Disco: “Lex Hives”, The Hives

/ Por: Cleber Facchi 08/06/2012

The Hives
Swedish/Garage Rock/Rock
http://www.thehivesbroadcastingservice.com/

Por: Cleber Facchi

Desde o surgimento do The Hives no começo da década de 1990, a proposta da banda nunca foi de estabelecer qualquer contribuição maior ao cenário musical. Ainda garotos quando lançaram o primeiro disco – Barely Legal de 1997 -, todas as estratégias da banda já pareciam bem definidas, afinal, na cabeça de Howlin’ Pelle Almqvist, vocalista da banda, fazer um rock cru, dançante e pronto para ser berrado já era mais do que suficiente ao grupo, uma estratégia que o quinteto seguiu de maneira rigorosa até a entrada dos anos 2000, quando, assim como boa parte dos artistas da época se deixaram consumir pelo revival pós-punk.

Se por um lado as reformulações permitiram que o grupo desse um salto em relação ao primeiro álbum, lançando os dois melhores registros da banda até então – Veni Vidi Vicious (2000) e o ainda mais acelerado Tyrannosaurus Hives (2004) -, por outro lado o afastamento com a sonoridade jovial das primeiras músicas aproximou o grupo de uma força redundante e musicalmente cansativa. O resultado disso fica bem estabelecido no decorrer do penoso The Black and White Album, trabalho lançado em 2007 e que entregou uma banda pouco inventiva, apenas requentando composições e referências já propostas nos trabalhos anteriores. A baixa receptividade do disco não apenas trouxe severas críticas ao som da banda, como arrastou o quinteto para um longo recesso de cinco anos, férias quase forçadas que se rompem agora com a chegada de Lex Hives (2012, Disques Hives).

Espécie de regresso aos primeiros lançamentos do grupo, o álbum de 12 faixas concentra a mesma energia acelerada que catapultou os suecos graças a hits como Main Offender, Hate to Say I Told You So e Walk Idiot Walk, canções fáceis, descompromissadas e naturalmente comerciais, aspecto que a banda reforça durante a execução de todo o novo disco. Mais uma vez a necessidade de soar visceral e acelerado é o que move grande parte da estrutura do álbum, um projeto que ao longo de 31 minutos parece ligar uma canção a outra em um exercício enérgico até o fecho do registro, quando explodem as guitarras de Midnight Shifter.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=6NQx2R4jO7I?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=2oz8N8bpptk?rol=0]

Se antes o The Hives parecia fornecer as bases para influenciar o trabalho de uma série de outros artistas, hoje quem se deixa influenciar são eles. O Garage Rock que percorre o disco nada mais é do que uma versão particular daquilo que Jack White (em carreira solo ou com o The White Stripes) e The Black Keys foram construindo ao longo dos últimos anos. Talvez a única coisa que impeça faixas como Go Right Ahead e Patrolling Days de parecerem como cópias fiéis daquilo que os norte-americanos têm aplicado em seus trabalhos seja o afastamento em relação a música country e o rock de raiz, afinal, mesmo modificado o punk rock da década de 1970 ainda prevalece como a principal influência do grupo sueco.

Ao mesmo tempo em que a banda surge “renovada” e com uma carga de músicas prontas para fisgar novos e velhos ouvintes, Lex Hives e seu mar de sonoras possibilidades acaba surgindo como um álbum atrasado, não mais capaz de dialogar com o que ecoa na música atual. Mesmo que a banda até consiga se aproximar do garage rock que delimita a recente safra de compositores, quanto mais o disco se desenvolve, mas as canções surgem consumidas por um aspecto arcaico e sonolento. A constante similaridade entre as faixas, com seus riffs sujos e vozes redundantes, fazem com que em diversos momentos o álbum se movimente como uma extensa única faixa, repassando a cansativa noção de que a mesma música está tocando há 20 ou 30 minutos.

Assim como aconteceu com o The Strokes em 2011, o retorno do The Hives mostra o quanto alguns projetos que despontaram na década passada parecem coesos apenas quando observados do ponto de vista da época em que surgiram. Mesmo que o álbum até seja capaz de motivar o ouvinte em alguns momentos, boa parte do que se observa com o passar do disco é uma fórmula pronta, como se o quinteto apenas substituísse as letras de outrora por um novo jogo de palavras capazes de dialogar com a forma enérgica das canções. O The Hives está de volta, mas não que isso signifique alguma coisa.

Lex Hives (2012, Disque Hives)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: The Vines, The Subways e The White Stripes
Ouça: Go Right Ahead

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.