Disco: “Looking 4 Myself”, Usher

/ Por: Cleber Facchi 22/06/2012

Usher
R&B/Hip-Hop/Pop
http://usherworld.com/

Por: Cleber Facchi

Desde o final da década passada que o R&B vem conquistando um espaço cada vez maior dentro do cenário ou mesmo do próprio público alternativo. Da ascensão de grandes nomes do Hip-Hop como o canadense Drake, The Dream, Frank Ocean à valorização de novas (Janelle Monáe) e antigas (Beyoncé) musas, o Rhythm and Blues e os diálogos com a soul music estão em alta. Mais do que uma vertente da música negra, o estilo tratou de se apoderar de uma série de artistas vindos dos mais remotos cantos da música, algo que o primeiro disco do How To Dress Well, a estreia do The XX ou mesmo o ainda recente debut do britânico James Blake mostram com experimentos bem produzidos e que ampliam os limites do gênero.

Entretanto, mesmo em meio a tantas novidades, estranho notar certo desmerecimento por conta do que já é produzido na música pop e no meio comercial há mais de 15 anos, algo que a centena de outros nomes, vozes e representantes trataram de incorporar de forma também competente e criativa. Melhor exemplo de que bons frutos podem ser encontrados na música pop está em Looking 4 Myself (2012, RCA), sétimo registro em estúdio e mais novo lançamento do cantor Usher, figura que há mais de duas décadas vem participando ativamente do cenário musical, assumindo posições de destaque nas paradas de sucesso ou mesmo revelando novos artistas ao meio.

Grande responsável pelo “fenômeno” Justin Bieber, Usher Terry Raymond IV transforma o novo álbum em uma espécie de recomeço, aproveitando de alguns conceitos testados por ele desde o começo dos anos 2000, mas aqui reformulados, mais plásticos e bem planejados nas mãos de uma série de influentes produtores. Intencionalmente vendável e pronto para atrair o grande público, o registro explode em hits a todo o momento, batidas bem articuladas, samples coesos, letras que passeiam por diversos rumos e principalmente: Looking 4 Myself é um disco que esbanja sexualidade.

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Por mais que as batidas lânguidas concedidas ao estilo já garantam a climatização essencial para qualquer aproximação ousada, Usher utiliza da temática para guiar boa parte do disco e mais especificamente uma canção: Climax. Facilmente uma das melhores músicas do ano – se não a melhor –, a faixa produzida de forma cuidadosa pelo experiente Diplo mescla uma soma de acertos de forma a brincar com a sexualidade, o romantismo e a separação de maneira que mesmo Drake, The Weeknd ou outros grandes do meio ainda não conseguiram alcançar. Inteligente e hipnótica, a música atinge o mesmo patamar que What Goes Around de Justin Timberlake ou outros grandes achados do gênero, com a diferença de que com a canção montada pela dupla Diplo-Usher o orgasmo parece ainda mais intenso, real e duradouro.

A boa formatação da faixa ou de outras canções do registro, entretanto, não conseguem evitar que ele caia em velhos erros típicos de grande parte dos discos do gênero – sejam eles simples ou influentes trabalhos: os excessos. Com exatos 56 minutos e 48 segundos de duração (em edição normal), Looking 4 Myself perde a chance de revelar um trabalho rápido e assertivo para gerar algumas composições menos competentes e outras faixas visivelmente desnecessárias. Se durante a primeira metade do trabalho o álbum segue de forma segura, amarrando composições louváveis e dignas de competir com os novos gigantes do meio, quanto mais o álbum cresce, maiores são as chances de Usher perder o controle do trabalho. Mesmo que I Care For U ou Show Me consigam fisgar o ouvinte, a reciprocidade não se mantém no restante do álbum, que esbarra em erros bem visíveis como Sins Of My Father ou Dive.

Quanto mais o registro se desenvolve, mais os pequenos erros se acumulam e Usher perde a oportunidade de lançar o que poderia ser um clássico, não apenas dentro do R&B, mas de todos os estágios da música. Ainda pop e tão comercial quanto os trabalhos anteriores, o que diferencia Looking 4 Myself de alguns velhos registros é a capacidade de norte-americano de nos prender e seduzir a cada nova faixa – mesmo que em alguns momentos isso se perca bruscamente. Por mais que o disco esteja aquém de obras como House of Balloons ou FutureSex/LoveSound, o resultado final se mantém, com toda a certeza, como o melhor desempenho da carreira de Usher. Todavia, bem que ele poderia ter ido um pouco mais longe, tirado logo a roupa e não ficado apenas na conversinha.

Looking 4 Myself (2012, RCA)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Drake, The Weeknd e Frank Ocean
Ouça: Climax, Show Me e I Care For U

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.