Disco: “Leave Home”, The Men

/ Por: Cleber Facchi 21/07/2011

The Men
Noise Rock/Experimental/
http://sacredbonesrecords.com/

 

Por: Fernanda Blammer

Sujeira, caos e a mais densa catarse instrumental, tudo isso dissolvido dentro em uma única obra, o obscuro Leave Home (2011, Sacred Bones), trabalho de estreia do quarteto nova-iorquino The Men. Tomado por guitarras distorcidas e vocais ensandecidos do princípio ao fim, o disco é um mergulho profundo no noise rock dos anos 90, fazendo uma espécie de visita aos sons que Sonic Youth tomou como seus há mais de 20 anos. Distante de qualquer proximidade comercial e desenvolvido para um público bem específico, o álbum surge como um grande delírio auditivo aos amantes da música noise.

Não espere ao saborear o disco que de uma hora para outra ele se transforme em algo próximo do que é construído no cenário californiano, através de seus representantes do fino noise pop. Enquanto grupos como No Age, HEALTH ou mesmo os conterrâneos do Liars desenvolvem através de seus gloriosos álbuns um tipo de som que mesmo rebuscado busca se aproximar do grande público – trazendo um toque de “pop” em cada uma de suas imensuráveis doses de distorção -, o quarteto que assume os comandos do The Men busca por um resultado completamente distante disso, um som recluso, denso e nada fácil.

Através das oito músicas que delimitam o álbum, a banda proporciona um tipo de som perdido entre ambientações caóticas, ecos da música punk dos anos 80 e doses nada ponderadas de experimentações acústicas. Comandada por Nick Chiericozzi, Mark Perro, Chris Hansell e o baterista Rich Samis (que chegou de última hora, quando o álbum já estava quase pronto), a banda assume uma postura niilista através de seus versos e sua instrumentação logo na abertura do álbum, proporcionando uma sonoridade que visa desconstruir o universo ao seu redor, para construir uma identidade e um panorama próprio.

Lançado através do selo Sacred Bones, que em seu casting mantém gente como Blank Dogs e Zola Jesus, o álbum, contrário a qualquer tipo de direcionamento natural faz de tudo para afastar o ouvinte, edificando um som que constrói estratégias ilimitadas para a cada nova faixa se manter mais e mais recluso. É dentro dessa busca por um hermetismo e um afastamento do ouvinte que Leave Home estranhamente consegue atrair o espectador, como se para além dos paredões intransponíveis de guitarras, a banda guardasse algum tipo de surpresa, um elemento que mantém os ouvidos atentos, sempre em busca desse resultado que parece conhecido apenas do quarteto.

Agressivo desde o instante em que começa até seu último segundo, o registro se revela como um trabalho difícil mesmo aos habituados à experimentações excessivas ou criações instrumentais voltadas ao noise rock. Como dito, diferente de outras bandas que circulam carregando uma sonoridade similar, o The Men não abre qualquer tipo de possibilidade ao ouvinte, nenhuma das suas oito faixas parecem orientadas para agradar. Talvez a composição que mais se aproxime de um som “acessível” seja a faixa ( ), que ainda assim acaba cercada de experimentos instrumentais, guitarras caóticas e uma musicalidade brusca.

Mesmo inacessível em alguns momentos, Leave Home além de proporcionar ao ouvinte o interesse da descoberta, de se aventurar pelo universo desconhecido ressaltado em suas faixas vai aos poucos hipnotizando o espectador através de suas nada límpidas frequências. A dureza e o caráter experimental da obra vão gradativamente proporcionando uma relação de amor e ódio com o ouvinte, dividindo a audição do álbum entre algo fácil e ao mesmo tempo doloroso de ser absorvido.

 

Leave Home (2011, Sacred Bones)

 

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Sonic Youth, Iceage e Liars
Ouça: L.A.D.O.C.H. e Bataille

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.