últimos 15 anos em meio a inventos sonoros que ultrapassam o efeito natural de qualquer música, lidando de maneira significativa com sentimentos que convencem de maneira quase inexplicável. Entretanto, o que muitos talvez esquecem é que mesmo isolados no místico solo da Islândia, o (hoje) trio de Reykjavík ainda é uma banda como qualquer outra, de influência e histórico criativo talvez maior, porém, jamais impassível de erros.

Em nítida queda criativa desde o lançamento de Með suð í eyrum við spilum endalaust (2008) e agora desfalcado do multi-instrumentista Kjartan Sveinsson, a banda alcança com recém-lançado Kveikur (2013, XL) um trabalho que clama desesperado pela transformação. Depois de passar o último ano arrastando Valtari (2012) como um disco que só parecia completo em aproximação com a série de vídeos The Valtari Mystery Film Experiment, cada passo dado pelo recente álbum incorpora na rigidez dos sons um rompimento com o que foi apresentado pelo grupo há mais de uma década. Os mesmos arranjos orquestrais e o clima místico, porém tratados dentro de uma agressividade que beira o rock em moldes insustentáveis.

É formidável observar as tramas ambientais proclamadas por Jónsi dentro de um invento possivelmente novo, sombrio, refletindo em estúdio aspectos do que foi definido há dois anos com registro ao vivo INNI (2011). Entretanto, é preciso levar em conta que mesmo as supostas invenções tratadas com novidade pelo grupo ecoam atrasados, com mais de uma década se levarmos em conta a sonoridade deveras aproximada imposta pelos dinamarqueses do Mew pós-Frengers (2003). Um misto de buscar por novidade sem abandonar a essência que não dá certo, transformando Kveikur em um registro de tentativas que se perde em erros.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=EG2N7euPXuc?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=dF6E47Pn6mY?rel=0]

Há um esforço eufórico na atuação da banda durante o eixo inicial da obra, o que até convence em alguns aspectos. Ao  brincar de maneira atrativa com a percussão, faixas como Hrafntinna trazem de volta boa parte dos elementos implantados no disco de 2008, recheando o disco com pequenos atos capazes de refletir a criatividade do trio remanescente. O mesmo acontece durante a construção de Ísjaki, faixa que encontra uma relação homogênea entre as experimentações orquestrais e o eixo comercial, exercício concebido pelo grupo em 2005, quando Glósóli e Hoppípolla apresentaram de forma definitiva o trabalho da banda a toda uma nova parcela do público. Entretanto, contrário ao título da canção – do islandês, Iceberg -, Ísjaki é apenas a ponta de um trabalho sustentado em nada.

Questiono quem se diz fanático pelo trabalho da banda e defende a atuação do Sigur Rós em Kveikur. Vocês se contentam com pouco? Durante toda a última década os islandeses navegaram em um mar de detalhismos e nuances instrumentais que ainda hoje permanecem irretocáveis. Um exercício musical que em comunhão à série de clipes transportou o desconhecido quarteto para o topo da cena alternativa. Basta observar com atenção: nada do que circula pelo sétimo álbum da banda repete o mesmo esforço, tudo é tratado com extrema crueza e desmerecimento. Não é preciso nem questionar os instantes de reaproveitamento, já previsíveis, mas a simplicidade que banha desinteressada todo o disco, como se a banda fizesse do álbum uma sobra esquelética de tudo o que foi deixado para traz ao longo da carreira.

Entenda: a beleza na obra anterior do Sigur Rós permanece a mesma, ainda sutil, encantadora e de esforço comovente. Entretanto, o mesmo resultado não se aplica em Kveikur. Longe do propósito de experimentação e mudança que a banda parece inclinada a assumir, o novo álbum se projeta como um redundando bloco de ruídos, aquém de qualquer obra recente que brinque com o shoegaze ou outra maquinação próxima. Dessa forma, se antes o Sigur Rós fazia o ouvinte flutuar em um universo de composições etéreas e sentimentalmente atrativas, hoje a própria banda parece se esparramar letárgica em um limbo pouco criativo ou talvez nem próximo disso.

Sigur Rós

Kveikur (2013, XL)

Nota: 5.8
Para quem gosta de: Mew, Jónsi e Mogwai
Ouça: Ísjaki e Hrafntinna

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.