Disco: “Little Red”, Katy B

/ Por: Cleber Facchi 11/02/2014

Katy B
Electronic/Pop/Female Vocalists
http://www.katybofficial.com/

Por: Cleber Facchi

Katy B

A britânica Katy B partiu em uma verdadeira missão quando apresentou o primeiro trabalho de estúdio em 2011: dar novo acabamento aos conceitos redundantes da música pop. Orientada pela arquitetura dinâmica do Dubstep, UK Garage e demais variações da eletrônica inglesa, a artista fez do acessível On A Mission um dos cartões de visita mais interessantes da nova safra de cantoras estrangeiras. Sem medo de tropeçar, e avançando ainda mais na dança convidativa que vem promovendo desde o single Louder (2010), B usa do segundo álbum de estúdio como uma interpretação inteligente de todos os clichês que sufocam o pop atual.

Sob o título de Little Red (2014, Columbia), o novo disco é um mergulho atento na cada vez mais revisitada eletrônica dos anos 1990, exercício que em nenhum momento afasta a cantora do cenário e dos ritmos contemporâneos. Ora resgatando o R&B eletrônico de veteranas como Aaliyah – homenageada na parceria com a conterrânea Jessie Ware -, ora seguindo em uma musicalmente trilha particular, B consegue finalizar uma obra tão acessível quanto provocativa. A mesma interpretação de Beyoncé, Charli XCX e Sky Ferreira de que o pop não precisa ser raso para funcionar.

Acompanhada de perto pelo produtor e parceiro de longa data DJ Geeneus – criador da cultuada rádio londrina Rinse FM -, B vai além de um mero catálogo de faixas esculpidas de forma nostálgica. Capaz de brincar com as palavras em explícito detalhamento melódico, a cantora faz de todo o eixo inicial do trabalho um verdadeiro cardápio de hits. Da eletrônica frenética de Next Thing, passando pelo pop desconstruído de 5 AM, até alcançar a melancolia épica de Crying for No Reason, cada música entregue pela cantora recheia os ouvidos do espectador em uma estrutura acessível, nunca óbvia.

A aproximação constantes entre as bases, beats e sintetizadores ocasionais é parte natural do acerto que rege o disco. Assim como o exercício testado em On A Mission, Katy B entende cada criação do novo álbum como parte fundamental de um bloco único de experiências. Assim, Next Thing, na abertura do disco, como Still, no encerramento do álbum, partilham de uma mesma linha condutora. A proposta, longe de enclausurar a cantora em um ambiente hermético e imutável se desdobra em possibilidades. São variações letárgicas de um mesmo tema (Emotions), flertes com o R&B (Tumbling Down) ou apenas faixas remontadas para as pistas (I Like You), um conjunto de essências que ecoam aproximação e escapam da redundância.

De todas as possibilidades que ocupam Little Red, a capacidade de Katy B em emular uma típica diva pop talvez seja a mais curiosa e assertiva. Em Crying for No Reason, por exemplo, é possível ver todos os clichês de artistas como Rihanna e Katy Perry concentrados e reformulados com grandeza. Um cruzamento perfeito entre os dramas tradicionais de um coração partido e a necessidade em soar pop. Still é outra que assume o mesmo enquadramento. Melódica, a faixa mais parece um diálogo da britânica com o público médio, exercício explorado com a mesma atenção no dueto Play, parceria com o conterrâneo Sampha.

Se tivesse de ser definido em uma única palavra, “adaptação” seria a mais exata para traduzir a estrutura de Little Red. Ainda que não apresente nada de transformador ou verdadeiramente novo para o gênero, Katy B se ocupa em brincar com os exageros e fórmulas prontas do pop de forma a instigar o ouvinte. A mesma estrutura instrumental, temas e direcionamentos há décadas reaproveitados, porém, dissolvidos em uma atmosfera que parece ir além de duas ou mais audições, ou quem sabe, mais do que um previsível sucesso passageiro.

 

Katy B

Little Red (2014, Columbia)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: AlunaGeorge, Jessie Ware e Beyoncé
Ouça: 5Am, Crying for No Reason e Emotions

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.