Disco: “Lasers”, Lupe Fiasco

/ Por: Cleber Facchi 01/03/2011

Lupe Fiasco
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.myspace.com/lupefiasco

Por: Cleber Facchi

Depois de sermos apresentados ao épico do hip-hop contemporâneo My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) de Kanye West, ou mesmo outras excelências como How I Got Over (2010, The Roots) e Sir Lucious Left Foot: The Son of Chico Dusty (2010, Big Boi) a possibilidade de ter qualquer coisa em nível correspondente dentro do mesmo gênero parece até impossível. Wasalu Muhammad Jaco, o Lupe Fiasco sabe muito bem disso e mesmo proporcionando um terceiro disco bem abaixo desses três pequenos clássicos, o rapper de Chicago acerta a mão e dá continuidade a sua excepcional carreira.

Comparado aos dois primeiros discos de Lupe, Food & Liquor (2006) e The Cool (2007), este Lasers (2011) é disparado o trabalho mais acessível e comercial do rapper. A aproximação com elementos da eletrônica, uso de samplers carregados pela música pop, refrões radiofônicos e uma levada dançante percorrem todas as faixas do álbum. Tudo aquilo que fez nosso interesse por Fiasco existir em seus anteriores trabalhos, aqui chega de maneira dobrada. A escolha por um número variado de produtores funciona de maneira coerente dentro do álbum, diferente do que aconteceu com End It All (2011) do Beans, em que o excesso de participações resultou em uma incoerência fonográfica.

Discípulo de West, o rapper vai atrás dos antigos trabalhos de Kanye para dar formação ao novo álbum. Elementos do Hip-Hop com a música de arena aos moldes de Graduation (2007) se fazem visíveis em boa parte do disco. State Run Radio mostra facilmente esse lado explosivo, que ao vivo deve se transformar em uma celebração por parte do público. A mesma faixa traz também a aproximação de Lupe com rock, através da inclusão de rifes de guitarras sampleados e uma batida intensa, que faz dessa a faixa mais pesada do álbum.

Como dito, Lasers entrega Lupe em seu formato mais pop e The Show Goes On talvez seja a faixa que mais evidencie isso. Os versos melódicos, as batidas grudentas e os samplers que remetem a arranjos de metais engrandecem brilhantemente a faixa. É disparada uma das melhores músicas já lançadas neste ano. Quem pensa que a criatividade de Fiasco se encerra aí pode ir se preparando para encontrar uma sucessão de composições excepcionais. Mesmo nos momentos melancólicos do trabalho, como em Till I Get There, o uso elaborado de pianos mesclados com as batidas (lembra muito Late Registration, pareceria entre Kanye West e John Brion) entrega a total vivacidade do disco.

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Aos que foram atrás do rapper por suas pequenas incursões pelo hip-hop com a eletrônica, esse terceiro álbum não desmerece esse tipo de sonoridade em nada. I Don’t Wanna Care Right Now mescla as batidas da música eletrônica dos anos 90, com doses nada moderadas de autotune e uma percussão colocada de maneira coerente dentro da faixa. Outro elemento de destaque são os sintetizadores, responsáveis por gestar o ritmo crescente dentro da faixa. Os refrões pop (e os inúmeros remixes que virão pela frente) dão garantias de que Lupe Fiasco estará presente em boa parte de 2011, seja no rádio, na TV ou nos carros com som estourado que vão passar perto da sua casa.

Assim como contou com o apoio de gente como Jay-Z e Snoop Dog em seus primeiros trabalhos, o rapper vai atrás de participações nem tão conhecidas no cenário hip-hop em seu terceiro álbum. De todas as vozes participantes, talvez John Legend seja o nome de maior destaque dentro desse disco. Participando da faixa de encerramento, Never Forget You, Legend empresta seus vocais para dar vida a um dos momentos mais sorumbáticos do álbum. Sempre ativo dentro de trabalhos do gênero (vide o último álbum ao lado do The Roots), o músico que é um dos maiores nomes da soul music contemporânea acrescenta certo ar orgânico ao trabalho.

Diferente dos anteriores discos, esse novo álbum não surge com uma temática conceitual. Na verdade Lasers acaba até cortando temporariamente o lançamento do disco LupE.N.D., trabalho que deveria fechar o contrato do rapper com a Atlantic Records. O disco que inclusive já está pronto deve finalizar uma trilogia iniciada com o disco de estreia de Fiasco. Independente de não estar ligado de maneira conceitual aos dois primeiros discos já lançados, esse terceiro álbum funciona com a mesma tranquilidade que os anteriores trabalhos do músico.

Lupe não precisava provar a mais ninguém sobre sua qualidade como rapper. Se com o primeiro disco ele já se sagrava como um dos novos nomes dessa geração, com The Cool em 2007 sua excepcionalidade apenas se intensificava. Este Lasers é um trabalho que chega apenas para comprovar a genialidade do rapaz, coisa que todos já sabiam, os que não haviam percebido isso, apenas tiveram a certeza. Buscando referências e possibilidades de som tanto nessa como nas anteriores gerações, o rapper cria um trabalho fácil e que consegue se sobrepor a muita coisa similar lançada por aí.

Lasers (2011)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Kanye West, Jay-Z e Kid Cudi
Ouça: The Show Goes On

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.