Disco: “Lousy with Sylvianbriar”, Of Montreal

/ Por: Cleber Facchi 30/10/2013

Of Montreal
Indie/Alternative/Indie Pop
http://www.ofmontreal.net/

Por: Fernanda Blammer

Of Montreal

Só quem já atravessou a extensa discografia do Of Montreal – pelo menos algumas vezes – sabe o quanto a banda norte-americana parece longe de privar o ouvinte da inovação. Dono de um catálogo crescente de obras que se dividem abertamente entre a psicodelia e o pop, o grupo comandado pelo excêntrico Kevin Barnes alcança o 12º registro em estúdio em um ambiente tão ponderado e detalhista que inicialmente assustam. Entretanto, oculto pelo jogo tímido de violões e vocalizações brandas, Lousy with Sylvianbriar (2013, Polyvinyl) entrega ao público um trabalho tão abrangente, quanto qualquer obra prévia da banda.

Longe dos pequenos exageros que acompanharam o grupo no último ano, com Paralytic Stalks, o presente disco encontra na essência da década de 1960 toda a base para a movimentação do grupo. O que antes era encarado em um efeito explícito de agitação, resultado da arquitetura festiva que orienta a banda desde o lançamento da obra-prima Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (2007), hoje desacelera e aposta no recolhimento. São 11 composições envolvidas de forma leve por pequenas lembranças e sons pontuados pela timidez. Um misto de controle e, ainda assim, invenção que se mantém constante até o último segundo.

Assumidamente ponderado, o novo disco mantém da faixa de abertura, Fugitive Air, ao encerramento, Imbecile Rages, um reforço uniforme que há tempos não alimentava os trabalhos da banda. São canções envolvidas por um comprometimento melancólico, como se as histórias antes fantásticas entoadas por Barnes agora mergulhassem na tristeza. Basta observar a formação – lírica e instrumental – de Amphibian Days e Obsidian Currents para perceber qual o propósito do disco. Mesmo nos primeiros discos da banda, quando a busca por uma sonoridade particular era explícita, nunca antes o Of Montreal assumiu um projeto tão ameno, quase intimista.

Muito do que concede beleza ao desenvolvimento do registro está no aproveitamento natural das vozes. Longe de ser encarado como “personagem” principal do disco, Barnes aparece cercado a todo momento por coro de vozes substanciais, encorpando as faixas. Enquanto músicas como Triumph of Disintegration trazem de volta toda a estrutura vocal exposta nos discos passados, outras como Raindrop in My Skull assumem um efeito complementar. É como se o agrupado colorido de vozes fosse misturado lentamente aos instrumentos, resultando em um exercício acolhedor, inexistente no fluxo efusivo dos últimos lançamentos do grupo.

Mesmo que as vozes exerçam um efeito de orquestração para a obra, os instrumentos em nenhum momento ficam para trás nessa estrutura. Como se estivessem circundando as vocalizações em coro, uma carga de elementos acústicos flutuam suavemente por toda a cobertura do disco, confortando o ouvinte em um ambiente linear, previsível, mas nem por isso menos convincente. Contrapondo a própria calmaria, que em alguns momentos assume traços específicos dos Beatles em começo de carreira, o disco flerta com o alt. country, abraça o folk e sintetiza a estranheza natural do Of Montreal em um mundo novo.

Entretanto, por mais que a timidez opcional faça de Lousy with Sylvianbriar um trabalho simples e naturalmente ponderado, ainda há espaço para que sons de fluência ensolarada saltem livremente pelo disco. É o caso da faixa de abertura, Fugitive Air, das guitarras bem posicionadas em Hegira migr ou mesmo da crescente música de encerramento, Imbecile Rages, canções que aproximam o grupo de um cenário nostálgico, próximo do rock clássico da década de 1970 e ainda servem como recado: por trás da calmaria, o Of Montreal ainda reserva alguma surpresas.

 

Of Montreal

Lousy with Sylvianbriar (2013, Polyvinyl)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Islands, Belle and Sebastian e Dirty Projectors
Ouça: Obsidian Currents e Raindrop in My Skull

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.