Disco: “Lonely At The Top”, Lukid

/ Por: Cleber Facchi 27/11/2012

Lukid
Electronic/IDM/Experimental
http://lukid.tumblr.com/

Por: Fernanda Blammer

Existe algo de meticuloso e ao mesmo tempo rústico no trabalho de Luke Blair. Grande responsável pelos experimentos volumosos que passeiam no interior de cada faixa relacionada ao projeto Lukid, Blair se divide constantemente entre a sonoridade minimalista dos pontos eletrônicos que decidem cada rumo dos álbuns, e as bases de enquadramento denso, quase intransponíveis. Não diferente é a formatação dada ao recente Lonely At The Top (2012, Werk), mais novo lançamento do produtor britânico e uma constante divisão entre a delicadeza das formas e os acréscimos opacos que se acumulam de maneira ruidosa faixa após faixa.

Não estranhe se em diversos momentos você se sentir dentro de qualquer trabalho do também inglês Darren Cunningham – produtor nos comandos do Actress. De fato parceiros e interessados em uma mesma proposta instrumental, Cunningham e Blair dividem em suas recentes obras o fascínio pela música eletrônica abordada no decorrer da década de 1990. Enquanto o primeiro parece interessado em se aventurar abertamente pelo que há de mais ambiental no mesmo gênero, firmando o que parece ser um encontro sombrio entre Aphex Twin e Boards Of Canada, o segundo busca outro resultado, conversando durante todo o tempo do álbum com o Hip-Hop.

Ainda que íntimo do gênero, não espere pelas rimas ou batidas de delineamentos firmes tão convencionais dentro da proposta do estilo. Tal qual a sonoridade trabalhada dentro da cena Beat norte-americana, Lukid brinca com os conceitos do hip-hop de maneira a garantir sustento e inventividade ao trabalho, se apropriando das mesmas métricas de forma peculiar e sempre atmosférica. Como se montasse as bases esperando pela chegada dos versos, Blair garante pouco mais de 40 minutos de composições que se sobrepõe de forma dinâmica, transformando a instrumentação por vezes complexa do álbum em uma soma de encaixes constantes.

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Além da forte similaridade com os inventos do Actress, em Lonely At The Top Lukid estabelece uma curiosa relação com a mesma proposta atribuída aos lançamentos do californiano Flying Lotus, não apenas no recente Until the Quiet Comes, mas em toda a discografia assinada por Steven Ellison. Contudo, se a medida intensa incorporada pelo norte-americano fundamenta um ritmo próprio aos trabalhos por ele apresentados, Blair parece encontrar também sua fórmula instrumental particular. Dentro dessa proposta de tempo, dinâmica e estrutura musical específica, o produtor inglês deixa fluir o real significado do novo álbum.

Por diversas vezes tudo parece se movimentar como um imenso bloco de som. Cada faixa determina o que se materializa como um complemento para a canção seguinte, convertendo o disco em uma obra única e de ritmo curioso. Sem jamais exagerar na composição das batidas, vozes e samples, Lukid garante a formação de um álbum que se estende atrativo, sem jamais diminuir as atenções do ouvinte. Cada mínima fração do disco vem tomada pelo detalhe, com o produtor sendo capaz de esconder em cada canto do registro uma pequena surpresa ao espectador.

Mesmo desprovido de qualquer apelo comercial, Lonely At The Top consegue sem grandes esforços prender o espectador dentro da funcionalidade hipnótica de cada composição que reside dentro dele. Capaz de romper com as repetições naturais de um trabalho do gênero, a exemplo do que promove Flying Lotus e Actress no decorrer dos registros mais recentes de suas carreiras, Lukid converte a eletrônica de acordo com as próprias necessidades, solucionando a criação de um álbum rico em detalhes, do qual é difícil escapar.

Lonely At The Top (2012, Werk)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Actress, Teebs e Flying Lotus
Ouça: USSR, The Life Of The Mind e Riquelme

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.