Disco: “Love Is Hell”, ^L_

/ Por: Cleber Facchi 03/02/2014

^L_
Experimental/Ambient/Electronic
https://soundcloud.com/luis-fernando-78

Por: Cleber Facchi

Luis Fernando

A eletrônica brasileira sempre foi encarada de forma particular em relação ao que ocupa o cenário estrangeiro. Seja durante o ápice do Drum’n’Bass, quando DJ Marky assumiu um posto de destaque, ou em 2007, quando Gui Boratto deu um passo seguro dentro no minimal techno com Chromophobia (2007), a instabilidade proposital de cada produtor fez do isolamento autoral um ponto de distinção aos exageros do cenário estrangeiro. Entretanto, nunca antes esse mesmo sentido de afastamento foi encarado de forma tão criativa dentro da música eletrônica quanto atualmente.

De um lado, a desconstrução do Hip-Hop Instrumental e demais ritmos urbanos dentro do cenário paulistano – posto bem representado por Sants, CERSV e todos os integrantes do selo Beatwise Records. No outro oposto, a esquizofrenia soturna que ocupa o selo 40% Foda/Maneiríssimo, ponto de encontro para nomes como DJ Guerrinha, seixlaK e demais criaturas “estranhas” que passeiam pelo coletivo. Há também o universo colorido da cena paranaense, morada de Jaloo, Gang do Eletro e outros habitantes da selva tropical que sustenta o Technobrega. Mas e onde encaixar o trabalho proclamado por ^L_?

Comandado pelo brasiliense Luis Fernando, o projeto é mais do que um mecanismo de comunicação com as diferentes fases da eletrônica nacional, mas um novo princípio de isolamento. Com a chegada de Love Is Hell (2014, Independente), primeira obra completa do produtor, quase quatro décadas de inventos eletrônicos são diluídos, reformulados e entregues dentro da linguagem particular/excêntrica do artista. Uma coleção de essências que brinca de Giorgio Moroder (Love – I’ll always cherish the original misconception I had of you), quer ser Aphex Twin (Every time I look at you I get a fierce desire to be lonesome), mas acaba mergulhando ainda mais no próprio enclausuramento autoral.

Sem o comprometimento em atender as exigências do público, Fernando cria um registro que praticamente desconstrói a EDM de forma a valorizar a experimentação. Cada música é um objeto isolado dentro da obra, o que autoriza o produtor a lidar com samples de Justin Timberlake (em My heart is a quasi-stellar radio source), sem necessariamente fugir da própria estranheza. Dessa forma, é possível encontrar desde colagens típicas do Drone (I was drunk when wrote to you), até canções que abraçam a House Music do começo dos anos 1990 (Gustavo Bill says my songs are bad vibe!). Um mosaico de referências tão instáveis, quanto coerentemente agrupadas.

Por diversas vezes íntimo do trabalho de artistas como Richard D. James, Boards Of Canada e Tim Hecker, Fernando consegue ir além de um mero registro emulado. Ainda que os rascunhos e experimentos aleatórios do disco se manifestem de forma evidente, o cuidado do produtor garante instantes de plena autenticidade. É o caso da singela Jesus loves you … when everyone thinks you’re an idiot, com um loop eletrônico cuidadosamente amarrado, ou mesmo a extensa <3, que ao longo de 11 minutos transporta o espectador para dentro dos universos e tendências que abastecem a obra do produtor.

Brincando com um conjunto de elementos sempre particulares – evidente nos títulos extensos e bem-humorados das faixas -, ^L_ converte o próprio enclausuramento em uma medida de sustento e crescimento para o disco. Como um passeio pelos fragmentos mentais do produtor, cada música transporta o ouvinte para um lugar diferente, prova de que Luis Fernando, ao menos por enquanto, parece longe de encontrar um ponto de conforto criativo dentro e atém mesmo da eletrônica nacional.

 

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Love Is Hell (2014, Independente)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: DJ Guerrinha, seixlaK e Aphex Twin
Ouça: Do not blame me for sinister aspect…, <3 e Gustavo Bill says my songs are bad vibe!

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.