Disco: “Life of Pause”, Wild Nothing

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2016

Wild Nothing
Indie/Dream Pop/Alternative
http://www.wildnothingmusic.com/

 

O cenário criado para a capa de Life of Pause (2016, Captured Tracks) – posteriormente ampliado no clipe de To Know You e TV Queen – nasce como passagem para o novo ambiente criativo explorado por Jack Tatum. Quatro anos após o lançamento de Nocturne (2012), registro que parece dar sequência ao Dream Pop empoeirado de Gemini (2010), o cantor, guitarrista e produtor norte-americano assume o terceiro álbum de estúdio do Wild Nothing como uma obra de pequenas possibilidades.

A delicada marimba que cresce na inaugural Reichpop,  o romantismo “brega” de Lady Blue – nostálgica composição que parece ter saído da década de 1980 -, ou mesmo a melodia acolhedora que invade Adore, oitava faixa do disco, indicam o quanto Tatum parece longe da habitual zona de conforto. Ainda que a essência da banda permaneça a mesma, vide a maquiagem sombria nas guitarras de Japanese Alice e A Woman’s Wisdom, durante toda a execução da obra, diferentes caminhos são apresentados ao ouvinte.

Do momento em que tem início, até a chegada da derradeira Love Underneath My Thumb, Tatum cria um registro que flutua livremente, sem amarras. É fácil lembrar de veteranos como Cocteau Twins, Slowdive, The Cure e todo o universo de artistas que apresentaram suas melhores obras entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990. Um olhar curioso do guitarrista para o passado, mas que em nenhum momento soa como uma reciclagem preguiçosa de referências.

Faixa-título do registro, Life of Pause sintetiza grande parte das emoções detalhadas por Tatum ao longo do trabalho. Enquanto guitarras limpas e sintetizadores semi-dançantes criam um iluminado pano de fundo, os versos sussurram confissões, dúvidas e tormentos de qualquer indivíduo apaixonado: “Como podemos querer amar? / Diga-me como… Eu levo uma vida de pausa apenas para que eu possa estar perto de você”.

Obra de sentimentos, Life of Pause reserva ao ouvinte alguns dos versos mais delicados de toda a curta trajetória de Tatum. “Somos pó acima da Terra / Testemunhando nosso nascimento / Você me faz sentir como um alienígena / Você é tão linda / De onde você vem?”, despeja o vocalista em Alien, junto de Love Underneath My Thumb e Adore, uma das composições mais sensíveis do álbum. Uma explosão de temas confessionais que tem início em Lady Blue – “Será que vou encontrar uma maneira / Para recompensá-lo por tudo o que você tem feito por mim?” – e cresce ao longo da obra.

Em atuação desde o final da última década, Jack Tatum chega ao terceiro álbum do Wild Nothing com uma obra que se fragmenta de forma criativa, revelando nuances poucas vezes vistas da obra do músico estadunidense. Um delicado abrigo sentimental que rompe com a fluidez enérgica dos dois últimos álbuns da banda, mas que encanta pela honestidade e profunda intimidade reforçada em cada fragmento lírico do registro.

Life of Pause (2016, Captured Tracks)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Craft Spells, DIIV e The Pains of Being Pure at Heart
Ouça: Adore, Reichpop e Life of Pause

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.