Disco: “…Like Clockwork”, Queens Of The Stone Age

/ Por: Cleber Facchi 24/05/2013

Queens Of The Stone Age
Rock/Stoner Rock/Alternative
http://www.likeclockwork.tv/

 

Por: Gustavo Sumares

QOTSA

São poucas as bandas de rock atualmente que mantém viva a tradição das guitarras barulhentas e pesadamente distorcidas, e o Queens Of The Stone Age talvez seja o melhor exemplo disso. Ao longo de toda a carreira do grupo, Josh Homme nunca abriu mão de riffs intensos e volumes altos, honrando seu passado metaleiro com o Kyuss. Ainda assim, os álbuns da banda costumavam incluir uma ou outra canção mais pop, como a Make It With Chu (de Era Vulgaris) e I Never Came (em Lullabies to Paralyze), que destoavam um pouco do resto. Em …Like Clockwork (2013, Matador), sexto disco do grupo, essas tendências pop estão mais diluídas. Nenhuma das canções dá a impressão de ser propositalmente mais acessível e, ainda assim, o disco é o mais imediatamente recomendável da banda.

Isso não significa que Homme e companhia tenham caído de vez no estilo do rádio. Keep Your Eyes Peeled, por exemplo, que abre o disco, já deixa claro que o peso da distorção ainda é essencial no som do conjunto, através de um riff lento tocado numa guitarra afinada bem mais grave que o normal. Mas a maioria das faixas, como a divertida I Sat By The Ocean e Fairweather Friends (que conta com ninguém menos que Sir Elton John no piano), são diretas, objetivas, e têm refrões memoráveis. Ainda assim, são as belas linhas de guitarra que dominam as canções, e a bateria de mão pesada do Dave Grohl ajuda a eliminar qualquer dúvida de que o QOTSA ainda é, antes de mais nada, uma banda de rock.

Essa capacidade que a banda apresenta de unir traços de música pop ao seu estilo pesado já é por si só impressionante. Mas, além disso, o álbum tem também uma enorme amplitude de volumes e andamentos. The Vampyre Of Time And Memory, a terceira faixa, é talvez a mais silenciosa e reflexiva da carreira da banda, uma balada bonita conduzida pelo piano até que, ao final, um belo solo de guitarra a eleva a outro nível. A seguinte, If I Had a Tail, já traz de volta os ritmos bem marcados e as guitarras barulhentas mais características do grupo. Com isso, o disco oferece uma grande diversidade entre as músicas, deixando o ouvinte ansioso pra saber como será a próxima faixa.

 

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=C9OfBcjyxKY?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=iFca32_7YUU?rel=0]

Como se isso não fosse suficiente, porém, Homme também consegue incluir, em várias das canções surpresas entalhadas pela criatividade. É o caso dos instrumentos de percussão que aparecem ao longo da maravilhosa tijolada na orelha My God Is The Sun, e que ajudam a dar a ela um clima meio western bem adequado ao deserto e ao sol evocados pela letra. É o caso também dos enquadramentos delicados que pontuam as partes mais silenciosas da Kalopsia – e do ruidoso feedback que marca a transição entre as partes, que pega o ouvinte completamente despreparado. A guitarra slide que entra no final de I Appear Missing também se encaixa nessa categoria de surpresas espalhadas pela obra, e torna a faixa ainda mais impressionante: com seis minutos de duração e um ritmo lento e arrastado, a canção consegue se manter interessante mesmo sem mudar sua harmonia, graças ao grande número de condimentos sonoros que a banda inclui.

A ordem das canções, bem escolhida, dá um ritmo ótimo ao disco, que surpreende a cada nova faixa e mantém o interesse até o final. Talvez a única falha nessa ordem sejam as duas músicas finais. A faixa título, que fica por último, é lenta e extensa como I Appear Missing que a antecede, o que acaba criando dez minutos um pouco enrolados e não fecha o disco de forma tão satisfatória. As tão comentadas participações especiais também poderiam ter mais destaque. Só é possível perceber que o Alex Turner participa de If I Had a Tail se você ler em algum lugar; as presenças do Trent Reznor (em Kalopsia) e do Elton John (Fairweather Friends) são bem discretas, e o genial baterista Jon Theodore (que tocou nos três primeiros discos do The Mars Volta) é sub-aproveitado na faixa final.

Mas essas críticas são pouco diante da inegável qualidade do disco. Sem um segundo sequer de gordura, …Like Clockwork é o álbum mais cuidadosamente composto do QOTSA nos últimos anos. E o mais incrível é que esse cuidado não faz com que as canções pareçam rígidas ou que as performances do disco pareçam tímidas. Pelo contrário, ele apenas reforça e resume todas as qualidades que Homme consegue dos músicos que tocam com ele. Pode ser que a ausência de faixas mais devastadoramente barulhentas, como Sick, Sick, Sick ou Someone Is In The Wolf, façam falta aos fãs – é uma questão de preferência. Ainda assim, nenhum disco mostra de forma tão direta e concisa todo o potencial do Queens Of The Stone Age como esse.

 

QOTSA

…Like Clockwork (2013, Matador)


Nota: 7.6
Para quem gosta de: Foo Fighters, Arctic Monkeys e Them Crooked Vultures
Ouça: My God Is The Sun e Kalopsia

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.