Disco: “Love Sign”, Free Energy

/ Por: Cleber Facchi 17/01/2013

Free Energy
Indie Rock/Power Pop/Rock
http://www.freeenergymusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Free Energy

Quando lançou o famigerado Álbum Verde em maio de 2001, Rivers Cuomo separava de maneira bastante nítida a carreira do Weezer em dois diferentes eixos. Era uma espécie de despedida das confissões esquizofrênicas do músico, elemento que tanto motivou os dois primeiros álbuns da banda – Weezer (1994) e Pinkerton (1996) – bem como a busca por uma sonoridade mais pop, fácil e ambiciosamente humorada. Um adeus ao espírito mezzo pós-adolescente, mezzo existencialista que executava uma espécie de trilha sonora alternativa para o clássico Curtindo a Vida Adoidado em troca de um som escrachado e que mais lembrava o universo pseudo-cômico de American Pie.

Daquele ponto em diante a banda daria conta de um som cada vez menos inspirado, se dividindo em momentos de confusão exagerada que pareciam lidar com a ironia, quando na verdade se tratava de um verdadeiro desgaste lírico e musical. Curioso que ao lançar Stuck on Nothing em 2010, os compatriotas do Free Energy dariam continuidade quase exata ao que Cuomo parecia buscar no começo do novo milênio. Recheado pelo bom humor, mas sem abandonar a boa formatação das letras e principalmente das melodias, o grupo da Filadélfia deu vida ao verdadeiro propósito do Álbum Verde, sendo a melhor alternativa para quem parecia cansado (e até envergonhado) do descaso do Weezer.

Mesmo que o furacão Bang Pop tenha ocultado parte importante do que representa o real trabalho do grupo norte-americano, a canção representa de maneira inteligente o bom humor e as melodias que direcionam toda a construção do disco. Com produção assinada por James Murphy (LCD Soundsystem), o disco ainda hoje funciona como uma sequência de resgates, não apenas da obra abandonada por Rivers Cuomo, mas do próprio Power Pop descompromissado da década de 1960, além de um toque trash-cult do mesmo espírito jovial dos anos 1980. Se o Weezer era a representação musical de Ferris Bueller (que depois se perverteu), então o Free Energy (movido pela comicidade) já nasceu como Porky’s.

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Todavia, o que parecia ser o nascimento de um promissor exemplar do novo rock alternativo, cai por terra com a chegada do recém-lançado Love Sign (2013, Free People). Segundo registro em estúdio da banda comandada por Scott Wells e Paul Sprangers, o novo álbum não é apenas uma cópia exata (e piorada) do trabalho anterior, como um registro tão fraco que resgata a mesma repetição “cômica” do Weezer depois do lançamento de Raditude (2009). Buscando a todo o custo passear pelas mesmas referências sonoras que a banda tratou de assinar há três anos, o presente trabalho se fecha em torno de um conjunto plástico de rimas pobres, excessos constrangedores e exaltações que parecem pensadas no visual, como se o disco fosse uma sucessão de clipes engraçadinhos.

Diferente do bom humor descompromissado de outrora, com Love Sign a banda parte em busca de “inventos” que de tão repetitivos soam como estar preso em um mundo onde tudo se resolve com a velha “piada do pavê”. Brincando de soar adolescente de maneira que constrange, a banda deixa escorrer composições aos moldes de Girls Want Rock, Hangin e Dance All Night, faixas que remetem a um universo de outras composições (melhores, óbvio), mas que tentam a todo o custo se passar por novas. Cada verso é previsível, todo riff é cercado pelo clichê e a cada instante do álbum regressa a banda a um estágio embrionário tão monótono e pretensioso quanto uma banda de pré-adolescentes que acreditam ser a “Salvação do Rock”.

Provavelmente os desavisados que deixaram passar uma audição completa de Stuck on Nothing acabarão encantados pelas melodias acessíveis e os versos cantaroláveis que se escondem pelo disco, entretanto, não é necessário muito esforço para perceber que tudo não passa de uma colagem de referências já desgastadas – inclusive algumas previamente assinadas pela própria banda. Mesmo nos raros momentos de acerto do álbum, como na divertida Street Survivor, os excessos que preenchem o registro afogam o ouvinte em um oceano de exageros, transformando o disco em um trabalho tão exageradamente feliz e artificial, quanto um figurante em um capítulo aleatório de Malhação.

 

Free Energy

Love Sign (2013, Free People)


Nota: 1.5
Para quem gosta de: Weezer, American Pie e trilha sonora de Malhação
Ouça: Street Survivor

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.