Disco: “Local Business”, Titus Andronicus

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2012

Titus Andronicus
Indie Rock/Lo-Fi/Punk
http://www.titusandronicus.net/

Por: Cleber Facchi

Existe algo de raro em cada nova audição de The Monitor (2010), afinal, passados dois anos desde o lançamento o segundo registro em estúdio da banda de New Jersey Titus Andronicus, ainda é possível encontrar nuances antes “inexistentes” e novos encaminhamentos cada vez mais preciosos na complexa obra. Costurado do princípio ao fim por referências à guerra civil estadunidense, guitarras ordenadas de maneira visceral e vozes parcialmente submersas pela sujeira das gravações, o disco brinca do princípio ao fim com contextos políticos e pessoais de forma a se caracterizar como um dos registros mais importantes da recente fase de punk norte-americano. Um álbum construído sob alicerces fortes e substanciais, feito raro em um cenário em que o descartável quase sempre predomina.

Interessante perceber que é justamente em busca do descartável que parte a banda de Patrick Stickles durante a execução do terceiro registro em estúdio, Local Business (2012, XL). Contrário do que o grupo parecia apontar ao final do álbum anterior, com o recente projeto temos um retrocesso, não em relação de proximidade ao também excelente The Airing Of Grievances (2008), mas um retrocesso instrumental e poético que praticamente transformam o grupo em um projeto tão comum, quanto tantos outros lançamentos que se perdem em desajustes tradicionais a pouco inventivos.

Da capa vermelha, um chamariz aos famintos por novidade, aos versos pegajosos que se instalam em músicas como (I Am The) Electric Man e Food Fight!, Local Business é um trabalho que parece montado a agradar o grande público – se é que ele de fato se interessou ou um dia irá se interessar pelo trabalho da banda. Nada remete aos acertos do passado, com o grupo se entregando de forma assumida a um contexto totalmente novo, mais comercial, menos experimental e consequentemente próximo do comum. É como se em alguns momentos o grupo tocasse o mesmo “punk épico” do Green Day em discos como American Idiot, buscando soar maior, quando na verdade está prestes a desabar sobre a própria estrutura.

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Para além dos propósitos alterados, com o novo disco a banda se desvirtua da agressão instrumental e dos versos berrados de outrora para cair em um som plástico e distante do espírito original que acompanhava cada música. Contrário do que pode parecer não se trata de uma evolução ou busca por um resultado que repita os acertos de outrora, mas uma completa inversão de tudo que fora construído até aqui, como se o grupo resolvesse enterrar toda a multiplicidade de caminhos que se abrem dentro de The Monitor em prol de algo simples e, mais uma vez, descartável. Falta energia e veracidade no que canta Stickles, permitindo que o álbum morra em diversos momentos.

Mesmo que existam alguns pontos em que a banda consiga acertar, como no decorrer de In A Big City (uma dessas composições verdadeiramente grandiosas que o grupo sabe fazer como poucos), a diversidade de erros e músicas irregulares de um canto a outro do disco banalizam a existência de tais criações. É como se por diversos momentos cada canção partilhasse de um propósito particular, resultando em disco que mesmo instrumentalmente conciso, aponta para direções totalmente opostas nas líricas, quebrando qualquer linearidade ou proposta base que possa se estabelecer ao fundo do registro.

Local Business é apenas mais um disco de rock pseudo-politizado que se entrega a conceitos vagos e existencialismos aleatórios. Um registro frio que pode até parecer acima da média do ponto de vista daquilo que circula comercialmente pelo mundo da música, mas uma obra desmerecedora quando voltamos os olhos para um passado recente, quando vimos do que a banda parecia realmente capaz de produzir.

Local Business (2012, XL)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: The Hold Steady, Japandroids e Spider Bags
Ouça: In a Big City

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.