Disco: “Long.Live.A$ap”, A$ap Rocky

/ Por: Cleber Facchi 15/01/2013

A$ap Rocky
Hip-Hop/Rap/Alternative
https://www.facebook.com/asaprocky

 

Por: Cleber Facchi

A$ap Rocky

Lana Del Rey não poderia ter escolhido um parceiro mais adequado do que A$ap Rocky quando deu vida ao clipe de National Anthem no último ano. De fato, o colaborador nova-iorquino (que interpreta John F. Kennedy no vídeo da canção) parece flutuar dentro do mesmo universo de excessos, exageros nacionalistas e até da mesma sonoridade que tanto define o trabalho da cantora. É como se ao transitar musicalmente por batidas sempre carregadas pela densidade, além do louvor constante à bandeira dos Estados Unidos, o rapper alcançasse o mesmo panorama conceitual que caracteriza (por vezes de maneira negativa) a carreira recente de Del Rey, invertendo as cores desgastadas por filtros vintage pela “simplicidade” (ou seria crueza?) em Preto e Branco.

De posse do primeiro registro oficial, Long.Live.A$ap (2013, Polo Grounds/RCA), o norte-americano expande ainda mais as preferências assumidas há dois anos, bem como a própria relação com Del Rey, substitindo o clima caseiro da mixtape LiveLoveA$AP (2011) pela impecabilidade de uma grande produção. Ainda que parte essencial da melancolia contemporânea que se encontrava no decorrer da obra seja posta de lado, a transposição do rapper para o campo cercado pelos holofotes se faz de maneira segura. A exemplo de Frank Ocean, Death Grips e outros nomes de destaque que brilharam no hip-hop/R&B do último ano, Rocky abraça de forma confessa o mainstream sem em nenhum momento se afastar das climatizações artesanais que o acompanhavam quando independente.

Provavelmente a mais nítida transformação entre os primeiros lançamentos e a atual fase do rapper está na incorporação de um som mais abrangente. Por mais ricas e experimentais as texturas incrementadas por Clams Casino na mixtape de 2011, além dos outros produtores que mantiveram a mesma fórmula, a excessiva aproximação entre as músicas parecia limitar a atuação de A$ap. Um registro de versos naturalmente ricos, mas de sonoridade hermética. Agora acompanhado de um novo time de produtores (incluindo Danger Mouse, T-Minus e até um Clams Casino menos sombrio), Rocky alimenta a própria obra com um resultado que ultrapassa limites prévios e o amadurece de maneira natural não apenas para o presente disco, mas para os próximos que pode vir a aprimorar.


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Parte fundamental do que tira A$ap da zona de conforto previamente estabelecida está na busca por uma sonoridade mais acessível e menos acinzentada, resultado que se consolida em uma série de parcerias espalhadas pela obra. Além da já tradicional colaboração com uma variedade de representantes do hip-hop contemporâneo – incluindo os badalados Kendrick Lamar, Danny Brown e Schoolboy Q -, o entrelace musical com representantes de outras frentes musicais apresentam o rapper a um novo público, servindo como um incentivo para transitar por uma nova sonoridade. É o caso do inusitado (e curiosamente bem estabelecido) encontro com Skrillex em Wild for the Night ou mesmo Hell, colaboração com Santigold que renova a atuação de ambos.

A interação com outros nomes da música pop, entretanto, está longe de ser o único ponto de transformação na presente obra do artista. Mesmo “sozinho”, A$ap torna clara sua evolução, marca que conduz de maneira competente o rap nostálgico da faixa Goldie ou nas pequenas doses de experimentação espalhadas em LVL. Contudo, é preciso notar que mesmo em busca de construir uma sonoridade mais “séria”, o rapper está longe de perder o bom humor e a fluência chapada que tanto identificou sua música há dois anos. Caso de PMW (All I Really Need), música que traz no refrão “Pussy, Money, Weed” um regresso à primeira mixtape bem como (mais) um traço de aproximação com a obra de Del Rey.

Livre dos questionamentos político-sociais de Killer Mike ou das narrativas urbanas que rechearam com acerto a obra de Kendrick Lamar no último ano, A$ap Rocky trilha um caminho de descompromisso, libertinagem e excessos assumidos. Uma visão particular (e por vezes até mesquinha) do panorama recente, mas que em nenhum momento se ausenta da realidade. Despreocupado em relação às questões sociais e caminhando por um terreno em que apenas a diversão, o sexo e uma boa tragada de maconha é o que realmente importam, A$ap talvez tenha criado um retrato muito mais honesto e íntimo do espectador do que tantos outros trabalhos de peso que surgiram nos últimos meses.

 

A$ap Rocky

Long.Live.A$ap (2013, Polo Grounds/RCA)


Nota: 8.3
Para quem gosta de: Schoolboy Q, Joey Bada$$ e Danny Brown
Ouça: Goldie, Long Live A$AP e Hell

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.