Disco: “Lightning”, Matt & Kim

/ Por: Cleber Facchi 28/09/2012

Matt & Kim
Indie Pop/Alternative/Dance
http://mattandkimmusic.com/

Por: Fernanda Blammer

 

Basta um simples passeio pela internet para perceber a quantidade de artigos que definem o trabalho da dupla nova-iorquina Matt & Kim como simples representantes da música pop contemporânea. Pode até ser que por trás das melodias pegajosas, vozes grudentas e teclados convidativos que se revelam pelos trabalhos da dupla exista uma fina manifestação do que há de mais comercial no mundo da música atual, entretanto, o ritmo frenético e a pulsação constante que praticamente ligam uma faixa à outra fazem do projeto formado por Matt Johnson e Kim Schifino um exemplo de banda que vai além do convencional. Gosto da ideia de ver o trabalho dos nova-iorquinos como uma manifestação da música pop moderna, mas com um espírito de banda punk dos anos 70.

Agora de posse do quarto registro em estúdio, Lightning (2012, Faber Label), o casal mostra que mesmo depois de passear por uma infinidade de terrenos (sonoros e líricos) de forma descompromissada, ainda é possível manter a boa condução e firmar (mais uma vez) a identidade da banda. Ao mesmo tempo em que o trabalho mantém clara a relação com o mesmo tipo de som lançado em 2006 com o autointitulado debut do casal, o ritmo renovado, o fluxo intenso das canções e as vozes sempre crescentes no decorrer da obra dão novo fôlego ao trabalho. De fato pouco se transformou na maneira como as músicas mantém a instrumentação, entretanto, a forma leve dada ao disco e a completa ausência do teor prepotente que acompanha o trabalho de diversos grupos tornam o álbum aprazível e atrativo.

Completamente distinto em relação ao trabalho passado da dupla, Sidewalks (2010), o novo álbum tem programadas as batidas de forma linear, rompendo com as pequenas incursões pelos beats típicos do Hip-Hop (Cameras) e até incorporando um propósito menos festivo do que o manifesto em músicas como Block After Block e AM/FM Sound, praticamente hinos do registro anterior. Lightning como já havia dito anteriormente é um trabalho que mesmo capaz de se relacionar de forma inteligente com a música pop, mantém na aceleração e no caráter jovial uma profunda relação com o punk. Contudo, não espere nenhuma letra de conteúdo político, crítica ou rebeldia, assim como nos discos anteriores a proposta da dupla é apenas proporcionar diversão ao ouvinte.

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De resultado obviamente limitado – o que você esperava de uma banda que conta apenas com teclado e bateria? -, ao longo do álbum o casal transforma essa suposta limitação nas bases para perverter de forma criativa todos os prováveis rumos garantidos ao registro. Basta uma simples audição de músicas como Now (um indie rock eletrônico e explosivo) ou Tonight (música que soa como um Passion Pit anfetaminado) para ter uma clara noção do que engrandece a obra da dupla, que em poucos segundos parece crescer de forma ilimitada. O que poderia simplesmente se manter dentro da proposta reduzida de possibilidades dos nova-iorquinos acaba se transformando em cada nova faixa, como se o duo fosse na verdade uma multidão.

Marcado pelo uso de composições mais volumosas ou levemente encorpadas em relação aos projetos anteriores, Lightning ganha pontos por manter as atenções dos ouvintes sempre em alta. Do momento que inicia com a convidativa Let’s Go (literalmente um convite ao público que se depara com o trabalho) até a calminha Ten Dollars I Found no encerramento do disco, não há um instante sequer que o duo se desvie da proposta comercial e dançante. Até quando o disco teria tudo para revelar um substancial conjunto de criações pouco atrativas, no fecho do trabalho, a dupla retorna ainda mais intensa, revelando músicas como I Wonder, um dos momentos mais sintéticos e bem elaborados do disco.

Por mais que a dupla até seja capaz de garantir um resultado satisfatório no presente álbum e quem sabe até mesmo aos próximos e ainda inéditos trabalhos, já é hora de Matt & Kim se transformarem musicalmente. Com um futuro nebuloso e a improvável chegada de novos integrantes (ideia que poderia garantir novo acabamento aos futuros registros), manter os próximos álbuns dentro do mesmo sustento instrumental talvez sepulte de vez a (até agora) bem sucedida trajetória da dupla. Por enquanto o ritmo cresce em nível assertivo, resta apenas saber até quando o casal e os próprios ouvintes vão suportar o mesmo resultado.

Lightning (2012, Faber Label)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Passion Pit, Discovery e Ra Ra Riot
Ouça: Let’s Go e Now

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.