Disco: “Leave Me Alone”, Hinds

/ Por: Cleber Facchi 05/01/2016

Hinds
Indie Rock/Lo-Fi/Garage Pop
http://www.hindsband.com/

 

Quem acompanha as garotas do Hinds em diferentes redes sociais – como Instagram ou Facebook – sabe do caráter “descompromissado” que movimenta o cotidiano de cada integrante da banda. Noites embriagadas que passeiam por diferentes bares de Madrid – cidade onde o grupo foi formado -, festas, apresentações em pontos distintos da Europa e pequenas doses de exagero. Um estímulo para o material essencialmente instável que abastece cada uma das canções do primeiro registro de inéditas do quarteto, Leave Me Alone (2016, Lucky Number).

Verdadeiro catálogo de gravações caseiras, o álbum de 12 faixas empoeiradas parece seguir uma cartilha de regras e conceitos próprios. “Nuestras mierdas, nuestras reglas”, como definiram as integrantes da banda em entrevista à NME. São vozes sujas, arranjos anárquicos, canções de amor (I LL Be Your Man) e separação (San Pedro) que se perdem em um mundo de guitarras pegajosos que seriam facilmente encontrados nos trabalhos de grupos como Wavves e Black Lips – este último, influência confessa do quarteto espanhol e parceiro em uma turnê realizada no último ano.

Mesmo cravejado de hits e faixas encorpadas por melodias acessíveis – vide a pegajosa música de abertura, Garden , Leave Me Alone parece seguir um caminho particular, essencialmente torto. Cada composição explorada ao longo do disco parece encaixada de maneira aleatória, propositadamente irregular, como um típico exemplar do rock alternativo dos anos 1990.

Ambientado no mesmo ambiente Lo-Fi de obras como DEMO e BARNS – quando a banda ainda se chamava Deers e era composta apenas pela dupla Ana Perrote e Carlotta Cosials -, Leave Me Alone é uma obra que encanta justamente pelo aspecto “amador” de cada composição. Instantes de serenidade, como na instrumental Solar Gap, e explosão, caso de Garden e da “litorânea” Castigadas en El Granero, que estabelecem um laço quase imediato entre o ouvinte e a obra.

Parte dessa inevitável relação com o trabalho surge da explícita honestidade que ocupa os versos espalhados pela obra. “Você está sozinho e eu posso ver por que… Por que você não pega na minha mão? Fique perto de mim ou saiba que eu vou morrer”, despeja o coro de vozes femininas na turbulenta San Diego. Nona composição do disco, a faixa encorpada por guitarras rápidas não apenas sintetiza a lírica pós-adolescente do quarteto espanhol, como encaminha o ouvinte para a sequência de faixas sensíveis que abastecem nos instantes finais do registro.

Da abertura, com Garden e Fat Calmed Kiddos, passando por faixas como Castigadas en El Granero, Bamboo e San Diego, até alcançar as derradeiras I LL Be Your Man e Walking Home, Leave Me Alone se projeta como uma obra versátil, ensolarada e essencialmente pegajosa. Uma completa oposição à frieza e isolamento que aparece estampada logo no título do disco – “me deixe em paz”.

 

Leave Me Alone (2016, Lucky Number)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Black Lips, Chastity Belt e Colleen Green
Ouça: San Diego, Garden e I LL Be Your Man

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.