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Críticas

The War On Drugs

: "Lost in the Dream"

Ano: 2014

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Alternativo

Para quem gosta de: Kurt Vile, Real Estate

Ouça: Red Eyes, Under The Pressure

8.8
8.8

Disco: “Lost in the Dream”, The War On Drugs

Ano: 2014

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Alternativo

Para quem gosta de: Kurt Vile, Real Estate

Ouça: Red Eyes, Under The Pressure

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2014

As melodias aprimoradas que abasteceram Future Weather EP (2010) e Slave Ambient (2011) são apenas ensaios perante o catálogo de possibilidades anunciadas com o novo álbum do The War On Drugs. Intitulado Lost in the Dream (2014, Secretly Canadian), o terceiro registro em estúdio da banda de Philadelphia, Pennsylvania, vai além das melodias detalhistas assinadas por Adam Granduciel – letrista, compositor e grande mente aos comandos do projeto. Trata-se de uma obra em expansão, um terreno instrumental/lírico que busca revelar a própria essência da banda, mas que ainda mantém íntima a aproximação com os sons lançados há quatro ou cinco décadas por um arsenal de velhos artistas.

Muito mais abrangente e curioso do que o trabalho que o antecede, o novo álbum mostra que Granduciel assume na plena expansão dos instrumentos – guitarras, sintetizadores e bateria – um estágio de natural provocação. É como se toda a calmaria proclamada no disco de 2011 fosse posta em xeque, como se uma pedra fosse atirada no lago de emanações serenas, quase bucólicas, exaltadas pela banda. No meio desse conjunto de experiências onduladas, o Country esbarra na psicodelia, o Folk dança pelo Dream Pop e a mente do espectador, como as canções, flutua livremente.

Naturalmente particular – proposta que esculpe não apenas os temas do disco, mas a presença de Granduciel quanto mente única da obra -, Lost in the Dream aos poucos se manifesta como um passeio pela mente de seu criador. Ainda que sejam necessários os versos intimistas (e amargos) de Suffering, terceira faixa do disco, para perceber o grau de isolamento do trabalho, bastam os instantes iniciais de Under the Pressure para que o músico assuma toda a confissão triste que banha o álbum. Mais do que um registro corrompido pelas experiências erradas do amor, o presente disco é uma obra que encara a velhice, o isolamento e o próprio crescimento como uma preferência constante.

Assumindo uma série de conceitos lançados por Bruce Springsteen há três décadas – principalmente em álbuns como The River (1980) e Nebraska (1982) -, Granduciel encontra no novo disco marcas que exploram a efemeridade dos sentimentos. São composições como Red Eyes, An Ocean in Between the Waves e Eyes to the Wind que fundem a aquietação sentimental do músico com elementos típicos da natureza, tratamento que tinge o disco com uma atmosfera constante de despedida e natural liberdade. Faixas que seguem a melancolia da estrada ou encontram no isolamento de um dia chuvoso a base para o existencialismo que se apoderem da obra. Mais do que sofrer, Lost In The Dream é uma obra que busca interpretar as percepções humanas.

Tendo na obra de Springsteen uma ponte para a década de 1980, Granduciel mergulha no período em um estágio de plena atenção poucas vezes observado em obras do gênero. Assim como o também nostálgico Atlas (2013), novo álbum do Real Estate, a presente obra do The War On Drugs passeia pelas melodias empoeiradas de bandas como R.E.M. em um estágio de reformulação de velhos conceitos. Sobram apropriações da obra de Neil Young (na faixa título), flertes que esbarram na obra de Bob Dylan (em In Reverse) e uma série de conceitos que lembram a obra recente de Kurt Vile, ex-integrante e velho colaborado da banda.

Ao mesmo tempo em que provoca o cenário pacato do registro anterior – evidencia exposta logo na inaugural Under the Pressure -, Granduciel finaliza o disco como uma obra ampla e sempre concisa. Nada é exposto de forma gratuita no decorrer do álbum, pelo contrário, cada música cresce como um estímulo autentico para a canção seguinte. Um tratamento que transpassa as guitarras abrangentes de Red Eyes, encontra a calmaria em Suffering e finaliza o disco em In Reverse como um bloco único de percepções.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.