Disco: “Along The Way”, Mark McGuire

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2014

Mark McGuire
Ambient/Psychedelic/Experimental
https://www.facebook.com/MarkMcguireMusic

Por: Cleber Facchi

Marc Mcguire

Imersão. Desde que passou a entender a própria obra como um cenário ilimitado de experiências musicais, Mark McGuire tem assumido a cada novo disco a ponte para um universo de pleno recolhimento e expressivo detalhe. Tendo nas guitarras o principal instrumento de trabalho, o músico/produtor fez de obras particulares – como Living With Yourself (2010) e Get Lost (2011) -, ou mesmo registros em parceria – vide Does It Look Like I’m Here? (2010), do Emeralds -, a base para um conjunto de essências ora lisérgicas, ora essencialmente místicas.

É justamente dentro desse catálogo de texturas que o artista deixa fluir Along the Way (2014, Dead Oceans). Obra mais cuidadosa e madura do norte-americano até aqui, o registro é um verdadeiro passeio pela Ambient Music de diferentes épocas, sem necessariamente se deixar corromper pela letargia redundante do gênero. De fácil comunicação com o ouvinte, mas nem por isso um disco que se distancia de possíveis emanações complexas, o registro assume em cada uma das 13 faixas um sentimento de comoção. Uma sensação de que por de trás das base experimental cresce um cenário acolhedor, cuidadosamente delineado.

Como uma versão menos sintética daquilo que McGuire e os parceiros do Emeralds solucionaram em Does It Look Like I’m Here?, o atual registro passeia por um jogo de texturas orgânicas, por vezes táteis. Sem parecer apoiado na massa intransponível do Drone, evidente durante os primeiros trabalhos do músico, em Along the Way temos uma obra de tropeços, ranhuras e a sensação de que algo menos etéreo se propaga por entre as canções. Quase sinestéstico, o álbum comunga com referências sempre próximas do espectador, trazendo no sopro do vento, vozes humanas e demais constatações bucólicas a principal solução para a obra.

Marcado pela construção ascendente do disco, a cada faixa o músico cria o cenário para o nascimento da canção seguinte. Uma sobreposição de temas que inicia de forma tímida em Awakening, mas que beira o espaço ao alcançar a derradeira Turiya (The Same Way). Claro que a construção complementar do disco não priva McGuire de brincar com pequenos atos fechados. É o caso da psicodélica The Instinct, ou da campestre In Search Of The Miraculous, músicas que mesmo próximas da essência do trabalho, se organizam com atenção dentro de um ambiente paralelo, quase hermético.

Desenvolvido a ser apreciado em totalidade, o disco praticamente força o ouvinte a se perder em instantes específicos do trabalho. O cuidado e a extrema beleza pontuada em For The Friendships (Along The Way) talvez seja o melhor exemplo desse resultado. Leve, a canção abre em meio a bips e colagens essencialmente eletrônicas, trazendo na atmosfera crescente das batidas e arranjos sutis o ponto de maior imersão da obra. Já outras como The Human Condition (Song For My Father) usam de artifícios “comuns”, como arranjos característicos, de forma a atrair o ouvinte, fazendo da transformação lenta uma ferramenta funcional.

Livre da proposta avulsa que guiava cada música dentro dos primeiros discos, Mark McGuire traz em Along the Way uma obra de consolidação da própria estética. Se o fim do Emeralds privou o público da sonoridade mística alicerçada pela banda – completa com John Elliott e Steve Hauschildt -, ao dar vida ao novo disco, o músico não apenas expande os próprios limites, como convida o público a visitar um cenário completamente ilimitado – ao menos por enquanto.

Along the Way (2014, Dead Oceans)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Emeralds, Steve Hauschildt e Oneohtrix Point Never
Ouça: The Instinct, For The Friendships e The War On Consciousness

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.