Disco: “Lights and Offerings”, Mirrors

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2011

Mirrors
British/Electronic/Synthpop
http://www.myspace.com/mirrorsmirrorsmirrors

Por: Cleber Facchi

Quando o Kraftwerk lançou seu autointitulado disco de estreia em novembro de 1970 estava lançada a revolução das máquinas, synths, bipes e programações eletrônicas. Mais de quarenta anos após esse glorioso lançamento a sonoridade do quarteto germânico ainda se mostra de maneira fundamental e inspiradora para uma série de artistas e grupos contemporâneos, de música eletrônica ou não. Os mais recentes dissidentes dessa eterna leva de aficionados pelo gênero são os britânicos do Mirrors.

Do visual quadrado ao tipo de som carregado de referências tecnológicas, tudo lembra a sonoridade proposta por Ralf Hütter há mais de quatro décadas. Sintetizadores diversificados, bateria eletrônica e vocais quase robóticos dão sustentação ao primeiro disco do também quarteto, entretanto de Brighton, o futurístico e nostálgico Lights and Offerings (2011). Porém, enquanto o grupo alemão chegava como se fossem (e eram) donos de seu próprio som, a banda inglesa vai atrás de outras décadas, mesclando suas sonorizações sintéticas com o post-punk e ecos nada modestos da new wave.

A primeira dúvida ao ouvir essa estreia está no questionamento de em que se diferencia o som do quarteto britânico de tantos outros grupos que trilham o mesmo caminho? A resposta evidencia-se com apenas uma música: Fear of Drowning. Durante os mais de seis minutos de duração da faixa que abre o debute do grupo britânico, camadas e mais camadas de sintetizadores encaminham o ouvinte para dentro de um universo futurístico, uma quase visão do que seria o cenário do filme Metrópolis (1927, Fritz Lang) se este tivesse cores.

Assim como o Cut Copy especializou-se na criação de faixas alongadas, permitindo assim o maior cuidado e o detalhamento na criação das bases e na inclusão de acréscimos durante as faixas, o mesmo vale para o trabalho executado dentro desse disco.

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Embora a banda focalize em faixas mais curtas, seus melhores momentos estão na criação de composições audaciosas como a ótima Secrets, com seus mais de dez minutos de duração. The Cure ganha contornos eletrônicos dentro desse épico cuidadosamente talhado por bips e pelas batidas secas de bateria.

Outra que também cresce por conta da boa execução e do múltiplo aproveitamento das diversas camadas de som é Somewhere Strange. Menos alongada que as grandes viagens instrumentais do álbum, a faixa concentra o lado mais “agressivo” e direto do grupo. Misturando o ritmo dançante da década de 1980 com alguns toques mais sintéticos e vanguardistas dos anos 70 a faixa rompe os limites das pistas de dança, se mostrando como um ótimo exemplar por conta de sua bem aplicada instrumentação.

Mesmo quando tentam soar mais “orgânicos” é praticamente impossível para a banda se livrar de toda sua parafernália eletrônica. Something On Your Mind, totalmente por conta dos vocais parece com um remix de alguma faixa de Robert Smith, algum b-side obscuro que volta à tona agora por meio de uma reconfiguração eletrônica. Quando se desligam da temática obscura do álbum o quarteto consegue soar fácil como New Order ou algum outro artista semelhante. Write Through The Night com seus sintetizadores menos reclusos dão essa fácil percepção.

Embora acabe se desvinculando de seu traçado original e caia em alguns clichês no decorrer do disco, Lights and Offerings consegue com total habilidade se sobrepor a muita coisa similar lançada nos últimos anos. Talvez se o grupo desse uma maior ênfase em canções mais extensas, em que o bom emprego dos instrumentos e de todos os aparatos do grupo contribui para um som mais “kraftwerkiano”, sem dúvidas o disco alcançaria um melhor desempenho.

Lights and Offerings (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Cut Copy, The Mary Onettes e O. Children
Ouça: Fear Of Drowing

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.