Disco: “O∆”, London O’Connor

/ Por: Cleber Facchi 30/06/2015

London O’Connor
Hip-Hop/Psychedelic/Alternative
https://www.facebook.com/LondonOConnor

A música de London O’Connor é torta, estranha e, consequentemente, hipnótica. Personagem curioso da nova safra de representantes do Hip-Hop nova-iorquino, o artista de 24 anos encontra no primeiro álbum em carreira solo uma obra entregue ao experimento. Um passeio que começa pela mente (e versos) perturbados do compositor, segue de forma segura pelo Rap dos anos 1990 e só estaciona no final dos anos 1960, flertando com a mesma sonoridade de artista como The Velvet Undergound e outros gigantes que bagunçaram a música produzida no leste dos Estados Unidos.

Apresentado em pequenas “doses” no perfil de O’Connor no Soundcloud, O∆ (2015, Independente) é uma fuga de limites conceituais e bases previsíveis. Em um misto de canto, rima e lamentações, a formação de um registro de essência particular, isolado, como se diferentes tormentos sentimentais e existencialistas do jovem artista fossem essencialmente expostos e dissecados em cada instante sombrio que preenche o trabalho.

Interessante perceber que mesmo dentro de um cercado de versos e experiências particulares, O∆ está longe de parecer uma obra reclusa, pouco convincente. Em uma estrutura melódica, O’Connor revela ao público uma coleção de 10 faixas musicalmente atrativas, talvez não comerciais, porém, dificilmente ignoradas. Logo de cara, a dobradinha formada por OATMEAL e NATURAL, músicas que brincam com as mesmas melodias de vozes de grupos de músicas pop nos anos 1960, como das batidas minimalistas de Fever Ray e outros nomes recentes da música eletrônica.

Mesmo que o “pop” não seja a palavra certa para caracterizar o trabalho do rapper/cantor, escapar da armadilha de harmonias etéreas e versos pueris ressaltados em Nobody Hangs Out Anymore ou GUTS é uma tarefa quase impossível. São mais de cinco décadas de referências disformes, opositoras, mas que dialogam de forma segura até o encerramento da obra, sempre amarradas pela lírica sensível, pós-adolescente e particular de O’Connor.

Outro elemento fundamental para o crescimento e equilíbrio de toda a obra são os sintetizadores. Da introdução ambiental que abre o trabalho até o último segundo de SURVIVE, arranjos empoeirados, por vezes íntimos da década de 1980, criam o alicerce para que a voz de O’Connor passeie livremente. Difícil não lembrar do trabalho de Ariel Pink e John Maus, referências que crescem e desaparecem a cada nova curva do trabalho, tão íntimo do Hip-Hop como da psicodelia nostálgica que orienta grande parte do cenário alternativo estadunidense.

Por vezes íntimo da cena e conceitos assinados pelo coletivo Odd Future em Los Angeles, O∆ sobrevive como uma verdadeira coleção de ideias. É difícil estabelecer com exatidão onde começam as referências de O’Connor e cresce a real identidade do jovem do artista, passeando em um continuo ziguezaguear de interferências, sons e tormentos tão particulares, quanto íntimos de qualquer indivíduo.

O∆ (2015, Independente)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Frank Ocean, King Krule e Earl Sweatshirt
Ouça: OATMEAL, GUTS e Nobody Hangs Out Anymore

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.