Disco: “Last Summer”, Eleanor Friedberger

/ Por: Cleber Facchi 13/07/2011

Eleanor Friedberger
Indie/Female Vocalists/Alternative
http://www.eleanorfriedberger.com/

Por: Cleber Facchi

Os dez anos de produções quase ininterruptas ao lado do parceiro musical e irmão Matthew Friedberger trouxeram inegáveis marcas ao trabalho da norte-americana Eleanor Friedberger, uma das duas metades do grupo de indie rock The Fiery Furnaces. Longe da banda que vem trabalhando desde princípios dos anos 2000, a musicista parte agora para seu primeiro trabalho solo, álbum em que tenta desenvolver uma sonoridade distinta da que a apresentou ao cenário alternativo. Entre melodias pop suavizadas, uma instrumentação dividida entre o convencional e a experimentação, a cantora faz de sua “estreia” um delicado acerto.

Enquanto o irmão já havia arriscado sem muito sucesso um trabalho em carreira solo em 2006 – através do fraquíssimo Winter Women and Holy Ghost Language School -, somente agora Eleanor se revela pronta para tal empreitada. Visivelmente construído com total cuidado e precisão, Last Summer (2011, Marge) entrega uma compositora e uma instrumentista renovada, levemente distante das experimentações imoderadas dos primeiros trabalhos de sua banda original e muito mais acessível ao grande público.

Para derrubar qualquer ouvinte logo na primeira faixa do álbum, Friedberger abre sua bela estreia ao som de My Mistakes, uma composição tomada por recordações de um passado recente, desabafos sinceros e a revisão de seus erros. Além da letra deliciosamente projetada, a musicista investe na inclusão de um coeso jogo de guitarras, sempre expostas de forma crescente, quase dançantes e meio sombrias. Surgem também pequenas inclusões de sintetizadores, pontuando a canção com um tempero necessário e posto de maneira coerentemente alinhada aos vocais da cantora, isso sem contar no arranjo de sopros. Simplesmente perfeita.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=MRUOoSKt6Kg?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=8CuqBXKO_IA?rol=0]

Quem espera que essa seja a condução das composições restantes do álbum terá uma bela surpresa logo na canção seguinte, Inn of the Seventh Ray, com Eleanor se aventurando em pequenas doses de excentricidade, toques de uma psicodelia pop ponderada e uma pitada de indie rock dos anos 90, tudo dissolvido de forma bem caseira. Dentre dessa mesma sonoridade surge I Won’t Fall Apart on You Tonight, com um ar de música pop dos anos sessenta, repleta de reverberações empoeiradas e um ritmo fracionado entre o caloroso e o melancólico.

Dividida entre o excêntrico e o comercial surge Glitter Gold Year, música que para além da sonoridade climática conta com Friedberger posicionada em um palco imaginário, cercada de um público reduto e olhares ébrios. Lembrando seus bons momentos através do The Fiery Furnaces, a cantora entrega Early Earthquake. Além das boas guitarras (tocadas com o mesmo entusiasmo da canção de abertura), uma percussão lo-fi, carregada de ruídos monta as bases para que os vocais possam passear de maneira livre, acompanhados apenas de uma esporádica, porém complementar gaita de boca.

Dentro desse jogo de diversidades e canções que parecem musicalmente distantes umas das outras, Eleanor parece dar vida a uma pequena coletânea, um acoplado de histórias relacionadas ao seu último verão, pequenas pérolas acústicas desenvolvidas em momentos separados de sua vida e que agora foram finalmente catalogadas e entregues de maneira próxima. Mesmo que algumas composições remetam de forma involuntária ao que já era desenvolvido através de sua anterior banda, a beleza com que tudo é conduzido não diminui seu projeto solo, traduzindo o álbum em um claro acerto.

Last Summer (2011, Marge)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: The Fiery Furnaces, Matthew Friedberger e Deerhoof
Ouça: My Mistakes

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/15444200″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.