Disco: “Love for Everyone Everywhere”, Boss Bass

/ Por: Cleber Facchi 05/08/2011

Boss Bass
Brazilian/Electronic/Dubstep
http://www.myspace.com/audio44

 

Por: Cleber Facchi

Enquanto lá fora o dubstep rompe seus limites com um público muito específico e setorizado, ganhando a atenção das massas através das principais publicações musicais, no Brasil o estilo ainda caminha a passos lentos. Desde que o gênero passou a se manifestar em território britânico no final dos anos 90 até o presente momento, quantos foram os artistas nacionais capazes de lançar algum bom trabalho ligado ao mesmo estilo? Buscando dar vazão ao mesmo tipo de som no país, o produtor carioca Allan Borges através do projeto Boss Bass lança agora seu primeiro disco, mostrando que em solo tupiniquim também podem brotar alguns bons trabalhos tomados de reverberações chapadas e batidas densas.

Produzido com visível esmero e construído de forma artesanal, Love for Everyone Everywhere (2011, Independente) traz para dentro de suas 13 faixas a mesma formatação que fez o estilo explodir nas pistas inglesas no começo do século, trançando referências ao dub, reggae e o ritmo urbano do 2-step. Chapado, mas sem se transformar em algo excessivamente solto, o álbum passeia tanto por momentos mais agressivos e repletos de batidas secas (Give More Bass), quanto por faixas tomadas de texturas esvoaçadas e uma constituição inteiramente despojada e livre (Lion Warrior), montando um registro que deve atender a todas as demandas do estilo.

Mesmo que em seus momentos mais suaves o trabalho se aproxime fortemente do que William Bevan desenvolve através do Burial (principalmente do homônimo álbum de 2006), condensando diversas camadas de som em poucos segundos das composições, muito do que movimenta a estreia do Boss Bass se mantém próximo do que o também britânico Zomby desenvolve. O uso constante de sirenes, batidas aceleradas e a troca de vocais por efeitos percussivos de alguma forma aproximam o som do carioca daquilo que é proposto em Where Were U In ’92?, entretanto, distante da ode aos sons da década de 1990.

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Embora não seja um trabalho revolucionário Love for Everyone Everywhere acerta (e muito) em seu desenvolvimento. As predisposições ao reggae e ao dub, retratadas quase sempre de maneira direta e não esmiuçadas em mínimas frequências são os elementos que mais trazem destaque ao disco, evitando que algumas composições caiam em uma formatação excessivamente sintética e seca. Musical War, décima primeira canção do álbum é a que melhor evidencia isso, deliciando o ouvinte com ondas carregadas de texturas densas e um sampler integralmente voltado ao reggae ao fundo da base, tornando a canção vasta e impossível de ser evitada.

Em Lion Warrior (outra faixa que merece óbvio destaque), um visível casamento entre a tonalidade artificial do disco e suas emanações orgânicas, com Borges intercalando doses de batidas integralmente sintéticas com um necessário sampler de metais que ampliam os limites da composição. Claro que o disco não se vê livre de algumas músicas desnecessárias ou redundantes, a própria faixa que abre o trabalho, Black Market, com seus toques do 8-bit e sua projeção limitada não proporciona um tipo de abertura digna ao disco, servindo de forma muito mais útil se fosse posicionada próxima ao encerramento do álbum.

Por mais que algumas composições se baseiem de forma demasiada dentro de uma atmosfera instrumental e repletas de emanações básicas (alguns samplers de vocais não trariam problemas ao trabalho), Love for Everyone Everywhere em nada deixa a desejar muitos trabalhos lançados lá fora ao longo dos últimos meses. Faixas como Lo-Fi, Gangster Wobble, Never Stop Fighting, além das canções já mencionadas revelam uma produção desenvolvida de forma minuciosa e por alguém que realmente sabe com o que está lidando.

 

Love for Everyone Everywhere (2011, Independente)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Zomby, Africa Hitech e SBTRKT
Ouça: Lion Warrior e Musical War

 

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.